O Carro Rosa de Traição
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Capítulo 4

Ponto de Vista: Giovana Ribeiro

Diogo ergueu a taça de vinho, os olhos marejados.

- A nós, Giovana - começou ele, a voz espessa de falsa emoção. - Dez anos. Construímos este império do nada. Você estava lá em cada luta, cada noite em claro. Minha rocha.

Ele recountou nossos primeiros dias, pintando um quadro de dificuldades compartilhadas e amor inabalável. Ele fez parecer um conto de fadas. Uma zombaria distorcida e cruel do que um dia foi.

- Sem mais lutas, meu amor - prometeu ele, esvaziando a taça. - Só dias bons daqui para frente. Eu juro.

Girei o vinho na taça, tomando um pequeno gole. As palavras dele não significavam nada. Não havia mais "nós". Não havia "futuro".

- Não vamos remoer o passado - disse, minha voz inexpressiva. - Soa... sentimental.

Ele franziu a testa, interpretando mal minha frieza como irritação.

- Você está certa, você está certa. - Ele rapidamente encheu meu prato, insistindo para que eu comesse.

Comi algumas garfadas, depois empurrei o prato. Meu apetite tinha desaparecido há muito tempo.

- O que há de errado, querida? - perguntou ele, a preocupação gravada no rosto. - Não gostou da comida?

Olhei para ele, um sorriso fraco e sardônico nos lábios.

- Diogo, você nunca se cansa de comer a mesma comida, dia após dia?

A testa dele franziu.

- Suponho que sim? Por quê? Podemos ir a outro lugar se você quiser.

- Não - disse, minha voz mal passando de um sussurro. - Se você se cansa, você substitui. Isso não seria... desleal?

Ele parecia genuinamente confuso, quase ofendido.

- Giovana, o que deu em você? Você está agindo tão estranho esta noite.

O celular dele vibrou novamente, zumbindo contra a toalha de mesa. Ele o agarrou, olhando para a tela, e imediatamente recusou.

Mas as mensagens continuaram chegando. *Ping, ping, ping.* A tela se iluminou com o rosto sorridente de Karina, uma selfie do que parecia ser um quarto de hotel.

O rosto de Diogo avermelhou.

- Quem é? - perguntei, minha voz perigosamente suave.

Ele apagou a tela rapidamente.

- Só... um cliente. Novas especificações do carro. Nada com que você precise se preocupar. - Ele parecia desesperado. - Na verdade, acabei de lembrar, preciso ir à fábrica. Revisão de dados urgente. Vou chamar um táxi para você. Vá para casa e descanse.

Ele chamou o táxi, depois praticamente me empurrou para dentro dele. Observei-o pela janela enquanto ele pagava o motorista, depois girava nos calcanhares e chamava outro táxi para si mesmo, desaparecendo na noite.

O motorista, um homem jovial, assobiou.

- Caramba, esse seu marido é demais! Construiu aquele carro rosa incrível e ainda é tão devoto. Um partidão.

Devoção? Zombei internamente. É tudo pesquisa de mercado.

- Siga-o - disse ao motorista, minha voz de repente de aço.

O motorista piscou, surpreso.

- Hã? Seguir quem, senhora?

Meus olhos, frios e escuros, encontraram os dele no espelho retrovisor.

- Meu marido. Quero ver onde a "revisão de dados urgente" dele o leva.

O motorista, sentindo a mudança de humor, obedeceu rapidamente. Ele seguiu o táxi de Diogo pelas ruas sinuosas da cidade.

O táxi de Diogo parou em frente à sede da empresa dele. Ele praticamente saltou, correndo para dentro. Uma única luz estava acesa no último andar – o escritório dele. Alguém estava esperando por ele.

Paguei meu motorista e o segui para dentro, meus passos silenciosos no chão de mármore polido. A viagem de elevador pareceu interminável. Quando finalmente abriu com um *ding*, uma onda de som me atingiu. Não os tons abafados de uma reunião tarde da noite. Mas outra coisa. Os gemidos de uma mulher. Os grunhidos baixos de Diogo.

Caminhei para mais perto, meu coração virando gelo. Os sons ficaram mais altos. Obscenos. Inconfundíveis. A voz de Karina, sussurrando o nome dele, pontuada pelo rangido rítmico de um sofá.

Minha respiração engatou. Minha visão turvou. Não de tristeza, mas de puro e absoluto nojo. Meu estômago se contraiu. Ele estava fazendo isso. Aqui. No escritório dele. No meu aniversário. No dia em que declarou publicamente seu amor eterno por mim.

A década de nossa vida juntos, todas as nossas memórias, passaram diante dos meus olhos. Uma bela mentira. Uma bolha frágil, agora estourada. Eu sempre acreditei no nosso amor, no nosso futuro. Agora, estava claro. Amor, para ele, era apenas mais uma transação. Outra indulgência.

Virei as costas, os sons ainda ecoando em meus ouvidos. O homem que eu amava. O homem a quem dediquei minha vida. Ele era um estranho. Um monstro. Ele tinha tirado tudo de mim. Minha inocência, minha confiança, meu futuro.

Saí daquele prédio, deixando para trás o homem com quem me casei, a vida que construí e o último fragmento da minha crença em nosso amor.

            
            

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