- Abra no seu aniversário - disse a ele, com um toque de aço na voz.
Ele colocou cuidadosamente a caixa sobre a lareira, ao lado de uma foto emoldurada nossa do casamento.
- Eu vou - prometeu, os olhos cheios de afeto. - Você me faz o homem mais feliz do mundo.
Ele pegou minha mão, me puxando em direção à porta.
- Vamos. O jantar nos espera.
Descemos para a garagem subterrânea. Lá estava ele. O carro "Alma Gêmea", brilhando sob as luzes fluorescentes, sua pintura rosa quase cegante. Sua traição final, agora estacionada em nossa casa.
- Quer dar uma volta com ela? - perguntou ele, os olhos praticamente saltando das órbitas de orgulho.
Caminhei lentamente ao redor do carro, minha respiração presa na garganta. A placa personalizada: "GIOVANA". Meu nome. Estampado no veículo de sua infidelidade. Meu corpo começou a tremer, um pavor frio penetrando em meus ossos. Vi o rosto de Karina, seu sorriso zombeteiro, a mão dela na coxa de Diogo no vídeo. Tudo dentro do meu carro.
Diogo viu minha hesitação.
- O que foi, amor? Não gostou? - Ele parecia genuinamente preocupado.
Balancei a cabeça.
- Não, é lindo - menti. - É só que... não estou acostumada a dirigir um carro tão grande. Faz tempo que não dirijo na cidade. - Minha desculpa era fraca, mas ele acreditou.
Ele pegou as chaves da minha mão trêmula.
- Sem problemas! Eu dirijo. Eu até te ensino. Pense em todos os lugares que iremos. - Ele abriu a porta do passageiro com um floreio.
Tirei um lenço umedecido antisséptico, esfregando o couro suntuoso do banco do passageiro antes de me sentar. Esfreguei e esfreguei, como se pudesse apagar a presença de Karina, seu cheiro, seu toque. Era inútil.
Diogo riu novamente.
- É um carro novo, querida. Por que você está limpando?
- Não gosto que outras pessoas toquem nas minhas coisas - disse, minha voz cortante. As palavras pairaram no ar, pesadas com um significado não dito.
O sorriso dele vacilou. Um lampejo de algo - vergonha? medo? - cruzou seu rosto. Ele limpou a garganta rapidamente.
- Certo. Bem, vamos lá. Aquele macarrão trufado não vai se comer sozinho.
Ele tagarelou sobre o restaurante estrelado, o menu requintado, a harmonização perfeita de vinhos. Eu mal o ouvia. Minha mão roçou em algo duro sob o assento. Um batom. Fúcsia.
Eu o peguei. Ele viu. Seus olhos dispararam nervosamente. O rosto dele ficou vermelho carmesim.
- Ah, isso! É... um novo truque de marketing. Uma cor popular. A Karina deve ter deixado cair. - Ele tropeçou nas palavras.
Levantei o objeto, um sorriso fraco e arrepiante nos lábios.
- Isso também é um presente, Diogo?
Ele gaguejou:
- Não, não! Apenas uma amostra. A equipe de vendas provavelmente colocou lá por engano.
Zombei internamente. Girei a tampa. A ponta do batom estava gasta, claramente usada. Olhei para ele, meu olhar penetrante.
- Odeio coisas de segunda mão, Diogo - disse suavemente. - Homens também.
Ele recuou, como se tivesse levado um tapa. Sua mão disparou, agarrando meu pulso.
- Giovana, por favor! Sinto muito. Eu... - A voz dele estava grossa de pânico.
Não respondi. Simplesmente levantei a mão e joguei o batom na lixeira da esquina enquanto estávamos parados no sinal.
Meu celular vibrou. Karina. *'Ops, deixei meu batom no Alma Gêmea de novo! Não queria sujar minha bolsa nova, rs. Diga ao Diogo que pego amanhã de manhã, tá?'*
Olhei para Diogo, o rosto dele uma máscara de arrependimento suplicante. Era tudo uma performance. Era tudo tão absolutamente sem sentido.
Virei a cabeça, observando as luzes da cidade passarem borradas. Eu só queria que este dia acabasse. Queria comemorar meu último aniversário com ele, e depois cair fora.
Chegamos ao restaurante. Ele abriu minha porta, um marido encantador e devoto. As pessoas ao redor arrulhavam. "Que cavalheiro!" "Ele está tão apaixonado!" "Ela é tão sortuda!"
Diogo se empavonou, absorvendo a admiração. Ele me conduziu para dentro. Uma mesa carregada com meus pratos favoritos nos esperava. Cozinhados por outra pessoa. Pagos por ele. A ilusão suprema.