Verifiquei meu telefone descartável uma última vez. O e-mail havia sido enviado. A verdade estava lá fora, viajando pelo éter digital até o Conselho da Alcateia.
*Adeus, Caleb*, pensei, embora o Elo Mental estivesse morto. *Espero que o silêncio te assombre.*
Vi a luz amarela e quente da Lanchonete da Rosa através das árvores. Estava fechada para a noite, mas Rosa nunca dormia realmente. Ela era uma velha curandeira Renegada, uma mulher que tinha visto demais da política da alcateia e escolheu a vida tranquila de fritar ovos e preparar chás de ervas.
Tropecei nos degraus dos fundos. Minha visão estava afunilando, pontos pretos dançando nas bordas.
Bati na porta. Foi um som fraco, mal um arranhão na madeira.
A porta se abriu instantaneamente. Rosa estava lá, uma espingarda em uma mão, um pano de prato na outra. Seus olhos se arregalaram quando me viu.
"Criança", ela suspirou. Ela não fez perguntas. Ela não pediu dinheiro. Ela largou a arma e me pegou no colo.
Os braços dela eram fortes. Ela cheirava a sálvia, tomilho e papel velho. Foi a primeira vez em anos que fui segurada sem malícia.
Ela me carregou para o quarto dos fundos, deitando-me em uma cama de campanha perto do fogão a lenha.
"O veneno", ela murmurou, pressionando a mão na minha testa. "Fez o seu trabalho. Você está fria como gelo, Elena."
"Eu sei", sussurrei. Minha voz era um gorgolejo úmido. "Só... fique? Por favor?"
"Não vou a lugar nenhum", disse Rosa. Ela pegou uma bacia com água morna e um pano. Começou a limpar suavemente o sangue e a sujeira do meu rosto. "Descanse agora. A Deusa da Lua está esperando."
Olhei pela janela. A lua estava cheia, um olho gigante e imóvel.
De repente, uma onda de paz me invadiu. A dor nos meus ossos desapareceu. O fogo nas minhas veias se extinguiu.
*É isso?*, me perguntei.
Respirei fundo, mas o ar não desceu até o fim. Meu coração deu uma última batida pesada contra minhas costelas.
*Tum.*
E então, o nada.
*
Ponto de Vista: Caleb
Eu estava sentado no escritório do Alfa, olhando para a papelada da patrulha de fronteira. As letras estavam nadando. Desde que Elena partiu, o silêncio na minha cabeça havia se transformado em um rugido ensurdecedor.
Um grito súbito e penetrante rasgou minha cabeça. Não foi um som; foi uma sensação. Parecia que algo vital havia se rompido dentro do meu peito, chicoteando e fatiando meu músculo cardíaco.
"Argh!", rugi, agarrando meu peito. Caí da cadeira, derrubando uma pesada mesa de carvalho.
"Alfa?", Beta João, pai de Elena, correu do corredor. "O que foi? Estamos sob ataque?"
Eu não conseguia respirar. Engasguei, arranhando minha camisa, rasgando os botões. A dor oca que estava lá desde a Cerimônia de Ruptura de repente se expandiu em um buraco negro. Não era mais apenas um espaço vazio. Era uma tumba.
Meu telefone vibrou no chão. Então o telefone de João vibrou. Então o telefone do Ancião do Conselho vibrou.
A vibração sincronizada era sinistra.
Alcancei meu telefone com a mão trêmula. Minha visão estava embaçada pela dor, mas vi a notificação.
*Remetente: Elena (Agendado)*
*Assunto: A Verdade.*
Toquei nele. Meus dedos pareciam dormentes.
"Não", sussurrei. A negação subiu na minha garganta como bile. "Não, não, não."
Tentei alcançar com o Elo Mental. *Elena! Responda!*
Silêncio.
Não o silêncio de um link bloqueado. Não o silêncio da distância.
Era o silêncio de um quarto vazio. O silêncio de um túmulo.
"Ela se foi", eu disse, minha voz falhando. "Minha companheira se foi."
Vomitei sangue no tapete.