A Mentira de Três Anos: A Vingança da Esposa
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Capítulo 2

O pavor gelado da aparição súbita de Eduardo ainda me assombrava, mas eu o empurrei para o fundo, bem lá dentro. O jogo de fato havia começado, e eu tinha que ser impecável.

"Ah, Eduardo", gemi, deixando meu corpo cair um pouco, projetando vulnerabilidade. "Minha cabeça dói muito. E meu rosto... está ardendo." Toquei minha bochecha, fingindo uma lembrança fresca do tapa. "Aquela mulher... quem era ela? Por que ela me bateu?"

A expressão de Eduardo suavizou, uma mudança sutil que eu sabia ser falsa. Ele se ajoelhou ao meu lado, sua mão gentil em meu braço. Um arrepio de repulsa percorreu meu corpo, mas me forcei a suportar.

"Aquela era Amélia, querida", ele disse, sua voz tingida de uma falsa simpatia. "Ela é... um pouco possessiva. Ela acreditou que você estava tentando me seduzir. Um mal-entendido, só isso." Ele suspirou, balançando a cabeça como se estivesse frustrado com a infantilidade dela. "Ela é muito jovem, muito insegura. Mas inofensiva, de verdade."

Inofensiva. A palavra tinha gosto de cinzas na minha boca. Inofensiva, a mulher que me atacou brutalmente, desencadeando o retorno de minhas memórias. Inofensiva, a mulher que roubou minha vida inteira.

Olhei para ele, meus olhos arregalados e aparentemente confusos. "Te seduzir? Mas... não somos casados? Você disse que éramos. Por que ela pensaria isso?" O tom de questionamento inocente era difícil de manter, mas eu consegui.

Ele desviou o olhar por uma fração de segundo, um brilho de algo indecifrável em seus olhos. Culpa? Não, não Eduardo. Irritação, talvez, por ter que navegar em sua própria teia de mentiras.

"Claro que somos casados, Elisa", ele disse, sua voz firme, atraindo meu olhar de volta para o dele. "Ela só... ela teve uma vida difícil. Ela te admira, sabe. Sempre admirou. Ela só estava com ciúmes da nossa felicidade."

Suas palavras reviraram meu estômago. Admiração parecia uma piada cruel agora. Ele era bom nisso, pensei. Tão bom em distorcer a realidade, em se pintar como o protetor benevolente. Mas eu sabia a verdade. Eu me lembrava do nosso passado.

Lembrei-me de encontrar uma pilha de documentos incriminadores, provas de seus negócios escusos, suas contas no exterior. Eu o ameacei de expô-lo se ele não concordasse com o divórcio e ficasse fora da minha vida. Devia ser por isso. Por que ele precisava que eu sumisse. Por que o acidente. Por que a perda de memória foi tão conveniente. Ele não queria perder o controle. Nem de mim, nem do legado da minha família. Ele tentou acabar comigo, depois me reivindicou.

Ele se inclinou, seu hálito quente em meu ouvido. "Não se preocupe com a Amélia, meu amor. Ela é apenas uma criança. Ela precisa aprender uma lição, claramente. Vou me certificar de que ela entenda seu lugar." Ele acariciou meu cabelo, seu toque me arrepiando. "Você é minha esposa, Elisa. Sempre foi, sempre será."

Uma risada amarga ameaçou escapar de mim. Sua esposa. Enquanto ele era casado com Amélia. A audácia. O mal puro e absoluto. Mas mantive minha expressão em branco, meu corpo imóvel.

"Ela precisa entender seu lugar", repeti suavemente, minha voz ainda pequena, mas com uma sutil nova borda que só eu podia ouvir. "Ela me machucou, Eduardo. Fisicamente. Isso não está certo." Olhei para ele, deixando uma única lágrima traçar um caminho pela minha bochecha. "Ela não deveria poder simplesmente... machucar as pessoas."

