Ele estava furioso.
"Você envergonhou a família!", ele gritou. "Saindo com um Valenti? Você está louca?"
Sentei-me à minha penteadeira, tirando calmamente meus brincos.
"Saia", eu disse, sem me dar o trabalho de me virar.
Dante chutou a porta para fechá-la atrás de si.
Ele marchou até mim.
Ele agarrou meus ombros e me virou, seu aperto doloroso.
"Estou tentando te ensinar a ser forte!", ele gritou, seu rosto a centímetros do meu. "O leilão foi amor bruto! Você precisa aprender seu lugar!"
"Meu lugar não é abaixo da sua amante", eu disse, minha voz fria como gelo.
A expressão de Dante vacilou, depois suavizou.
Foi uma mudança aterrorizante, um estalo maníaco da raiva para a ternura.
Ele tocou minha bochecha.
Seus dedos eram calejados e ásperos.
"Elena", ele sussurrou. "Se você apenas aceitar Livia... podemos ser felizes. Ela é da família. Ela precisa de nós."
Minha pele se arrepiou com seu toque.
"Ela não é da família", eu disse. "Ela está dormindo com você."
"Ela é a protegida do meu primo!", Dante insistiu. "É complicado!"
"Não é complicado", eu disse. "Você é fraco."
Dante enrijeceu.
"Eu sou o Don", ele rosnou.
"Você é um tolo cego", eu contrapus. "Ela fede a luxúria e engano, e você é o único que não consegue sentir o cheiro."
Dante levantou a mão.
Por um segundo, pensei que ele ia me bater.
Então, seu celular vibrou.
Ele olhou.
Sua raiva desapareceu instantaneamente, substituída por uma preocupação patética.
Era Livia.
"Eu tenho que ir", disse ele, recuando. "Livia não está se sentindo bem."
"Claro", eu disse. "Vá em frente, cachorrinho."
Dante me fuzilou com o olhar, seu maxilar tenso.
"Limpe isso", disse ele, apontando para a porta quebrada. "E conserte sua atitude."
Ele saiu, a madeira pesada clicando ao fechar atrás dele.
Fiquei sentada no silêncio.
Olhei para meu reflexo, meu rosto uma máscara de pedra.
Peguei minha caixa de joias.
Tirei um pingente de rubi barato e manchado.
Foi o primeiro presente que Dante me deu, anos atrás, antes de se tornar o Don.
Antes de se tornar um monstro.
Caminhei até a lareira.
Joguei o pingente nas chamas dançantes.
Observei o metal escurecer e derreter, o rubi rachando sob o calor.
"Adeus, Kael", sussurrei, usando seu nome verdadeiro. "Don Dante te matou há muito tempo."
Peguei meu tablet.
Coloquei meus fones de ouvido.
Ativei a escuta no quarto de Livia.
O áudio estalou e ganhou vida.
Livia estava ao telefone.
Ela não estava doente.
Ela estava rindo.
"Ele é um idiota", a voz de Livia veio, clara como um sino. "Eu disse a ele que estava com enxaqueca. Ele está vindo correndo para cá com sopa."
Ela fez uma pausa, ouvindo o outro lado.
"Não, eu não o amo", disse ela para quem quer que estivesse na linha. "Eu amo o poder. Assim que eu conseguir o anel, vou controlar tudo. A Princesa já está quebrada. Ela é patética."
Minha mão apertou o tablet até meus nós dos dedos ficarem brancos.
"Vou me livrar dela até o final do mês", Livia se gabou. "Acidentes acontecem, certo?"
Apertei o botão de gravar.
A luz vermelha piscou.
Gravação Salva.
Tirei os fones de ouvido.
Um sorriso frio se espalhou pelo meu rosto.
"Você acha que estou quebrada, Livia?", sussurrei para o quarto vazio.
Olhei para o arquivo rotulado Evidência.
"Estou apenas recarregando."