Ivy Richardson POV
Clayton piscou rapidamente, o choque inicial em seu rosto se transformando em algo mais feio: defensiva.
Era a configuração padrão para homens como ele - homens fracos que se coroavam reis simplesmente porque nasceram em uma linhagem de ladrões.
"Isso é doentio", ele cuspiu, suas mãos se fechando em punhos impotentes ao lado do corpo.
"Você nos deixou de luto. Deixou seu pai chorar sobre uma caixa vazia. Você tem alguma ideia do que nos fez passar?"
Uma risada, sombria e afiada como vidro quebrado, borbulhou na minha garganta.
"Eu fiz vocês passarem?"
Dei um passo à frente, invadindo deliberadamente seu espaço pessoal.
Instantaneamente, a memória me assaltou: o cheiro enjoativo de gasolina misturado com o gosto metálico de cobre.
Lembrei-me do som do meu celular tocando nos destroços. Lembrei-me de atender, implorando por ajuda, e de ouvir a voz dele do outro lado.
Morra em silêncio, Ivy. Tenho um casamento para ir.
Foi o que ele disse antes de desligar. Ele escolheu a festa de noivado de Ainsley em vez da minha vida.
"Eu não forjei nada, Clayton." Minha voz baixou para um sussurro perigoso. "Você me mandou para o inferno. Eu só peguei o caminho mais longo de volta."
Ele recuou.
Por uma fração de segundo, a culpa brilhou em seus olhos, mas ele rapidamente a enterrou sob camadas de narcisismo praticado.
"Foi uma noite caótica", ele gaguejou, sua compostura se quebrando. "Eu estava sob pressão. A fusão com seu pai... Ainsley precisava de mim."
Ele se endireitou, tentando recuperar o terreno. "Você sempre foi tão dramática, Ivy. Provavelmente exagerou o acidente para chamar a atenção."
Manipulação psicológica. Era sua língua materna.
Cinco anos atrás, essa frase teria me deixado de joelhos, pedindo desculpas. Teria me feito questionar minha própria sanidade.
Agora? Apenas me entediava.
Olhei para ele - olhei de verdade - e percebi que não sentia absolutamente nada.
Nenhum ódio. Nenhum amor. Apenas o distanciamento clínico de um cientista observando um inseto particularmente maçante se contorcendo sob um microscópio.
"Você está usando o mesmo relógio", observei, meu olhar se desviando propositalmente para o pulso dele. "O banho de ouro está descascando."
Clayton cobriu o pulso instintivamente, como uma criança pega com um brinquedo roubado.
"Vou ligar para o seu pai", ele ameaçou, buscando o bolso com os dedos trêmulos. "Haverá uma reunião hoje à noite. Uma reunião de família. Você vem comigo. Você nos deve uma explicação."
Ele estendeu a mão para agarrar meu braço.
Foi um erro.
Antes que seus dedos pudessem sequer tocar o tecido do meu casaco, eu me desviei com uma fluidez que deixaria meu marido orgulhoso.
"Não me toque."
Meu tom não era alto, mas carregava o peso esmagador do nome Richardson. Era uma ordem, não um pedido.
Clayton congelou. Ele viu algo em meus olhos que não estava lá antes.
Aço.
"Eu não te devo porra nenhuma, Clayton."
Chutei os lírios de plástico com a ponta da minha bota, fazendo-os deslizar pela grama.
"E essas flores combinam com você. Falsas, baratas e sem vida."
Virei as costas para ele e me afastei, deixando-o parado na terra com o fantasma que ele pensou que poderia controlar.