Ponto de Vista da Clarice:
O castelo do Rei Serpente não era um buraco no chão.
Era uma fortaleza de pedra negra empoleirada em um penhasco com vista para o oceano revolto, escondida pela névoa. Por dentro, era uma catedral de sombras e luxo. Pisos de mármore aquecidos, tapeçarias com fios de ouro, o cheiro de ozônio e incenso.
*Era nossa noite de núpcias.*
Sentei na beira da cama enorme, os lençóis de seda preta frios contra minhas pernas. Meu coração martelava. Não de medo. De antecipação.
Draco entrou. Ele havia trocado o terno por um roupão de seda solto. Seu peito era magro, definido por músculos encordoados, a pele tão pálida que brilhava à luz de velas.
Ele parou, hesitando. O Rei arrogante parecia inseguro.
- Clarice - disse ele, com a voz áspera. - Você não precisa fazer isso. O Juramento me obriga a protegê-la, não... forçá-la. - Ele olhou para as mãos. - Eu não sou como a sua espécie. Minha temperatura corporal é baixa. Minha... anatomia é diferente. Não quero assustar você.
Eu me levantei. *O chão estava quente, mas eu buscava o frio.*
- Draco - eu disse. - Você acha que eu escolhi você apenas para escapar deles?
- Não escolheu?
- Não. - Coloquei minha mão sobre o coração dele. *Tum... tum...* Lento. Poderoso. - Eu escolhi você porque quando o mundo queimou, você foi o único que olhou para mim.
Deslizei minha mão pelo pescoço dele, entrelaçando os dedos em seu cabelo escuro. - Mostre-me. Mostre-me seu verdadeiro eu.
Draco estremeceu. Um silvo baixo escapou dele.
Ele me beijou. Sua boca era fria, com gosto de hortelã e perigo. *A faísca não era apenas física; era um raio atingindo a alma.*
Ele me levantou sem esforço. À medida que as roupas caíam, vi manchas de escamas iridescentes ao longo de suas costelas - uma armadura linda. E quando ele se moveu sobre mim, percebi que os rumores sobre a resistência das Serpentes eram subestimados severamente.
- Minha - ele rosnou, os olhos totalmente em fenda.
- Sua - eu arfei.
Ele não mordeu meu pescoço como um lobo. Ele pressionou a testa na minha, e senti sua energia - fria, escura, infinita - derramar em mim. Uma marcação espiritual mais profunda que dentes.
*Nós nos movemos juntos, fogo e gelo. Pela primeira vez em duas vidas, a febre ardente no meu sangue se acalmou em um ritmo perfeito e frio.*
*
Três meses depois.
A convocação chegou em um pergaminho pesado. Um banquete de "Celebração da Vida" na Alcateia Lua de Prata.
- Você não precisa ir - disse Draco, trançando meu cabelo.
- Eu quero - respondi, olhando meu reflexo radiante. Eu tinha ganhado um peso saudável. - Quero vê-la.
A Casa da Alcateia estava barulhenta. Lobos bebendo, festejando.
Bella estava sentada em um trono ao lado de Jacob.
*Ela estava imensa.*
- Clarice! - Bella chamou, com a voz estridente. Ela esfregou a barriga. Parecia que ela estava carregando uma bola medicinal. Impossível para três meses. - Que gentileza sua vir. Queria que você visse como é um verdadeiro herdeiro Alfa.
Ela sorriu com escárnio para minha barriga lisa.
- Ainda nada? - ela arrulhou. - Eu te disse. Cobras atiram festim. Ou talvez você seja apenas estéril. Como sempre.
Caminhei para mais perto, Draco uma sombra silenciosa ao meu lado. Farejei o ar.
Gravidezes de lobo cheiram a leite, terra.
*Bella cheirava a fruta podre e enxofre. E por baixo... produtos químicos.*
- Esse é um bebê muito grande, Bella - eu disse. - Tem certeza de que é... saudável?
- Claro que é! - Bella retrucou, os olhos correndo nervosamente. - É um menino forte. Sangue Alfa os faz crescer rápido! Você não entenderia.
- Crescimento rápido geralmente implica instabilidade - eu disse. - Ou aprimoramento externo.
Jacob bateu seu cálice na mesa. - Cuidado com a língua! Você está com inveja porque minha semente vingou e a da sua cobra não!
Draco deu um passo à frente. Ele olhou fixamente para o estômago de Bella.
- Isso não é um lobo - disse Draco. Sua voz cortou a sala como uma navalha.
- O quê? - Bella gritou.
- Ouço três batimentos cardíacos - disse Draco impassível. - Nenhum deles soa como um lobo.
Bella ficou branca, agarrando o estômago. - Saiam! Vocês estão tentando amaldiçoar meu bebê!
*Vi as mãos dela tremendo. Suas unhas estavam roídas até a carne. Ela sabia. Ela sabia que algo estava errado, mas estava afundada demais na mentira para parar.*
- Estamos indo embora - eu disse. - Mas Bella... não diga que não avisei.
Enquanto nos afastávamos, senti uma vibração no meu baixo ventre. Não um chute. Um redemoinho de energia.
Olhei para Draco. Ele estava sorrindo um sorriso secreto e cúmplice.
- Deixe-os ter o circo deles - ele sussurrou. - Nós temos nosso próprio milagre.