Ele assentiu, a mandíbula tensa. "Você está certa, querida. Absolutamente certa. Eu vou cuidar dela." Ele me ajudou a levantar, seu braço em volta da minha cintura, me guiando em direção à porta. O ambiente familiar da mansão agora parecia opressivo, cada detalhe opulento um lembrete da minha gaiola dourada.

Assim que chegamos ao corredor, um cheiro familiar flutuou em nossa direção. Perfume doce e enjoativo. Amélia. Ela apareceu de uma esquina, seus olhos dardejando entre Eduardo e eu, um sorriso triunfante brincando em seus lábios. Ela usava um robe de seda, um dos meus robes, reconheci o bordado intrincado.

"Eduardo, querido!", ela arrulhou, ignorando completamente minha presença. "Você vem? Pensei que íamos discutir os projetos da nova ala. Sabe, aquela para nossa suíte master." Seu olhar se voltou para mim, um flash de pura malícia. "Ah, ela ainda está aqui? Pensei que ela estaria... descansando."

Meu sangue gelou. A nova ala. A suíte master. Minha suíte master.

"Amélia", disse Eduardo, sua voz agora afiada, um aviso. "Estávamos apenas conversando. Elisa está bastante chateada."

Amélia riu, um som áspero e quebradiço. "Chateada? Com o quê? Que ela não é mais a abelha rainha? Que eu sou?" Ela se aproximou, seus olhos brilhando com confiança predatória. "Olhe para ela, Eduardo. Uma sombra de quem já foi. A grande Elisa Esteves. Reduzida a isso. É quase patético."

Ela enfiou a mão no bolso do meu robe e tirou algo. Um medalhão de prata. Meu medalhão. Aquele que minha mãe me deu no meu aniversário de dezoito anos. Dentro havia fotos dos meus pais, jovens e rindo.

"Isso é seu?", ela perguntou, balançando-o na minha frente, sua voz pingando uma inocência fingida. "Eu encontrei. Tão antiquado, não é? Mas Eduardo disse que você costumava adorar. Engraçado como as coisas mudam." Ela o abriu, revelando as imagens minúsculas e desbotadas.

Minha respiração falhou. As imagens dos meus pais, seus rostos gravados com alegria. Agora, esses rostos se foram, vítimas de uma mentira cruel. Uma dor crua e penetrante atravessou meu peito. Meu medalhão. Meus pais.

Olhei para o medalhão, depois para Amélia, depois de volta para Eduardo. Meu rosto permaneceu uma máscara de confusão, mas por dentro, um vulcão entrou em erupção.

"O que... o que é isso?", perguntei, minha voz trêmula, lágrimas brotando em meus olhos. A confusão era real, uma mistura da amnésia fingida e da sobrecarga emocional genuína. "Por que você está me mostrando isso?"

Amélia sorriu. "Ah, ela não se lembra nem disso? Que triste." Ela se virou para Eduardo. "Viu? Eu te disse que ela estava completamente perdida. Ela nem reconhece as próprias heranças de família."

Eduardo agarrou o braço de Amélia, seu aperto firme. "Chega, Amélia."

"Não, não chega!", ela retrucou, puxando o braço. "Ela precisa saber seu lugar! Ela precisa saber que eu sou a mulher desta casa agora. Eu sou quem você ama. Eu sou Elisa Esteves!"

Olhei para Eduardo, deixando minha confusão se transformar em um espanto infantil. "Elisa Esteves? Mas... não é esse o meu nome?"

O rosto de Eduardo empalideceu. Ele olhou de Amélia para mim, um brilho de pânico em seus olhos. "Chega!", ele rugiu, sua voz ecoando no grande corredor. "Vocês duas! Isso é ridículo." Ele se virou para mim, sua voz rapidamente recuperando sua falsa calma. "Elisa, querida, ela está... ela está um pouco confusa. Ela só quer ser como você. Você era o ídolo dela, afinal."

