Retorno da Cova: Resgatando Meu Coração Traído
img img Retorno da Cova: Resgatando Meu Coração Traído img Capítulo 4
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Capítulo 4

Bianca Poole POV:

A declaração triunfante de Gabriela pairava no ar, densa de malícia. Ela esperava uma reação, um grito, um colapso. Mas eu não lhe dei nada. Meu rosto permaneceu impassível, uma tela em branco que não refletia nenhuma da turbulência que se agitava dentro de mim. O câncer havia me despido da capacidade de raiva sustentada, deixando para trás um cansaço profundo. Não havia sentido em lutar por algo que eu logo deixaria para trás.

Seu sorriso triunfante vacilou, substituído por um lampejo de confusão, depois irritação. Minha falta de reação parecia frustrá-la mais do que qualquer explosão. Ela bateu o pé impacientemente. "Sra. Neves!", ela estalou, virando-se para a governanta que estava por perto, torcendo as mãos nervosamente. "Traga a caixa do sótão. O vestido de noiva."

Sra. Neves, com os olhos arregalados de apreensão, saiu apressada. Meu coração martelava contra minhas costelas. Gabriela ia mesmo me mostrar? Exibi-lo na minha frente, esfregando na minha cara?

Momentos depois, Sra. Neves voltou, segurando uma caixa branca grande e impecável, amarrada com uma fita de cetim. O vestido de noiva da minha mãe. Minha respiração ficou presa na garganta. Estava realmente aqui. A última peça tangível dela.

Gabriela arrancou a caixa das mãos da Sra. Neves, seus olhos brilhando com uma alegria cruel. Ela a jogou descuidadamente sobre a mesa de mogno polido, a fita se desfazendo, a tampa se abrindo um pouco. "Vê, Bianca?", ela ronronou, sua voz pingando uma falsa doçura. "É lindo, não é? E é todo meu."

E então, com uma lentidão doentiamente deliberada, ela enfiou a mão na caixa e tirou um pequeno e ornamentado medalhão de prata. O medalhão da minha mãe. Aquele que Bruno estava segurando mais cedo. Aquele com uma pequena bailarina gravada na frente. Ela o ergueu, balançando-o por sua delicada corrente, um sorriso no rosto.

"Ah, e isso também", ela disse, sua voz uma provocação. "Fernando me deu. Disse que era hora de ir para alguém que realmente apreciasse seu significado. Alguém que não fosse uma decepção constante."

Minha visão embaçou. Não o vestido. Qualquer coisa, menos o medalhão. Aquele medalhão... foi a última coisa que mamãe me deu antes de morrer. Um símbolo dos meus sonhos, de sua fé inabalável em mim. Era precioso. Sagrado.

Gabriela viu o tremor em minhas mãos, o leve arregalar de meus olhos, e seu sorriso se alargou, um sorriso verdadeiro e venenoso. "Oh, Bianca", ela arrulhou, seus olhos brilhando de malícia. "Você queria essa bugiganga? Que pena."

E então, com um movimento do pulso, ela abriu o medalhão, revelando a pequena e desbotada foto da minha mãe e de mim, tirada no meu quinto aniversário. Ela a ergueu, exibindo-a por um momento, antes de deliberadamente, meticulosamente, pressionar o polegar sobre a imagem em miniatura, esmagando-a, rasgando o delicado papel. Então, com uma graça praticada, ela abriu o medalhão novamente, revelando a foto agora mutilada.

Um suspiro rasgou minha garganta. Foi um golpe físico, pior que qualquer chute. O rosto da minha mãe, agora marcado e arruinado. Meu sorriso de infância, despedaçado. Foi uma violação. Uma profanação.

"Ops", disse Gabriela, seus olhos brilhando com triunfo absoluto. "Tão desajeitada da minha parte. Assim como tudo o mais que você toca, Bianca. Sempre quebrado." Ela então deixou o medalhão cair, tilintando no chão.

"Sua vadia", sussurrei, as palavras cruas, rasgando minha garganta. Foi um som involuntário, um grito primal de dor.

A risada de Gabriela encheu a sala, fria e aguda. "Oh, Bianca. Ainda tão dramática. Assim como sua mãe, sempre tão delicada, sempre tão... facilmente quebrada." Seus olhos, agora ardendo de triunfo, encontraram os meus. "Ela era fraca, Bianca. Assim como você. E sabe de uma coisa? Ela mereceu o que teve. E você também merece. Eu queria que você simplesmente caísse morta, sua desculpa patética de ser humano!"

