Entre olhares e acasos
img img Entre olhares e acasos img Capítulo 5 Na Lanchonete
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Capítulo 6 Chegando em casa img
Capítulo 7 Noite de conversas virtual img
Capítulo 8 Uma pontinha de desconfiança img
Capítulo 9 Marcelo img
Capítulo 10 Um dia que nunca acaba img
Capítulo 11 O medo da verdade img
Capítulo 12 Manhã Seguinte img
Capítulo 13 Uma noite inesquecível img
Capítulo 14 Um convite irrecusável img
Capítulo 15 A versão de Marcelo img
Capítulo 16 Tentando me controlar (Marcelo) img
Capítulo 17 Helena leva um fora img
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Capítulo 5 Na Lanchonete

Assim que empurrei a porta de vidro, fui abraçada pelo cheiro quente de pão recém-assado. Era quase impossível não sentir o estômago reagir. Havia um conforto naquele aroma, uma familiaridade que parecia deslocada de tudo que tinha acontecido nas últimas horas.

Marcelo segurou a porta para mim e entrou logo atrás. A lanchonete era pequena, aconchegante, paredes em tom creme, mesas de madeira clara e algumas plantas que pareciam bem cuidadas demais para um lugar tão simples. Eu percebi que ele observava tudo - inclusive a mim - com aquele olhar quieto, profundo, como quem registra detalhes sem fazer esforço.

Escolhemos uma mesa perto da janela. Quando nos sentamos, por um instante, só ouvimos a cafeteira ao fundo e a conversa distante de duas senhoras na mesa ao lado.

"Depois de tudo isso, você merece pelo menos um sanduíche decente," ele comentou, abrindo o cardápio com um sorriso discreto.

Eu ri, ainda sentindo o corpo leve por ter sobrevivido ao caos.

"Eu nem sei se tô com fome ou com adrenalina."

"Pelo menos você está bem." Ele me olhou de um jeito que fez meu coração dar uma aceleradinha à toa. "Isso é o que importa."

Pedi um X salada e um suco. Ele pediu apenas um suco de abacaxi com hortelã.

Quando devolvemos os cardápios, ele se recostou na cadeira.

"Então..." ele começou, apoiando um braço sobre a mesa. "O que você faz da vida, Celina?"

Respirei fundo, ajeitei o cabelo atrás da orelha e respondi com um orgulho tranquilo:

"Eu sou empreendedora. Trabalho com cosméticos e também lidero um grupo de mulheres. A gente tem metas, treinamentos, estratégia... adoro essa parte. Gosto de ver elas crescendo, sabe? Mudando de vida."

Ele sorriu de canto, um sorriso genuíno, quase admirado.

"Dá pra perceber que você gosta mesmo. Seus olhos brilham quando você fala."

"É... eu realmente amo o que faço," confessei.

E o que mais você pode me contar sobre você? Ele perguntou com um certo interesse. "Bom, eu não sou daqui. Minha família tá toda em outro estado. Então, pelo menos duas vezes ao ano eu viajo pra visitar, e tenho muitos amigos aqui, amigos que acabaram virando família também."

"Isso é raro," ele respondeu, apoiando o queixo na mão. "Construir laços verdadeiros assim."

Fiquei curiosa, então aproveitei a brecha:

"E você... eu já notei que trabalha em um lugar importante. Vi seu jeito falando com o rapaz lá no estacionamento, e também... bom, você tem cara de quem manda em muita coisa."

Ele riu, baixinho, balançando a cabeça.

"Cara de quem manda... essa é nova." Ele suspirou e continuou. "Mas sim... como você já ouviu antes, sou o CEO da H&V Technologies. Nós trabalhamos com inovação em sistemas de segurança e tecnologia corporativa. Uma loucura constante."

"CEO," repeti, brincando. "Aí é covardia. Eu aqui falando de batom, skincare e metas, e você vem com tecnologia avançada."

"Skincare é mais importante do que tecnologia, dependendo do ponto de vista," ele rebateu, sorrindo maior, deixando o rosto mais leve. "E, sinceramente, seu trabalho exige muito mais jogo emocional. Eu admiro isso."

O calor subiu pelo meu rosto de um jeito que eu tentei disfarçar dando um gole no suco que tinha acabado de chegar.

A conversa fluiu fácil. Era como se a gente se conhecesse há mais tempo do que algumas horas e um acidente caótico. Falamos de viagens, de hábitos estranhos, de comida, de sonhos, de trabalho. Ele tinha um humor contido, inteligente, quase sempre pontual. Eu ria mais do que deveria.

Quando terminei meu sanduíche, me recostei e suspirei.

"Eu preciso pegar meu carro," comentei, meio arrependida de encerrar aquele momento."

Marcelo não hesitou nem por um segundo.

"Eu te levo. De qualquer forma, é perto da minha empresa."

Eu olhei pra ele, surpresa.

Não precisa-

"Precisa sim," ele interrompeu suavemente. "Eu finalizei o dia te vendo levar um susto que quase me matou do coração. O mínimo que eu posso fazer é garantir que você chegue em segurança até o carro."

Ele disse isso com uma calma séria, um cuidado que eu não esperava.

E eu simplesmente concordei.

O problema é que, naquele momento, eu já tinha percebido uma coisa perigosa:

Aquele homem sabia entrar na vida de alguém sem fazer barulho - mas, quando entrava, ocupava espaço.

                         

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