Com o coração despedaçado, exigi publicamente a Cerimônia de Ruptura para quebrar nosso vínculo e saí para morrer sozinha em um motel barato.
Somente depois que dei meu último suspiro a verdade veio à tona.
Enviei a Caleb os registros médicos provando que Lídia envenenava meu chá com acônito há dez anos.
Ele enlouqueceu de dor, percebendo que havia protegido a assassina e rejeitado sua verdadeira companheira. Ele torturou Lídia, mas seu arrependimento não poderia me trazer de volta.
Ou assim ele pensava.
No além, a Deusa da Lua me mostrou meu reflexo. Eu não era uma fraca sem lobo.
Eu era uma Loba Branca, a mais rara e poderosa de todas, suprimida pelo veneno.
"Você pode ficar aqui em paz", disse a Deusa. "Ou pode voltar."
Olhei para a vida que roubaram de mim. Olhei para o poder que nunca pude usar.
"Eu quero voltar", eu disse. "Não pelo amor dele. Mas por vingança."
Abri meus olhos e, pela primeira vez na minha vida, minha loba rugiu.
Capítulo 1
Ponto de Vista: Elena
O lustre acima do salão de banquetes girava vertiginosamente, um caleidoscópio de cristal e luz que zombava da escuridão que se espalhava pelas minhas veias.
O ar estava sufocante, impregnado com o cheiro de carne assada, perfumes de grife e os feromônios pesados e almiscarados dos lobos.
Para qualquer outra pessoa, aquela era a celebração do ano - Lídia, a queridinha da alcateia, acabara de ser promovida a Guerreira de Elite.
Para mim, parecia um funeral.
Tossi, pressionando um guardanapo nos lábios. Quando o afastei, o linho branco estava manchado com pontos pretos.
Não era apenas sangue. Era a podridão.
"Você não tem muito tempo, Elena", sussurrou o Médico da Alcateia, inclinando-se sob o pretexto de verificar meu pulso.
Seus olhos eram frios, profissionais e totalmente comprados. Ele estava na folha de pagamento do meu pai, afinal.
"O acônito calcificou na sua medula. Sua Loba Interior... não consigo mais ouvi-la. Ela provavelmente já se foi."
Minha Loba Interior. O espírito que deveria me guiar, me proteger e me permitir transformar. Ela estava silenciosa há anos, suprimida pelo "remédio" que minha meia-irmã Lídia garantia que eu tomasse para minha "condição".
Olhei para o outro lado do salão.
Lá estava ele. Caleb.
Ele estava de pé, alto, com ombros largos em um smoking sob medida que não conseguia esconder o poder letal da besta Alfa sob sua pele.
Ele ria de algo que Lídia dizia, com a mão repousando possessivamente na curva das costas dela.
A visão me rasgou por dentro, uma dor pior do que qualquer ferida física.
Caleb era o Alfa da Alcateia Lua Negra. Ele era o lobo mais poderoso da região. E ele era meu Companheiro Predestinado.
A Deusa da Lua nos uniu, alma a alma. Mas ele não queria uma Ômega quebrada e sem lobo. Ele queria uma guerreira como Lídia.
Fechei os olhos e estendi minha mente, acessando o Elo Mental. Era a teia telepática que conectava cada membro da alcateia, um zumbido de vozes que eu geralmente bloqueava.
Foquei apenas nele.
*Caleb... por favor*, projetei, minha voz mental tremendo. *Preciso de ajuda. Dói. Acho que estou morrendo.*
Do outro lado da sala, Caleb ficou rígido. Sua risada cessou. Ele se virou, seus olhos travando nos meus.
Houve uma centelha de algo - preocupação? instinto? - antes de ser sufocada pela irritação.
*Pare com isso, Elena*, a voz dele explodiu na minha cabeça, fria e dura como granito. *Não estrague esta noite com suas mentiras para chamar atenção.*
*Não é mentira*, implorei, a dor no meu peito aumentando enquanto o vínculo entre nós vibrava com a rejeição dele. *O médico disse...*
*Eu disse silêncio!*
O comando mental me atingiu com força bruta. Ele não apenas falou; ele usou a Autoridade Alfa.
