Quando Viviane sussurrou a verdade para mim com um sorriso vitorioso - que seu falecido marido era estéril e que ela havia drogado Dante para forjar a data da concepção -, corri para contar a ele.
"Ela está mentindo sobre o bebê, Dante! Arthur era estéril!"
Mas ele não acreditou em mim.
"Chega desse seu ciúme doentio, Estela", ele rugiu, protegendo-a. "Você vai respeitar a mãe do meu legado."
Para provar minha submissão, ele me forçou a levá-la para comprar o vestido de noiva.
Quando uma pesada arara de ferro tombou na butique, Dante se moveu com uma velocidade desumana.
Ele mergulhou para proteger Viviane, envolvendo-a num casulo seguro.
E me deixou ali. Sozinha.
O metal despencou, esmagando minhas costelas e me prendendo no chão.
Enquanto eu lutava por ar, o gosto de sangue invadindo minha boca, eu o vi carregá-la para fora sem olhar para trás uma única vez.
Acordei no hospital ao som dele a consolando no quarto ao lado.
Ele nem sequer perguntou se eu havia sobrevivido.
Naquela noite, eu não chorei.
Arranquei o acesso intravenoso do meu braço, triturei cada foto nossa na cobertura e embarquei num avião para um território neutro, onde o poder do Don não significava nada.
Quando ele encontrou o anel de noivado que eu deixei no lixo, eu já estava longe.
Capítulo 1
No momento em que Dante me empurrou para o lado para segurar Viviane antes que ela atingisse o chão de mármore, eu soube que o destino do qual eu vinha fugindo por oito anos finalmente me alcançara.
Ele não apenas a segurou.
Ele a aninhou em seus braços como se ela fosse feita de cristal e o resto do mundo fosse feito de martelos.
Dante Moraes era o Don do Sindicato, um homem que podia silenciar uma testemunha com um único telefonema e enterrar uma facção rival antes do café da manhã. No entanto, ali estava ele, com as mãos trêmulas enquanto segurava a viúva de seu irmão.
"Peguem o carro!", ele rugiu, sua voz quebrando o silêncio polido da festa de gala.
Dezenas de soldados armados materializaram-se das sombras, cercando-nos, mas Dante não olhou para mim.
Ele não verificou se o seu empurrão me derrubara sobre a bandeja de um garçom que passava, ou se o champanhe estava agora encharcando o vestido de seda esmeralda que ele me comprara no dia anterior.
"Dante", sussurrei, estendendo a mão.
"Agora não, Estela", ele retrucou, seus olhos selvagens e fixos nas mãos de Viviane, que agarravam sua barriga. "É o herdeiro. Se ela perder o filho de Arthur, o legado morre."
Então, ele me deu as costas.
Ele a carregou para fora do salão de festas, ladeado por homens com fones de ouvido e armas salientes sob seus smokings, deixando-me de pé numa poça de álcool derramado e humilhação.
Um soldado chamado Lucas parou na minha frente, bloqueando minha visão da saída.
"O Don ordenou que eu a levasse de volta para a Mansão, Srta. Estela", disse Lucas, com os olhos estranhamente fixos no chão. "Ele disse que explicará mais tarde."
"Explicar o quê?", perguntei, minha voz oca. "Que o fantasma do irmão morto dele importa mais do que a mulher viva bem aqui na frente dele?"
Lucas não respondeu. Ele não podia.
Saí do hotel, mas não entrei no SUV blindado que esperava para me levar de volta à minha jaula.
"Leve-me para a Rua Galvão Bueno, na Liberdade", eu disse ao motorista enquanto entrava num táxi que esperava.
"O Don disse a Mansão", argumentou o guarda-costas, aproximando-se do táxi.
"O Don está ocupado salvando a rainha", eu disse, minha voz fria e cortante como o gelo na bebida que eu acabara de derrubar. "Dirija."
Ele dirigiu.
Paramos em frente a uma agência de viagens discreta que cheirava a café velho e desespero.
Era uma fachada.
Todos no submundo sabiam que era ali que você ia quando precisava desaparecer sem deixar rastros digitais.
Entrei, meus saltos caros estalando ruidosamente no linóleo barato.
O atendente ergueu os olhos, viu a pulseira de diamantes da H.Stern no meu pulso e imediatamente endireitou a postura.
"Preciso de um visto e uma identidade limpa para Acrópolis", eu disse.
Acrópolis era território neutro. Sem famílias, sem rixas de sangue, sem Dante Moraes.
"Isso leva tempo", murmurou o atendente, seu olhar cobiçoso na pulseira.
"Quanto tempo?"
"Sete dias para o pacote premium. Não rastreável."
Sete dias.
Abri o fecho da pulseira - um presente de aniversário de Dante que valia mais do que aquele prédio inteiro - e a deslizei pelo balcão.
"Comece a contar", eu disse.
Quando voltei para a Mansão, a casa estava silenciosa como um túmulo.
Era uma fortaleza de mármore e ouro, um lugar onde passei oito anos escondida na cobertura enquanto Dante governava a cidade.
Entrei na sala de estar e vi as caixas.
Três cômodos cheios de bolsas da Hermès, joias da Cartier e vestidos de grife.
Eram subornos.
Toda vez que Dante tinha que levar Viviane a um evento público para "manter a imagem da família", ele voltava para casa com uma caixa de veludo para mim.
Olhei para a montanha de luxo e não senti nada além de um nojo profundo subindo pela minha garganta.
Comecei a pegar fotos da lareira - fotos nossas nas Maldivas, em Paris, nesta mesma sala - e as enfiei na fragmentadora ao lado da mesa dele.
A máquina zumbiu, devorando nossas memórias em tiras barulhentas e trituradas.
Pela janela, vi os faróis do comboio retornando.
Observei das sombras enquanto os soldados descarregavam caixotes de equipamentos médicos.
Então eu os vi.
Dante ajudou Viviane a sair do carro.
Ela andava bem agora, apoiando-se nele, a mão repousando possessivamente em seu peito.
Ele não se afastou.
Ele a conduziu pelos degraus da frente, passando pela ala de hóspedes, e direto para a Suíte Master.
Aquele era o meu quarto.
Aquele era o quarto que ele me prometera no dia em que Arthur morreu, o quarto que ele disse que compartilharíamos assim que o "período de transição" terminasse.
Abri minha porta e saí para o corredor no momento em que eles chegaram ao topo da escada.
Dante congelou quando me viu.
A culpa brilhou em seus olhos escuros, mas ele não soltou Viviane.
"Ela precisa da cama hospitalar", disse Dante, a voz rouca. "É pelo bebê, Estela. É só por alguns dias."
Viviane olhou para mim por cima do ombro dele.
Seu rosto estava pálido, mas seus lábios se curvaram num sorriso que não alcançou seus olhos.
"Estou tão exausta, Dante", ela sussurrou, apoiando todo o seu peso contra ele.
"Eu te seguro", ele murmurou.
Então, sem olhar para mim, ele abriu a porta da Suíte Master com um chute.
Ele a levou para dentro - para o santuário que ele jurara ser nosso - e fechou a pesada porta de carvalho na minha cara.