A Câmara do Conselho era uma sala cavernosa cheia do cheiro de pergaminho velho e lobos mais velhos ainda. Os doze Anciãos estavam sentados ao redor de uma mesa circular de mogno. Eram os guardiões da tradição, homens que acreditavam que o lugar de uma fêmea era em silêncio e ao lado de seu Alfa.
Caminhei até o centro da sala. Não me curvei.
"Estou retirando formalmente minha aplicação para a cerimônia de união da Luna", disse, deslizando um envelope grosso pela madeira polida.
A sala explodiu em murmúrios. O Ancião Marcus, um homem com pelos grisalhos brotando das orelhas, bateu a mão na mesa.
"Você não pode retirar, criança. Os convites foram enviados. As alianças estão definidas. O Alfa Damien precisa de uma Luna para estabilizar a energia da alcateia."
"Então deixe-o se unir à mãe de seu filho", disse, minha voz firme. "Minha loba o recusa."
"Sua loba é fraca", zombou Marcus. "Todos sabem que seu espírito está danificado. Você tem sorte de Damien ainda honrar o acordo. Não seja ingrata."
Ingrata. A palavra tinha gosto de bile. Eu dera minha essência vital para salvar o Alfa deles, e eles me chamavam de ingrata.
"Não é um pedido", disse, girando nos calcanhares. "É uma notificação."
Saí antes que pudessem responder. Meu coração martelava contra as costelas, não de medo, mas da adrenalina do desafio.
Voltei para o prédio do apartamento. As portas do elevador se abriram no saguão, e meu estômago despencou.
Damien e Serafina estavam lá dentro.
Tinham voltado mais cedo das montanhas. Serafina estava radiante, a pele corada de saúde - ou talvez apenas a satisfação de se alimentar da energia do meu companheiro. Damien parecia relaxado, o braço draped protetoramente ao redor dos ombros dela.
"Isla", disse Damien, surpreso. Ele olhou para o meu terno preto. "Você parece... severa."
"Tive uma reunião", disse, entrando na caixa de metal. O ar instantaneamente se tornou sufocante.
O cheiro era avassalador. Era uma mistura espessa e enjoativa do ozônio de Damien e dos lírios de Serafina. Revestia minha língua. Minha loba interior, geralmente dócil, rosnou baixo na minha garganta.
"Sentimos sua falta no chalé", cantarolou Serafina, encostando a cabeça no bíceps de Damien. "Damien pegou um cervo em sua forma de lobo. Foi tão primitivo."
Encarei os números do andar mudando. 10... 11... 12...
"Você deveria vir jantar hoje à noite", acrescentou Serafina. "Para celebrar nosso retorno. O chef está fazendo Sopa de Folha-Coração."
Fiquei rígida. Folha-Coração era uma erva sagrada. Em nossa cultura, era usada para fortalecer o vínculo entre um par acasalado. Era um afrodisíaco, mas também um aglutinante espiritual.
"Tenho trabalho", disse.
"Bobagem", disse Damien, sua voz carregando aquele tom de comando. "Você parece pálida. Precisa de nutrição. Venha. É uma ordem."
Uma ordem. Ele estava usando sua autoridade Alfa para me forçar a brincar de família feliz.
Uma hora depois, sentei-me à longa mesa de jantar. O apartamento parecia estranho agora que minhas coisas haviam sumido, embora Damien não parecesse ter notado os livros faltando ou as prateleiras vazias ainda.
A empregada colocou uma tigela fumegante de sopa verde na minha frente. O cheiro era pungente.
"Coma", disse Damien, levando um pouco à boca. "Faz bem para o sangue."
Peguei minha colher. Minha mão tremia levemente. Forcei um gole.
A reação foi instantânea.
Assim que o líquido atingiu meu estômago, meu corpo se revoltou. Folha-Coração só nutria aqueles que estavam em um vínculo verdadeiro e aceito. Para um lobo cujo vínculo foi rejeitado ou quebrado, era veneno.
Engasguei. Cobri a boca com a mão, empurrando a cadeira para trás. O guincho da madeira contra o chão foi ensurdecedor.
"Isla?", perguntou Damien, franzindo a testa.
Corri para o banheiro de hóspedes. Caí de joelhos e vomitei, meu corpo expurgando a sopa violentamente. Parecia que eu estava vomitando brasas quentes.
Damien apareceu na porta. "Isla! O que há de errado?"
Dei descarga e me encostei nos azulejos frios, limpando a boca. "Eu te disse. Não estou com fome."
Ele se ajoelhou ao meu lado. Estendeu a mão para tocar minha testa, mas me esquivei.
"Você está rejeitando o nutriente", murmurou ele, confuso. "Isso só acontece se..." Ele parou. Não conseguia terminar o pensamento. Era impossível para ele conceber que nosso vínculo já estava morto.
"Estou apenas estressada", disse rouca. "O casamento."
"Sim", disse ele, visivelmente aliviado com a desculpa. "Nervosismo. Serafina também estava nervosa, antes de..." Ele parou, percebendo que estava comparando sua amante à sua companheira.
Meu bolso vibrou.
Levantei-me, trêmula. "Preciso descansar."
Caminhei até a varanda - minha varanda estéril e vazia. Atendi o telefone, mantendo a voz em um sussurro.
"O voo está confirmado?"
"Sim, Curandeira Isla", a voz da secretária da Guilda veio através da linha. "Amanhã, 15:00. Hangar privado."
"Bom", sussurrei. "A cerimônia está cancelada. Estou indo embora."
"Com quem você está falando?"
Girei. Damien estava parado bem atrás de mim. Sua audição de Alfa era aguçada; eu tinha sido descuidada.
Meu coração parou. Se ele soubesse que eu estava partindo, me trancaria na masmorra. Um Alfa nunca deixava sua propriedade escapar.
"Uma paciente", menti, minha frequência cardíaca disparando. "Ela está... em trabalho de parto. Complicações."
Damien estudou meu rosto. Seus olhos se estreitaram, me examinando em busca de engano. Ele cheirou o ar, sentindo o pico de medo no meu cheiro.
"Você está mentindo", disse ele suavemente. "Seu coração está acelerado."
"Porque você me assustou", retruquei, canalizando meu medo em raiva. "Chegando de mansinho como um predador."
Ele me encarou por um longo momento. Então, deu um passo para trás.
"Vá para a cama, Isla. Você está histérica. Discutiremos sua atitude pela manhã."
Ele se virou e voltou para dentro, para Serafina.
Soltei o ar, meus joelhos tremendo.
Quatro dias. Apenas quatro dias.