Entrei e sentei-me de costas, forçada a observá-los enquanto o carro se afastava.
Dante passou a viagem inteira discutindo protocolos de segurança com Viviane.
"Dobrei a guarda no perímetro", ele disse, cobrindo a mão dela com a sua. "Ninguém chega perto de você."
Ele não olhou para mim uma única vez.
Chegamos à *Maison Noivas*, uma butique na Rua Oscar Freire que lavava mais dinheiro para o Sindicato do que ganhava vendendo vestidos.
A equipe se apressou para nos receber.
"Don Moraes", disse a gerente, curvando-se ligeiramente. "Temos a suíte privativa pronta."
Dante assentiu. "Mostre a Estela a coleção de noivas. O melhor que você tiver."
Ele ficou ao lado de Viviane, guiando-a para um sofá de veludo, agindo como seu cão de guarda pessoal enquanto eu era levada para as araras de seda branca.
Peguei um vestido ao acaso.
Era um corte sereia com mangas de renda. Lindo. Inútil.
Vesti-o no provador e saí para o pódio.
Dante ergueu os olhos do celular.
Por um segundo, a máscara caiu.
Ele me olhou com aquele desespero cru e faminto que me manteve presa por oito anos.
"Estela", ele suspirou, levantando-se. "Você está..."
"Eu quero experimentar", interrompeu Viviane.
O feitiço se quebrou.
Dante virou-se para ela, piscando como se acordasse de um transe. "O quê?"
"Eu nunca tive um casamento de verdade", disse Viviane, fazendo beicinho. "Arthur e eu fugimos para casar. Só quero ver como é. Só por um minuto."
Era um jogo de poder. Puro e simples.
"Viviane, esse é o vestido da Estela", disse Dante, mas sua voz carecia de convicção.
"Por favor, Dante?" Ela tocou a barriga. "Pelo bebê? Quero que ele sinta a mãe dele feliz."
Dante suspirou e olhou para mim.
"Estela, *Tesoro*", ele disse, usando o apelido que costumava fazer minhas pernas fraquejarem. "É só um vestido. Deixe-a ter este momento. Ela está com os hormônios à flor da pele."
Eu olhei para ele.
Olhei para o homem que deveria ser meu protetor.
"Pode pegar", eu disse.
Voltei para o provador, abri o zíper do vestido e o entreguei à atendente.
Alguns minutos depois, Viviane surgiu no vestido. Estava muito apertado, forçando as costuras, mas ela se pavoneava em frente ao espelho.
"Você pode fechar o zíper?", ela me perguntou, sorrindo com desdém no reflexo. "Meus braços estão tão doloridos."
Dante assentiu para mim. "Ajude-a, Estela. Não a deixe tropeçar."
Caminhei para trás dela.
Estendi a mão para o zíper.
"Você está ridícula", sussurrei para que apenas ela pudesse ouvir.
Os olhos de Viviane encontraram os meus no espelho.
"Eu pareço a Rainha", ela sussurrou de volta.
Então, ela estendeu a mão e agarrou a pesada arara de ferro de manequins ao nosso lado para fazer uma pose.
Ela a puxou com força, perdendo o equilíbrio.
"Dante!", ela gritou.
A arara, carregada com mais de vinte quilos de metal e tecido, tombou.
Dante se moveu com uma velocidade que não era humana.
Ele se lançou através da sala.
Ele não me alcançou.
Ele mergulhou em direção a Viviane, jogando-a para longe do metal em queda, protegendo seu corpo com o seu, envolvendo-a num casulo protetor.
A arara de ferro despencou.
Não atingiu o chão.
Atingiu a mim.
A barra de metal bateu no meu ombro e costelas com um estalo pavoroso.
Eu desabei, o peso me prendendo no chão de madeira.
Uma dor branca e quente explodiu no meu peito, roubando meu fôlego.
Fiquei ali nos escombros, ofegante, sentindo o gosto de cobre na boca.
Dante se levantou rapidamente, erguendo Viviane, verificando-a freneticamente em busca de arranhões.
"Você está ferida? Atingiu a barriga?", ele gritou.
"Estou com medo!", Viviane gemeu, enterrando o rosto no pescoço dele.
"Peguem o carro!", Dante gritou para seus homens. "Agora!"
Ele a pegou no colo e correu em direção à saída.
Ele não olhou para trás.
Ele não verificou a pilha de metal.
Ele não me viu deitada, quebrada no chão, observando suas costas desaparecerem através das portas de vidro.