Ele se virou de volta para Amélia, sua voz um silvo baixo. "Vá para o seu quarto, Amélia. Agora. Conversaremos sobre isso mais tarde."

Amélia me fuzilou com o olhar, depois para Eduardo. Ela saiu batendo o pé, o robe de seda balançando, mas não antes de me dar um último olhar de desprezo.

Observei-a ir, meu coração batendo forte. Eduardo se virou para mim, seu rosto uma máscara complexa de frustração e ternura forçada.

"Sinto muito por isso, Elisa", ele disse, pegando minha mão. Seu toque era frio, úmido. "Ela é apenas... ela é muito emotiva. E ela é muito protetora comigo. Ela entendeu tudo errado." Ele suspirou dramaticamente. "Seu acidente... foi tão traumático para todos. Ela sofreu muito. Ela se sentiu tão culpada por não poder te proteger."

Minha mente girou. Ele era bom. Tão bom. Culpando Amélia, mudando a narrativa, torcendo a faca. Ele estava culpando a própria mulher que orquestrou minha queda, por sua culpa.

"Mas... ela disse que era Elisa Esteves", sussurrei, minha voz ainda frágil. "Mas você disse que eu era Elisa Esteves. Eu não entendo."

Ele apertou minha mão. "É uma longa história, meu amor. Mas a versão curta é que ela é... ela é uma parente distante. Ela pegou seu nome, como uma homenagem. Após sua 'morte', foi... uma forma de ela continuar seu legado. Foi a maneira dela de lidar com a perda. E uma forma de manter as Indústrias Esteves à tona. A família precisava de um rosto, um nome. E ela se voluntariou." Ele sorriu tristemente. "Foi bastante corajoso da parte dela, na verdade. Assumir um papel tão grande."

A pura audácia de suas mentiras me fez tremer, um tremor que disfarcei de medo. O legado dos meus pais. Assumir meu papel. Ele era um monstro. Ambos eram monstros.

"Mas... ela me machucou", eu disse novamente, minha voz falhando. "Por que ela me machucaria se me admirava? Se estava continuando meu legado?"

Ele me puxou para mais perto, envolvendo-me em seus braços. Eu enrijeci, lutando contra o impulso de empurrá-lo para longe. "Ela está com medo, meu amor. Com medo de me perder. Com medo de perder o que ela construiu. Ela te vê como uma ameaça. Mas ela não entende. Não há ameaça. Só existe você. Minha Elisa."

Ele beijou o topo da minha cabeça, um gesto possessivo que me arrepiou. "Eu nunca deixaria nada acontecer com você, minha querida. Nunca mais."

As palavras ecoaram em minha mente. "Nunca mais." Soavam como uma promessa, mas eu ouvi uma ameaça. Ele nunca me deixaria sair de sua vista. Ele nunca me deixaria escapar de seu controle.

"Eu... eu não sei, Eduardo", murmurei, afastando-me um pouco. "Sinto-me tão confusa. Só quero que tudo pare. Tudo."

Ele olhou para mim, um olhar calculado de preocupação em seu rosto. "Eu entendo, meu amor. Você passou por tanta coisa. Talvez... talvez seja melhor nos concentrarmos em nós. Em reconstruir suas memórias. Em nosso amor."

Ele se inclinou, tentando me beijar. Virei a cabeça, deixando minha "confusão" ser meu escudo. "Eu... não estou pronta. Minha cabeça ainda dói." Empurrei seu peito levemente, um gesto de rejeição gentil que não o provocaria. "E eu não gosto dela. Ela me machuca. Não a quero perto de mim."

Ele suspirou, um som de sofrimento prolongado. "Mas ela é minha... ela é minha família também, Elisa. Ela é o rosto público das Indústrias Esteves. Não podemos simplesmente mandá-la embora." Ele fez uma pausa, um brilho perverso em seus olhos. "A menos que... a menos que você queira ser o rosto público novamente? Reivindicar seu lugar?"

