Diogo nunca voltou para casa naquela noite. Não até o amanhecer, quando eu estava sentada perto da janela, vendo o nascer do sol pintar o céu com cores tão falsas quanto as promessas dele.
Ele entrou, cheirando a sexo e sabonete barato de hotel. Ele me encontrou, envolveu os braços em volta de mim por trás e pressionou um beijo no meu cabelo.
- Bom dia, dorminhoca - murmurou ele, a voz rouca.
O cheiro me atingiu então. A doçura enjoativa do perfume de Karina, misturada com o cheiro salgado do suor dele. Lembrei-me dos sons do escritório dele. Meu estômago se rebelou. Empurrei-o, tropeçando para o banheiro, e vomitei até minha garganta queimar.
- Giovana? O que foi, amor? - Ele me seguiu, o rosto gravado de preocupação. Esfregou minhas costas, seu toque fazendo minha pele arrepiar. - Comeu algo estragado? Está doente?
Limpei a boca, meu corpo tremendo.
- Só um calafrio - consegui dizer, minha voz rouca. - Vou ficar bem.
- Bobagem - disse ele, já indo para a cozinha. - Vou fazer um chá especial com conhaque para você. Com bastante limão. Você vai se sentir melhor.
Um chá especial. Ele lembrava disso também. Lembrava de usar o conhaque bom e a quantidade exata de mel que eu gostava. Ele costumava fazer para mim toda vez que eu me sentia mal, por dez anos.
*Ele ainda tem fôlego para algumas coisas*, pensei, uma risada amarga borbulhando no meu peito. *Só não para mim.* Não tínhamos intimidade há meses. Ele sempre alegava estar "muito cansado" do trabalho. Agora eu sabia para onde a energia dele realmente ia.
Eu costumava pesquisar biohacking, comprando suplementos e vitaminas caros para aumentar a "vitalidade" dele. Eu era tão tola. Ele não precisava de vitaminas. Ele só precisava de outra mulher.
Ele voltou com a caneca fumegante, o aroma de limão e álcool enchendo o ar. Cheirava exatamente igual. Mas o homem segurando-a era um estranho.
Tomei um gole. Queimou, depois aqueceu. Mas não conseguiu descongelar o gelo no meu coração. Lágrimas brotaram em meus olhos, transbordando, caindo no chá.
- Oh, Giovana, não chore - disse ele, me puxando para seus braços. - Meu coração se parte quando você chora. - Ele alisou meu cabelo.
Limpei rapidamente os olhos, forçando um sorriso aguado.
- É só o vapor do conhaque - menti, minha voz ainda tremendo. - Ardeu meus olhos.
Ele riu, aliviado.
- Você é tão doce, meu amor. Sempre tão sensível.
A frieza voltou, afugentando os últimos vestígios de dor. Tudo acabaria em breve. Só mais alguns dias.
Meu celular vibrou. Karina. De novo. Uma série de fotos. Ela no escritório do meu marido, vestindo nada além de um roupão de seda frágil. Ela na mesa dele. As pernas dela em volta dele.
Então, uma mensagem: *Ele diz que você é estéril, Giovana. Mas meu bebê é a prova da virilidade dele. Nosso bebê vai herdar tudo. Você não será nada.*
Outra mensagem: *Ele me esgotou ontem à noite, querida. Disse que não tinha paixão real há anos. Enquanto você dormia pacificamente, eu estava fazendo o herdeiro dele. Com ciúmes?*
Apaguei as mensagens, meu dedo firme. Sem emoção. Nada. Chamei um táxi. Estava na hora.
O hospital era frio, estéril. Deitei na mesa de operação, meu corpo tremendo, não de medo, mas do peso imenso do que eu estava fazendo. Coloquei gentilmente a mão na barriga, um adeus silencioso.
*Sinto muito, meu doce bebê.* Sussurrei, lágrimas escorrendo silenciosamente pelo meu rosto. *Você merece muito mais do que este mundo quebrado. Mais do que esta família quebrada.*
Apenas alguns minutos. Foi tudo o que levou. A pequena vida, tão desesperadamente desejada, tão descuidadamente concebida, se foi. Reduzida a lixo hospitalar.
- Posso... posso ver? - Minha voz era apenas um sussurro.
A enfermeira, com o rosto duro, zombou.
- Você não era tão sensível quando estava se divertindo, era? Agora quer ver?
Eu a ignorei, descendo da mesa. Vi a lixeira. Vasculhei a gaze sangrenta, os tubos médicos, até encontrar. Um ponto minúsculo, mal formado, de carne. Meu bebê.
Envolvi-o cuidadosamente em um lenço de papel, segurando-o gentilmente em minhas mãos trêmulas. Saí do hospital, o sol brilhante da tarde me cegando. Mas eu sentia apenas um frio profundo nos ossos.
Meu celular vibrou novamente. Karina. Outra foto. Um folheto brilhante de uma maternidade de luxo. *Diogo diz que só o melhor para o nosso bebê. Você não entenderia, né?*
*Não importa quem carrega o filho dele*, pensei, um vazio arrepiante no peito. *Sempre será manchado.*
Fui direto para o escritório de uma advogada.
- Quero o divórcio - disse a ela, minha voz desprovida de emoção.
- Tem certeza, Sra. Ribeiro? E não quer nenhum bem? Nenhuma pensão? - perguntou ela, surpresa.
- Não quero nada dele - disse. - Apenas minha liberdade.
Os papéis do divórcio foram redigidos rapidamente. Assinei-os, minha mão firme. Quando cheguei em casa, coloquei os papéis e o pequeno pacote embrulhado em lenço de papel na caixa de presente. A surpresa de aniversário de Diogo.
Sorri, um sorriso frio e duro que não alcançou meus olhos. *Feliz aniversário, Diogo. Espero que goste do seu presente.*
As mensagens de Karina continuaram chegando. Agora, fotos de uma villa de luxo. *Diogo diz que é aqui que nosso bebê vai crescer. Muito melhor do que sua casa velha e empoeirada, certo?*
Olhei ao redor da casa. O lar onde derramei meu coração. Aquele que compramos com o primeiro grande salário dele. Nossas memórias. Nossos sonhos. Tudo despedaçado.
*É velha*, pensei. *Ele é velho. E eu também. É hora de ir embora.*