Era um peso psíquico que forçou minha cabeça para baixo, esmagando minha vontade. Mas a dor física nos meus pulmões era mais forte. Eu não conseguia segurar.
Curvei-me, tossindo violentamente. Um jato de sangue escuro atingiu a toalha de mesa branca imaculada, respingando no chão.
A música parou. A conversa morreu.
Caleb estava lá em um segundo. Não para ajudar, mas para pairar sobre mim como uma tempestade prestes a desabar.
"Você bebeu o vinho?", ele rosnou, sua voz ecoando no salão silencioso. "Você sabe que seu corpo humano fraco não aguenta álcool. Olhe para essa sujeira."
"É... veneno", eu chiado, olhando para ele. "Caleb, olhe para o sangue. É preto."
"É vinho tinto, sua dramática", ele cuspiu.
"Ah não, Elena!", Lídia apareceu ao lado dele, o rosto uma máscara de inocência preocupada perfeita. Ela agarrou o braço de Caleb. "Ela está fazendo isso de novo, Caleb. Ela está com ciúmes porque eu fui promovida. Ela sempre fica doente quando eu tenho sucesso."
*Tire-a daqui*, minha mãe, Sara, rosnou pelo Elo Mental. A voz dela era uma dor aguda no meu cérebro. *Levante-se e saia antes que eu te arraste pelos cabelos. Você está envergonhando a família.*
Olhei para Caleb. Meu companheiro. O homem que deveria me estimar acima de todos os outros.
Ele olhou para o sangue no chão, depois para seus sapatos polidos, que tinham uma única gota na ponta.
Nojo. Foi tudo o que vi.
"Se você vai morrer, Elena", disse Caleb, com a voz baixa e cruel, "faça isso em outro lugar. Não suje a minha Sede da Alcateia."
Algo dentro de mim se partiu. Não foi um osso. Foi o último fio de esperança ao qual eu me agarrava desde os dezoito anos.
A dor não parou, mas o medo desapareceu. Foi substituído por um entorpecimento frio e oco.
Limpei a boca com as costas da mão, manchando minha pele pálida com a toxina negra. Levantei-me. Minhas pernas tremiam, mas travei os joelhos.
"Você tem razão, Alfa", eu disse em voz alta. Minha voz estava rouca, mas ecoou. "Não vou mais sujar sua casa."
Virei meu olhar para o Grande Ancião, que estava sentado na mesa principal, observando a cena com uma carranca.
"Ancião", eu disse. "Eu quero a Ruptura."
Suspiros ondularam pela sala. A Cerimônia de Ruptura era um ritual antigo e agonizante para quebrar à força um Vínculo de Companheiros. Raramente era feito, e geralmente apenas quando um dos companheiros cometia um crime grave.
Os olhos de Caleb se arregalaram, depois se estreitaram em fendas. Ele agarrou meu braço, os dedos cravando na minha carne cheia de hematomas.
"Você acha que pode me ameaçar?", ele sibilou. "Acha que esse teatrinho vai me fazer importar? Você está blefando."
"Não estou blefando", sussurrei. "Estou indo embora."
"Então vá!", Caleb rugiu.
Ele me empurrou.
Tropecei para trás, perdendo o equilíbrio no chão escorregadio. Minha cabeça bateu contra o mármore.
"Saia!", ele usou a Voz de Alfa. "Role!"
Meu corpo obedeceu antes que minha mente pudesse processar. Arrastei-me para trás, humilhada, quebrada, enquanto Lídia sorria com escárnio por trás do ombro dele.
Levantei-me, balançando. Não olhei para ele. Olhei para a saída.
Minha Loba Interior soltou um último ganido lamentoso, um som de desespero absoluto, e então ficou em silêncio.
Desta vez, eu sabia que ela não estava apenas dormindo. Ela tinha ido embora.