As palavras me atingiram como uma força física, rasgando os últimos vestígios do meu controle. Minha mãe. Ela havia amaldiçoado minha mãe. E desejado a morte para mim, o mesmo destino que já se aproximava. Uma dor lancinante irrompeu em meu abdômen, pior do que qualquer uma que eu sentira em dias. Era uma agonia incandescente, um grito interno. Minha visão nadou.

Eu avancei. Foi um instinto, uma onda pura e não adulterada de fúria. Minha mão conectou-se com o rosto dela, um tapa ardido, o som ecoando na sala silenciosa.

Gabriela cambaleou para trás, a mão voando para a bochecha, os olhos arregalados de choque. Por uma fração de segundo, um olhar de medo genuíno passou por seu rosto. Então, ele se transformou em outra coisa, algo terrivelmente astuto. Ela soltou um grito agudo, um som projetado para chamar a atenção, para manipular. Sua mão, ainda cobrindo a bochecha, moveu-se sutilmente. Vi o brilho de algo metálico em sua palma, tarde demais.

Ela o cravou em seu próprio braço, um movimento rápido e brutal, um corte pequeno e controlado. O sangue brotou, carmesim brilhante contra sua pele pálida. Então, com um suspiro dramático e um olhar arregalado e aterrorizado, ela desabou no chão, seus olhos revirando na cabeça. "Bianca... você... você me esfaqueou...", ela sussurrou, sua voz quase inaudível, antes que seus olhos se fechassem.

"Gabriela!" Um rugido, e então um borrão de movimento. Caio. Ele apareceu como do nada, seu rosto uma máscara de horror. Ele viu Gabriela no chão, o sangue, e então eu, de pé sobre ela, minha mão ainda formigando do tapa. Seus olhos, mais uma vez, se encheram daquela raiva familiar e odiosa.

Ele me empurrou, com força. Eu cambaleei para trás, batendo na parede com um baque doentio. "Sua vadia psicótica!", ele rosnou, suas palavras cheias de veneno. "Eu sabia! Eu sabia que você não tinha mudado! Você realmente é uma maníaca!"

Minha cabeça girou. A dor no meu estômago se intensificou, um inferno ardente. Tentei falar, explicar, mas as palavras estavam presas na minha garganta, sufocadas pela injustiça, pelo desespero avassalador.

Gabriela, sempre a atriz, se mexeu. Ela gemeu suavemente, seus olhos se abrindo, focando em Caio com um olhar de falsa vulnerabilidade. "Caio... ela... ela simplesmente enlouqueceu... eu só queria mostrar o vestido a ela...", ela sussurrou, sua voz fraca, chorosa, totalmente convincente. Ela então convulsionou dramaticamente uma vez, seus olhos revirando na nuca, e desmaiou novamente. Um desmaio perfeito.

Caio a pegou nos braços, seus olhos ardendo com fúria protetora. Ele olhou para mim, seu olhar pingando nojo. "Saia, Bianca. Apenas saia. Eu queria que você nunca tivesse voltado."

As palavras foram um golpe final e esmagador. Elas ecoaram o mesmo sentimento que meu pai havia proferido três anos atrás. A dor no meu estômago agora irradiava por todo o meu corpo, uma pulsação surda e insistente que ameaçava me consumir. Minha visão se afunilou.

Então, mais passos. Pai. Bruno. Eles estavam na entrada da sala de estar, seus rostos gravados com choque e raiva enquanto observavam a cena: Gabriela, pálida e sangrando nos braços de Caio, e eu, de pé sozinha, pressionada contra a parede, uma pária.

"O que ela fez agora?", a voz de Fernando era um rosnado baixo, desprovido de qualquer calor paternal. Seus olhos, frios e condenatórios, me perfuraram.

Bruno, sempre o observador, viu o sangue no braço de Gabriela, depois minhas mãos trêmulas, meu rosto pálido. Seu maxilar se contraiu. "Ela ainda é a mesma, pai. Um canhão solto. Um perigo para todos ao seu redor."

