Entre olhares e acasos
img img Entre olhares e acasos img Capítulo 2 O caminho até o hospital
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Capítulo 6 Chegando em casa img
Capítulo 7 Noite de conversas virtual img
Capítulo 8 Uma pontinha de desconfiança img
Capítulo 9 Marcelo img
Capítulo 10 Um dia que nunca acaba img
Capítulo 11 O medo da verdade img
Capítulo 12 Manhã Seguinte img
Capítulo 13 Uma noite inesquecível img
Capítulo 14 Um convite irrecusável img
Capítulo 15 A versão de Marcelo img
Capítulo 16 Tentando me controlar (Marcelo) img
Capítulo 17 Helena leva um fora img
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Capítulo 2 O caminho até o hospital

Marcelo insistiu para me ajudar a entrar no carro dele, um SUV preto impecável que parecia recém-saído da concessionária. Eu até tentei recusar, mas minha cabeça ainda estava girando e, sinceramente, o jeito como ele me olhava dava uma sensação estranha de segurança.

Helena, por outro lado, parecia prestes a explodir.

- Marcelo, isso é completamente desnecessário - ela disse, cruzando os braços. - Você não precisa se envolver.

Ele abriu a porta do passageiro pra mim sem nem olhar pra ela.

- Não vou deixá-la sozinha - respondeu, simples, como se fosse óbvio. Helena olhou incrédula pra ele, que não deu a mínima, e me conduziu até o carro.

Eu entrei meio sem jeito, tentando não encostar muito nos bancos impecáveis. Helena bufou tão alto que deu pra ouvir pela porta fechada.

Quando Marcelo entrou no carro, a primeira coisa que senti foi o perfume dele: amadeirado, sofisticado, caro. O tipo de fragrância que fica na memória. Ele ligou o motor e ajustou o ar-condicionado mais baixo, talvez achando que eu ainda estava tonta.

- Quer água? - perguntou, abrindo o compartimento central. Tinha garrafinhas novinhas.

- Não, obrigada. Já estou melhor - respondi, mesmo sabendo que não estava 100%.

- Me avisa se não estiver - ele disse, olhando rapidamente pra mim antes de arrancar.

Helena veio até a janela do motorista e se inclinou.

- Você vai me deixar aqui? Tem reunião amanhã cedo. E eu preciso te atualizar sobre o material que preparei.

Marcelo manteve os olhos na rua.

- Pega um carro por aplicativo. Te encontro amanhã cedo.

A expressão dela se transformou em um misto de incredulidade e raiva contida.

Era quase cômico... se não fosse um pouco assustador.

Ela finalmente saiu da frente, dando um passo pra trás. Marcelo acelerou suavemente e seguimos pela rua iluminada.

Silêncio.

Mas não foi desconfortável. Foi... tenso de um jeito bom.

- Sinto muito por isso - falei, quebrando o silêncio. - Não quis te colocar nessa situação com... a sua...

- Não se preocupe - ele disse. - ela não é minha namorada.

- Ah - respondi, sentindo o coração dar um pulinho bobo.

Ele continuou:

- Ela trabalha comigo. Tem um cargo importante na empresa, mas... costuma ultrapassar alguns limites.

Eu mordi o lábio, tentando não sorrir como uma adolescente.

- Ela parece gostar de você - soltei, antes de pensar.

Marcelo respirou fundo, como se essa conversa já tivesse acontecido mil vezes dentro da cabeça dele.

- Gosta da ideia de mim - corrigiu. - Não de quem eu sou de verdade.

Eu virei o rosto para a janela, vendo os prédios da Zona Sul passarem rápido, refletindo luzes nas vidraças.

São Paulo parecia mais bonita vista de dentro daquele carro.

- E quem você é de verdade? - perguntei, sem tirar os olhos da rua.

Ele demorou alguns segundos para responder.

- Alguém cansado - disse, enfim. - Cansado de fingir, de manter a postura perfeita, de lidar com gente querendo algo o tempo todo.

Eu me virei para ele.

- Então você é um CEO cansado da própria vida glamourosa.

Ele soltou um riso baixo - e meu estômago virou de um jeito inexplicável.

- E você? - ele perguntou, virando brevemente o rosto para mim. - O que cansa você?

Eu respirei fundo.

- A luta constante - respondi. - De trabalhar muito, de fazer tudo dar certo, de tentar sempre ser forte... mesmo quando ninguém tá vendo.

Ele ficou em silêncio, mas aquele olhar dele... era de alguém que realmente tinha entendido.

A gente entrou na Avenida Santo Amaro, e o hospital não estava muito longe dali. O trânsito estava mais tranquilo do que o normal, e por alguns instantes o mundo pareceu menor, só aquele carro, ele e eu.

- Você é mais forte do que pensa - ele disse de repente.

Eu senti meu peito apertar.

- Isso é algo que eu precisava ouvir - admiti.

Ele não respondeu. Só continuou dirigindo, mas percebi que seus dedos estavam relaxados no volante agora. Como se ele tivesse ficado mais leve também.

Quando chegamos ao hospital, ele estacionou na frente da entrada e saiu imediatamente para abrir minha porta.

Ninguém nunca tinha feito isso por mim antes.

- Consegue andar? - ele perguntou.

- Consigo, sim - respondi, mas a verdade é que minhas pernas ainda estavam um pouco bambas.

Ele colocou a mão nas minhas costas, firme, mas gentil, guiando meus passos até a recepção.

E foi ali, debaixo da luz forte do hospital, que percebi:

Aquele homem sério, distante e poderoso tinha um olhar doce quando me encarava.

E eu estava correndo um risco enorme de me perder nesse olhar.

            
            

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