O rosto que preencheu a tela era a única coisa que ainda me prendia à terra.
Collin Anderson.
Ele estava sentado em seu escritório em Nova York, com o horizonte de Manhattan desfocado atrás dele. Seu cabelo escuro estava desgrenhado, um sinal de que ele estivera passando as mãos por ele em frustração.
Seus olhos, da cor de um mar tempestuoso, examinaram meu rosto instantaneamente em busca de hematomas.
"Ele te tocou?"
Sem olá.
Sem formalidades.
Apenas a proteção imediata e letal que definia nosso casamento.
Collin não era apenas um Capo; ele era uma arma que Alaric Richardson mantinha embainhada em veludo, esperando o comando para atacar.
"Ele não me tocou", eu disse, minha voz suavizando.
"Eu vi o Clayton. Ele é exatamente tão pequeno quanto eu me lembrava."
O maxilar de Collin se contraiu com força suficiente para quebrar um osso.
"Eu deveria estar aí", ele rosnou.
"Eu deveria ser quem está entre você e essa sujeira."
Eu sorri, mudando o celular de posição para que ele pudesse ver que eu estava segura no interior de couro do carro.
"Eu preciso fazer essa parte sozinha, Collin."
Respirei fundo para me acalmar. "Preciso enterrar Ivy Dillard adequadamente para que Ivy Richardson possa viver."
Um pequeno e alegre som veio de fora da tela.
"Leo."
Meu filho subiu no colo do pai, seus cachos bagunçados balançando com energia.
"Mamãe!", ele piou, mostrando um carrinho de brinquedo. "Papai disse que você está lutando contra dragões."
Meu coração se apertou dolorosamente.
Leo tinha quatro anos, inocente e perfeito.
Ele era a razão pela qual eu sobrevivi ao renascimento. Ele era a razão pela qual eu queimaria o legado dos Dillard até o chão.
"Sim, meu amor", eu disse, minha voz embargada de emoção.
"A mamãe está lutando contra os dragões para que eles nunca possam chegar perto de você."
Outro rosto apareceu na tela, pairando sobre o ombro de Collin.
Alaric Richardson.
O Capo dei Capi.
O homem que me encontrou quebrada em uma cama de hospital e me ofereceu uma escolha: morrer como vítima ou viver como predadora.
Ele parecia mais velho, seu rosto marcado pelas decisões difíceis de um governante, mas seus olhos eram afiados como navalhas.
"Você tem os documentos da herança da sua mãe?", Alaric perguntou.
Sua voz era puro cascalho e autoridade.
"Sim, pai", respondi.
Eu o chamava de pai porque meu pai biológico perdeu o direito a esse título no momento em que enterrou uma caixa vazia e lavou as mãos de mim.
"Bom", disse Alaric.
"Lembre-se, Ivy. Sangue é lealdade, não apenas DNA."
Ele fez uma pausa, deixando o peso de suas palavras assentar.
"Se eles te desrespeitarem, eles desrespeitam a Máfia. E nós não toleramos desrespeito."
Eu assenti.
Eu sabia exatamente o que isso significava.
O exército dos Richardson estava de prontidão. Uma palavra minha, e São Paulo queimaria.
Desliguei o telefone quando o carro parou no shopping de luxo.
Eu precisava de uma distração. Uma oferenda de paz para meus próprios nervos em frangalhos.
Eu não era mais Ivy Dillard.
Eu era uma Richardson.
E os Richardson não se escondem.