Do Ômega Rejeitado ao Lobo Branco Supremo
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Capítulo 2

Ponto de Vista: Elena

A dor da Cerimônia de Ruptura não era física. Era uma amputação espiritual.

Eu estava sentada no centro do escritório do Ancião, cercada por sálvia queimando e círculos de sal. O Ancião entoava na língua antiga, sua voz um zumbido baixo que vibrava contra minhas costelas.

Cada palavra que ele dizia parecia arrancar algo de dentro do meu peito, encontrando o fio dourado que conectava minha alma à de Caleb e puxando.

"Você, Elena da Alcateia Lua Negra, aceita o vazio eterno que vem com o rompimento do Vínculo Predestinado?", perguntou o Ancião, com os olhos tristes.

"Aceito", eu disse. Não hesitei. O vínculo já era uma forca; eu estava apenas cortando a corda.

"Que assim seja."

O Ancião desceu uma faca cerimonial de prata, cortando o ar entre nós.

Um grito rasgou minha garganta. A sensação era de que meu coração havia sido arrancado da caixa torácica sem anestesia.

Encolhi-me em posição fetal no tapete, ofegante, arranhando o assoalho. A conexão - aquele zumbido constante e de fundo da presença de Caleb, suas emoções, sua localização - desapareceu.

Silêncio. Um silêncio absoluto e aterrorizante.

Fiquei deitada lá por um longo tempo até que os tremores parassem. Quando me levantei, senti-me mais leve. E mais vazia.

Caminhei de volta para o meu quarto. Não era realmente um quarto. Costumava ser a Suíte da Luna, destinada à companheira de Caleb. Mas depois que falhei em me transformar aos dezoito anos, Lídia gradualmente tomou conta.

Agora, era um depósito glorificado cheio de velhos troféus de Lídia, casacos de inverno e caixas. Minha cama de campanha estava enfiada no canto.

Sentei no colchão fino e tirei uma pequena caixa de madeira debaixo da cama. Dentro havia uma foto minha aos dezoito anos, sorrindo, esperançosa, esperando meu lobo chegar. Isso foi antes da doença. Antes das "vitaminas" que Lídia me dava.

Meu celular vibrou no caixote que eu usava como mesa de cabeceira.

"Alô?", atendi.

"Sra. Elena? Aqui é da Criptas do Luar", disse uma voz profissional. "Estamos ligando sobre sua reserva. O pagamento do jazigo foi recusado."

Fechei os olhos. Até na morte, eu estava falida. Meus pais cortaram minha mesada anos atrás.

"Eu... entendo. Apenas cancele", disse suavemente. "Vou dar outro jeito."

"Tem certeza? A taxa de descarte do corpo ainda será aplicada se..."

A porta do meu quarto se abriu com um estrondo.

Caleb estava lá, o peito arfando. Ele parecia selvagem. A gravata estava desfeita, o cabelo bagunçado. Ele respirava com dificuldade, inalando profundamente, as narinas dilatadas.

"Onde está?", ele exigiu.

"Onde está o quê?", perguntei, sem me dar ao trabalho de levantar.

"O cheiro! O jasmim!" Ele deu um passo à frente, olhando ao redor do quarto apertado e empoeirado como se procurasse um intruso. "Simplesmente... parou. Por que não consigo sentir seu cheiro?"

O cheiro. A assinatura olfativa única de um companheiro. Agora que o vínculo fora cortado, para ele, eu cheiraria a nada mais do que um lobo comum. Ou, no meu caso, uma humana doente.

"Eu te disse, Caleb", falei, minha voz inexpressiva. "Eu rompi o vínculo."

Ele congelou. Ele olhou para mim, processando as palavras. Sua expressão não era mais apenas raiva; havia uma centelha de confusão genuína, como um homem que pisa fora da calçada e não encontra chão.

Então, seus olhos caíram no telefone em minha mão. Ele deve ter ouvido o final da conversa.

"Com quem você estava falando?", ele latiu.

"Uma funerária", respondi honestamente.

O rosto dele se contorceu de raiva. Ele arrancou o telefone da minha mão e o arremessou contra a parede. O aparelho se estilhaçou.

"Pare com isso!", ele gritou. As paredes tremeram. "Pare de tentar me manipular com esse lixo suicida! Acha que comprar um túmulo vai me fazer ter pena de você? Isso me faz te odiar ainda mais!"

Ele agarrou meus ombros e me levantou. "Você está amaldiçoando esta Alcateia com sua obsessão pela morte. Você é a Companheira do Alfa e vive em um armário, planejando seu próprio funeral como uma mártir."

"Eu não sou sua companheira", eu disse, encontrando seus olhos dourados furiosos. "Não mais."

"Você sempre será o que eu disser que é!", ele usou a Voz de Alfa novamente. "Ajoelhe-se!"

Meus joelhos bateram no chão com força. O comando ignorou meu cérebro e controlou meus músculos diretamente.

Olhei para ele do chão. Ele parecia poderoso, lindo e totalmente monstruoso.

"Você se lembra, Caleb?", perguntei baixinho. "Quando tínhamos dezoito anos. Você jurou à Deusa da Lua que me protegeria."

Ele zombou, olhando para mim com desprezo. "A Deusa da Lua comete erros. Ela juntou um leão com um rato. Você não serve para ser Luna. Você nem serve para ser um lobo."

As palavras dele deveriam ter doído. Mas a parte de mim que poderia ser ferida por ele estava morta.

"Você tem razão", eu disse. "Eu não sou Luna."

Ele bufou e se virou, saindo tempestuosamente do quarto. Ele bateu a porta com tanta força que poeira choveu do teto.

Fiquei no chão por um momento. Então, rastejei até meu telefone quebrado. A tela estava rachada, mas ainda funcionava.

Abri meu rascunho de e-mail. Era uma mensagem agendada, configurada para ser enviada em quarenta e oito horas.

Anexados estavam meus registros médicos, os registros do "remédio" que Lídia me dava e uma gravação que eu havia feito dos meus pais discutindo como tinham vergonha de mim.

Adicionei uma linha ao corpo do e-mail: *Parabéns, Caleb. Você está livre.*

            
            

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