Implorei para o meu pai vir sozinho, sem a minha mãe. Quando ele chegou, pedi para a Dona Josefa me deixar recebê-lo na casa dela. Assim, já falaria com os dois ao mesmo tempo e não corria o risco de o Matheus ouvir. Dona Josefa sempre foi boa para mim, e eu evitava que ela soubesse as coisas e necessidades que eu passava em casa. O mesmo fazia com o meu pai. Nem visitava mais a casa deles, para ele não ver como eu tinha me deteriorado. Minha mãe não se importava, desde que eu fosse uma boa esposa. Tudo o que ela queria era que eu mantivesse a reputação. Dizia que uma mulher separada, ainda mais com filho, não pegava bem e não ia arrumar outro marido bom, que não me batia e não maltratava meu filho.
Então, quando comecei a contar para o meu pai e para a Dona Josefa tudo o que estava acontecendo, minha sogra endoidou:
- Não sei onde meu filho aprendeu isso, porque na minha casa não foi. O pai dele sempre foi o provedor, sempre cuidou da família, nunca deixou nenhuma conta atrasada. Morreu e deixou casa e carro para nós. O que esse menino está pretendendo da vida, engravidando uma em cada esquina?
- Eu não sei, Dona Josefa. Ele me mandou pegar minhas porras e ir embora. Ainda disse que eu não tenho direito a nada aqui, é tudo dele.
- Uma ova que é dele. É tudo meu. Ainda não morri, e vou procurar um bom advogado e doar a parte dele para os meus netos. Quando eu morrer, ele pode ficar com o que é meu, mas até lá vou dar uma lição naquele moleque e ensiná-lo a tratar uma mulher.
- É, mas ele mandou minha filha pegar as porras dela e ir embora, e é isso que ela vai fazer. - Ele virou o rosto para mim. - Letícia, pega tudo o que eu comprei com o meu dinheiro.
Meu pai contratou um marceneiro, que desmontou todos os meus móveis. Também pagou duas meninas para embalar tudo, para eu não me esforçar.
Juliano, vendo tudo aquilo, tentou se explicar, mas o meu pai, sempre tão calmo e pacífico, ameaçou quebrar todos os dentes dele se me dirigisse à palavra de novo. Eu não vi, mas soube que foi a primeira vez que o meu pai enfrentou a minha mãe. Ela não queria aceitar, mas ele a obrigou.
Enquanto o pessoal trabalhava na minha casa para embalar minhas coisas e desmontar meus móveis, Dona Josefa me mandou ficar na casa dela, enquanto outro pessoal trabalhava na edícula da casa dos meus pais. Era um cômodo e cozinha, mas para mim estava ótimo. Meu pai não trabalhou naqueles cinco dias para acompanhar tudo.
Na segunda noite depois da decisão, Juliano foi tentar dormir na casa da mãe dele, descobriu que eu estava lá, e Dona Josefa foi muito solícita com ele:
- O galo onde canta, ele janta. Minha preocupação agora é com a mulher que você não achou na rua. Você entrou na casa dos pais dela, prometeu se responsabilizar por ela e pelos frutos que viessem desse casamento. Foi o que você aprendeu no convívio dos seus pais, mas não foi o que você fez. Uma desavergonhada da rua achou que seria natural te convencer que trair e abandonar uma mulher boa, com quem você casou, deu seu nome e colocou dois filhos, era o melhor caminho para a sua vida? Pois tudo o que tenho a te dizer é que não a quero na minha casa, que não reconheço essa outra como minha nora, só a Letícia. Mesmo que ela encontre um homem de verdade lá na frente, ela vai ser a minha nora. E tenho um recado para essa sirigaita aí: avisa para ela que, se ela pegou marido de outra, sente e aguarde, que o chifre dela está em análise.
A partir dali, aconteceu tudo muito rápido. Dona Josefa ficava a maior parte do tempo com o Matheus, para eu cuidar da gestação de alto risco. Quando eu estava de oito meses, saiu o nosso divórcio.
No dia de assinar, Juliano me procurou antes da audiência. Abatido, perguntou se era o que eu queria mesmo:
- Pensa, Letícia. Espere mais um pouco, pelo menos até a bebê nascer e o nome de registro dela ser o mesmo que o do Matheus.
- Não se preocupe com isso, Juliano. Elisa vai ser bem resolvida com a ausência do seu sobrenome no nome de mãe. Vou criar a minha filha muito diferente do que a minha mãe me criou. Para ela não querer sair correndo de casa na primeira oportunidade, para os braços do primeiro idiota que vai maltratá-la.
No dia em que assinei o divórcio, soube que ele estava implorando para voltar para a casa da Dona Josefa. A tal sirigaita que virou a cabeça dele era filha do patrão.
Ele foi demitido porque a mocinha estava grávida do primo e, sem saber o que fazer, disse para o pai que era dele. Então seduziu o trouxa para corroborar a própria farsa, mas o bebê nasceu havia uma semana. Tão preto que nem nos melhores sonhos dela poderia confirmar que era do Juliano, branco, de olhos azuis. O primo assumiu, o chefe recontratou o Juliano, mas ele já não tinha onde morar.
De tudo isso, só gostei da parte em que ele tinha emprego de novo e a pensão das crianças estava garantida.