Meu pai caminhou em minha direção, seu rosto uma máscara de decepção, uma emoção familiar que foi minha companheira constante por anos. "Eu sabia que isso era um erro. Sabia que convidá-la de volta só traria o caos." Ele balançou a cabeça, sua voz pesada de desprezo. "Você é verdadeiramente uma decepção, Bianca. Um fracasso completo e absoluto."

As palavras me atingiram. Decepção. Fracasso. Cicatrizes de uma vida inteira ouvindo essas frases exatas. Eles sempre me culparam. Sempre. Pela morte da mamãe, pela minha fase rebelde, pelas crises fabricadas de Gabriela. Eu era o bode expiatório conveniente, a vilã designada em seu drama familiar perfeito.

Um desespero profundo e esmagador se apoderou de mim. Acabou. O último resquício de esperança, o desejo desesperado e não dito de que eles pudessem, apenas pudessem, ver a verdade, se desfez em pó. Eu estava verdadeiramente sozinha.

Então, uma tosse súbita e violenta me rasgou. Não era a tosse seca e áspera de antes. Esta era profunda, gutural, rasgando meu peito, forçando-me a me curvar. Uma dor lancinante irrompeu em meu estômago, uma onda de agonia que roubou meu fôlego. Meus joelhos cederam. Fechei os olhos, tentando lutar contra isso, mas era forte demais. Senti um jorro quente e metálico na minha boca.

Quando me endireitei, minha mão voando instintivamente para meus lábios, eu vi. Vermelho vivo. Sangue. Escorrendo pelo meu queixo, pingando no chão de mármore impecável. Uma torrente dele. Meu corpo convulsionou, outra tosse violenta, e mais sangue espirrou no chão, uma confissão medonha e inegável.

A sala ficou em silêncio. Caio, embalando Gabriela, congelou. O rosto de Fernando, geralmente tão composto, ficou flácido de choque. Os olhos de Bruno, arregalados de incredulidade, encararam o sangue, depois a mim.

"Bianca?", a voz de Bruno era um sussurro sufocado, um som cru de horror crescente.

"O que... o que é isso?", gaguejou Caio, seus olhos dardejando entre mim e o sangue.

Meu pai, Fernando, simplesmente ficou ali, um olhar incompreensível em seu rosto.

O mundo girou. Minhas pernas cederam. Deslizei pela parede, agarrando meu estômago, a dor um inferno gritante. Minhas roupas estavam encharcadas, pegajosas com meu próprio sangue vital. Olhei para seus rostos, seu choque, sua compreensão crescente.

"Vocês sempre me culpam", eu disse com dificuldade, as palavras borbulhando com outro jorro de sangue, espesso e viscoso. "Sempre. Por tudo." Minha voz era mal um sussurro, rouca e quebrada. "Eu era apenas uma criança. Uma criança que perdeu a mãe. E vocês me culparam."

Meus olhos piscaram para Gabriela, que agora me encarava, sua inconsciência fingida esquecida, substituída por terror genuíno. Depois de volta para Caio, seu rosto pálido, seus braços ainda instintivamente segurando Gabriela, mas seu olhar agora fixo em minha forma sangrando e morrendo.

"Ela... ela encenou tudo", sussurrei, as palavras uma confissão moribunda, uma última tentativa desesperada de verdade. Minha respiração vinha em suspiros irregulares. "O sequestro... as mentiras... ela tirou tudo."

Vi a confusão, o horror crescente, o lampejo de dúvida em seus olhos. Mas era tarde demais. Tarde demais.

"Vocês me chamaram de louca", engasguei, outra tosse sacudindo meu corpo, mais sangue derramando. "Uma maníaca. Mas eu só estava... morrendo."

Então, uma onda de fraqueza profunda me invadiu. Meus olhos perderam o foco. Os rostos do meu pai, meu irmão, Caio, se borraram em formas indistintas. A dor era grande demais. O esgotamento, total.

"Eu não sou o monstro", sussurrei, as palavras mal audíveis, meu olhar agora fixo no teto, procurando uma fuga. "Eu sou o bode expiatório." Uma risada amarga e quebrada escapou dos meus lábios, sufocada pelo sangue e pela dor. "Mas vocês nunca vão acreditar em mim. Vocês nunca acreditaram."

Minha cabeça pendeu para o lado. O mundo ficou preto. Senti-me caindo, caindo em uma escuridão profunda e sufocante, os sons de seu horror crescente se desvanecendo em um zumbido distante.

                         

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