O silêncio ondulou pela multidão enquanto descíamos a escadaria. Observei os sussurros se formando em lábios pintados, vi os olhos das Cinco Famílias dardejando entre mim e o canto distante da sala.
Dante estava lá.
Ele segurava um copo de uísque, seus nós dos dedos brancos enquanto encarava a mão de Luca possessivamente reivindicando minha cintura. Ao lado dele estava Livia.
Ela usava o Diamante Azul que ele comprara no leilão, mas a gema parecia brega contra sua pele pálida, engolindo-a por inteiro. Ela parecia pequena - como uma criança brincando de se vestir com as joias da mãe.
Chegamos ao chão, e um garçom imediatamente se materializou com uma bandeja de champanhe.
"O colar combina com você, Signorina", ele murmurou, seus olhos arregalados de admiração. "Parece liberdade."
Peguei uma taça.
"É o que sinto", eu disse.
Mas a paz não durou. Livia marchou em nossa direção, arrastando Dante pela manga, seu rosto contorcido em uma máscara de preocupação falsa.
Ela parou na minha frente, estendendo a mão para tocar o diamante na minha garganta.
"Oh, Elena", ela arrulhou. "Isso é um empréstimo? Deve ser aterrorizante usar algo que você não possui."
Luca agarrou seu pulso antes que ela pudesse fazer contato. Ele não apertou; ele simplesmente o segurou ali, suspenso no ar como uma mosca capturada.
"Não toque no que é meu", Luca rosnou.
Sua voz era baixa, um trovão que vibrou fundo no meu peito.
Livia puxou a mão de volta, olhando imediatamente para Dante, esperando que ele defendesse sua honra.
Dante deu um passo à frente, seus olhos assombrados fixos nos meus.
"Tire isso, Elena", disse ele. "Você está fazendo uma cena."
"Eu sou a cena", respondi.
Livia riu - um som frágil e agudo.
"Você é apenas um inconveniente político", ela sussurrou, aproximando-se para que apenas eu pudesse ouvir. "Dante dorme na minha cama. Ele ri de você enquanto está dentro de mim."
Senti a sombra de uma antiga ferroada, mas a ferida já havia se calado há muito tempo.
"Aproveite as sobras, Livia", eu disse.
Seus olhos se estreitaram em fendas. Ela pegou um pequeno controle remoto de sua bolsa e apontou para a enorme tela de projeção atrás do palco, onde uma homenagem às famílias estava em loop.
"Vamos ver quem a cidade realmente respeita", ela sibilou.
Ela apertou o botão.
A música parou. A tela piscou e um vídeo começou a ser reproduzido.
Era uma filmagem granulada, tirada de uma câmera escondida no meu antigo quarto na mansão Moretti, meses atrás.
Eu estava chorando. Estava encolhida no chão, soluçando o nome de Dante, implorando ao quarto vazio para que ele me amasse.
Era cru. Era patético. Era o momento mais vulnerável da minha vida, transmitido para trezentas das pessoas mais perigosas do país.
Risadas ondularam pela sala.
"Olhem para ela!", Livia gritou sobre o áudio do meu próprio choro. "Ela é instável! Ela é obcecada!"
Meu sangue virou gelo.
Livia sorriu para mim, triunfante.
"Saia da cidade, Elena", ela ameaçou. "Ou eu libero o resto."
Olhei para Dante.
Ele estava assistindo à tela. Ele não estava parando. Ele estava deixando tocar. Ele estava deixando-a me despir na frente do mundo.
Algo dentro de mim estalou. Eu não pensei; eu me movi.
Dei um passo à frente e balancei minha mão.
Minha palma conectou com a bochecha de Livia.
Crack.
O som silenciou o salão de baile instantaneamente.
Livia cambaleou para trás, agarrando o rosto.
"Dante!", ela gritou.
Dante se moveu então, correndo para o lado dela e se virando para mim com um rosnado.
"Você ousa tocá-la?", ele rugiu.
"Ela está me humilhando", eu disse, minha voz mortalmente firme. "E você está assistindo."
"Ela está mostrando a verdade!", Dante gritou. "Você é fraca!"
Luca não falou.
Ele simplesmente pegou uma cadeira de madeira pesada de uma mesa próxima e a arremessou na tela.
A cadeira se espatifou na superfície do projetor, rasgando o tecido e estilhaçando a imagem das minhas lágrimas.
A sala ofegou.
Luca caminhou para o centro do chão. Ele puxou uma arma de seu paletó, segurando-a frouxamente ao seu lado.
"Elena está sob proteção Valenti", Luca anunciou.
Sua voz chegou a todos os cantos da sala, não deixando espaço para discussão.
"Qualquer um que a insulte, me insulta. Qualquer um que a filme, morre."
Ele olhou para Dante com olhos frios e mortos.
"Controle sua prostituta, Moretti. Ou eu a coloco para dormir."
Dante enrijeceu.
Don Salvatore, que estava observando das sombras, deu um passo à frente, seu rosto pálido.
"Esta é uma zona neutra!", Salvatore gritou.
"Não mais", disse Luca.
Ele me ofereceu seu braço.
"Vamos?", ele perguntou.
Olhei para Livia. Sua bochecha estava vermelha em brasa. Ela tremia, mas seus olhos ainda estavam cheios de ódio.
"Agora", sussurrei para ela. "Vamos ver se você sobrevive à mão que você jogou."
Peguei o braço de Luca.
Saímos, deixando a tela estilhaçada e o noivado estilhaçado para trás.