Meu coração bateu forte. Isso era um teste? Ou uma oportunidade?

"Eu não sei", sussurrei, fingindo desamparo. "Eu só... eu só quero paz. E que ela não me toque. Ou me machuque. Ou diga aquelas coisas terríveis."

Ele sorriu, um sorriso sombrio e calculista. "E se... e se vocês duas ficassem? E simplesmente... coexistissem? Pense nisso, Elisa. Vocês duas ao meu lado. Você, o verdadeiro coração das Indústrias Esteves, a mulher com quem eu realmente me casei. E Amélia, o rosto público obediente. Não seria... ideal?"

Meu sangue gelou. Ele queria nós duas. Ele queria manter seu império roubado, sua esposa roubada e sua prisioneira, a verdadeira dona de tudo. Ele era verdadeiramente desprezível.

Mas um novo pensamento surgiu. Uma ideia, fria e afiada. Essa era sua fraqueza. Sua ganância. Seu desejo de ter tudo.

"Não sei se consigo", eu disse, minha voz pouco acima de um sussurro. "Ela é tão... cruel. Ela me odeia."

"Então ela não será mais cruel", ele prometeu, sua voz firme. "Eu vou me certificar disso. Ela não ousará tocar em você novamente. Ela não dirá nada para te chatear. Você tem minha palavra. Contanto que você... tente entender a posição dela. E aceite que somos todos... uma grande família agora."

Olhei para ele, meus olhos cheios de incerteza fingida. "E ela não vai... ela não vai mais fingir ser eu? Ela não vai dizer às pessoas que é sua esposa?"

Ele hesitou, depois deu um sorriso tenso e artificial. "Ela já está nesse papel, meu amor. É tarde demais para mudar isso. Mas ela não vai te diminuir. Eu prometo. Você sempre será minha Elisa." Ele fez uma pausa, seus olhos brilhando. "Então, o que você me diz? Uma trégua? Por mim?"

Meu estômago se revirou. Uma trégua. Com a mulher que ajudou a destruir minha vida. Com o homem que ordenou minha morte. Mas essa era minha chance. Minha única chance. De ficar, observar, reunir provas.

"Ok", sussurrei, minha voz quase inaudível. "Mas... ela tem que ficar longe de mim. Sem mais toques. Sem mais tapas. Sem mais se chamar... pelo meu nome." Fiz um show de desviar o olhar, como se não pudesse suportar o pensamento.

Ele assentiu, um olhar triunfante em seus olhos. "Combinado. E em troca, meu amor, você será gentil com ela. Entenderá a situação dela. Afinal, ela assumiu quando você estava... incapacitada."

Minhas mãos se fecharam em punhos, escondidas de sua vista. Incapacitada. Ele quis dizer morta. Concordei com um pequeno e relutante aceno de cabeça, minha mandíbula tensa.

Uma resolução fria e dura se instalou profundamente dentro de mim. Ele achava que tinha vencido. Ele achava que me tinha presa. Mas ele acabara de me dar as chaves de seu reino. Eu encontraria uma saída. Eu reuniria cada pedaço de evidência. Eu reivindicaria meu nome, minha fortuna, minha identidade. E eu o faria pagar por cada mentira, cada momento roubado, cada gota de sangue, cada lágrima. Ele se arrependeria do dia em que cruzou o caminho de Elisa Esteves.

Isso não era uma trégua. Isso era guerra. E ele não tinha ideia de contra quem estava realmente lutando. Secretamente, peguei o celular pré-pago ainda escondido no meu bolso, pressionando o botão de gravação. Cada palavra a partir de agora seria uma arma.

"Boa menina", ele ronronou, acariciando meu cabelo. "Essa é a minha Elisa. Sempre tão compreensiva."

Engoli a bile que subia pela minha garganta. Compreensiva? Ele veria. Ele entenderia em breve.

            
            

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