Ponto de Vista: Caleb
A raiva era uma coisa viva dentro de mim. Ela arranhava meu peito, exigindo sangue. Ver Lídia no chão, ofegante, com a pele vermelha e irritada, acionou todos os instintos protetores que meu sangue Alfa possuía.
Mas, sob a raiva, havia outra coisa. Uma dor oca e incômoda.
Quando empurrei Elena, quando senti seu corpo frágil bater na parede, um choque de estática agonizante disparou pelos meus nervos. Parecia errado. Fisicamente errado. Como se eu tivesse me batido.
Olhei para minha mão, flexionando os dedos. Por que ela parecia tão... quebrável?
Olhei para Lídia, que agora respirava melhor depois que minha mãe aplicou uma pomada refrescante.
"Ela já foi?", Lídia choramingou.
"Ainda não", eu disse. Levantei-me e me virei para onde Elena tentava se erguer do chão.
Ela parecia um fantasma. Sua pele era translúcida, os olhos fundos. Ela segurava a lateral do corpo, e eu podia ouvir o chiado úmido em sua respiração.
Por que ela não se curava? Até um Ômega deveria curar uma costela machucada em uma hora. Ela estava "doente" há anos, mas hoje... ela parecia um cadáver ambulante.
"Caleb", ela chiou.
"Silêncio", ordenei. Mas minha voz não tinha o trovão habitual. Estava cansada.
Eu não podia tê-la aqui. A presença dela era veneno para a alcateia. Ela atacou Lídia. Ela interrompeu o banquete. Ela era mentalmente instável.
Vê-la assim... me fazia sentir um fracasso. E eu odiava me sentir um fracasso.
Eu tinha que fazer o que um Alfa deve fazer. Cortar o membro podre para salvar a árvore.
"Elena", eu disse, minha voz ecoando com todo o peso da Lei da Alcateia. "Eu, Caleb, Alfa da Alcateia Lua Negra, por meio deste, te bano."
A sala ficou em silêncio. O banimento para um lobo solitário e fraco era uma sentença de morte. Renegados eram caçados. Eles não tinham território, nem proteção.
Elena não chorou. Ela não implorou. Ela apenas assentiu lentamente, como se já esperasse por isso.
"Você não é mais da Alcateia", continuei, a magia antiga das palavras cortando os laços místicos finais que a prendiam à terra. "Saia agora. Se for encontrada dentro de nossas fronteiras ao pôr do sol, será tratada como uma invasora hostil."
"Entendido", ela disse.
Ela passou por mim. Ela não olhou para mim. Ela não olhou para os pais, que estavam perto da escada com os braços cruzados, parecendo aliviados.
Ela saiu pela porta da frente.
Um pânico súbito e irracional tomou conta de mim. *Pare-a*, meu lobo rosnou no fundo da minha mente. *Companheira. Companheira indo embora.*
*Ela não é nossa companheira*, argumentei de volta, cerrando os punhos. *Ela rompeu o vínculo. Ela é uma ameaça para Lídia.*
Eu a segui até a varanda. Eu precisava vê-la partir. Eu precisava ter certeza.
Elena desceu a longa entrada de automóveis. Ela alcançou os pilares de pedra que marcavam o limite das terras da alcateia. Ela parou.
Ela se virou. Por um segundo, pensei que ela pediria desculpas.
Em vez disso, ela olhou para o céu.
"Eu juro pela Lua", ela disse, sua voz carregada pelo vento. "Nunca olharei para trás. E pelo pecado de expulsar sua verdadeira Luna, que você encontre o que procura e perceba que são apenas cinzas."
Ela cruzou a linha.
*Estalo.*
Senti fisicamente. Não era o vínculo - esse já tinha ido. Era o Elo da Alcateia. A luz dela na teia mental se apagou completamente.
Meus joelhos cederam. Agarrei o corrimão da varanda para me firmar. Meu peito parecia ter sido escavado com uma colher.
"Caleb?", Lídia chamou de dentro. "Minha garganta dói de novo."
Cerrei os dentes, empurrando para baixo a sensação avassaladora de perda. "Estou indo, Lídia."
Virei as costas para a floresta. Mas minha mão, agarrando o corrimão, apertou até a madeira lascar.