A Mentira de Três Anos: A Vingança da Esposa
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Capítulo 4

A "sala de terapia" era um contraste gritante com a cobertura opulenta. Era uma câmara fria e esparsamente mobiliada, sem janelas, à prova de som. Uma única cama, uma pequena mesa, uma porta de aço. Uma prisão.

Horas depois, Eduardo voltou. Ele me encontrou encolhida na cama, meu corpo ainda dolorido do ataque de Amélia e do tratamento rude dos guardas. Minha bochecha latejava, um lembrete constante da agressão física.

Ele se sentou na beirada da cama, sua presença pesada, sufocante. Ele estendeu a mão, tocando gentilmente as marcas vermelhas e raivosas em minha bochecha. Eu recuei, afastando-me, mas ele segurou firme.

"Dói, meu amor?", ele perguntou, sua voz tingida de uma ternura falsa. "Amélia pode ser... impetuosa. Mas ela se importa com você, à sua maneira."

Meu estômago se revirou. Ele ainda estava jogando o jogo. Ainda me manipulando.

"Ela me atacou, Eduardo", eu disse, minha voz rouca, mas firme. Olhei-o diretamente nos olhos. "Ela quebrou o broche da minha avó. Aquele com o brasão dos Esteves."

Seu rosto escureceu, um brilho de genuína irritação cruzando suas feições. "Ela me disse que você tentou atacá-la primeiro. Que você estava tentando pegar algo. Ela estava se defendendo." Ele pegou o broche quebrado, que ele deve ter trazido consigo. Ele examinou a filigrana partida. "Isso era muito importante para ela, Elisa. Ela alegou que você estava tentando destruí-lo, por ciúmes."

Meu sangue gelou. A pura audácia. Ele estava distorcendo a verdade tão facilmente, tão naturalmente. Fazendo de mim a agressora, a ciumenta.

"Ciúmes?", zombei, uma risada amarga escapando de mim. "Aquilo era da minha avó, Eduardo! Da minha família! Ela quebrou! Ela destruiu algo insubstituível!"

Ele ergueu uma mão. "Agora, agora, Elisa. Não vamos exagerar. É uma peça antiga. E Amélia... foi um presente meu para ela. Da família Esteves." Ele olhou para mim, seus olhos duros. "Você precisa entender, Elisa, que Amélia agora é o rosto das Indústrias Esteves. Ela carrega o nome da sua família. Seu legado. Este broche, representa isso. Era dela para fazer o que quisesse. Você não tinha o direito de tentar tirá-lo dela."

As palavras me atingiram como um golpe físico. Sem direito. Minha própria herança de família. Presentes de meus pais e avós. Dados a Amélia. Dados à mulher que estava fingindo ser eu. E eu não tinha direito.

Uma raiva fria e inabalável se instalou em minha alma. Este homem, meu ex-marido, era um monstro. Um verdadeiro monstro.

"Então, você está dizendo", eu disse, minha voz pingando gelo, "que minha herança, as joias da minha família, meu próprio nome... tudo pertence a Amélia agora? E eu, Elisa Esteves, não tenho direito a eles? Nenhum direito a nada?"

Ele sorriu, um sorriso assustadoramente agradável. "Exatamente, meu amor. Você entende perfeitamente. Você é minha preciosa Elisa. E Amélia... ela é o rosto público. Aquela que continua o nome. Ela representa tudo o que você já foi." Ele fez uma pausa, seu olhar varrendo meu rosto machucado, minhas roupas rasgadas. "E tudo o que você não é mais."

Meu corpo tremeu, não de medo, mas de uma fúria aterrorizante. Ele estava se deleitando com minha humilhação, com minha impotência. Ele gostava de me despojar de tudo.

"Você é desprezível", sussurrei, as palavras quase inaudíveis. "Você é verdadeiramente, totalmente desprezível."

Seu sorriso não vacilou. "Palavras tão duras, meu amor. Mas eu te perdoo. Você ainda está se recuperando. E você precisa ser ensinada. Aprender seu lugar. Entender a nova realidade."

Ele se levantou, pairando sobre mim. "Amélia precisa se sentir segura. Ela precisa saber que você não ameaçará sua posição. E você, minha querida, precisa aprender o comportamento adequado." Ele enfiou a mão no bolso e tirou um pequeno e requintado pingente de esmeralda. O pingente da minha mãe. Aquele que eu vi Amélia usando.

Ele o balançou na minha frente. "Acredito que isso já foi seu. Agora é de Amélia. Ela o preza. Como deveria. É um símbolo de sua nova vida. Assim como isto..." Ele gesticulou para o quarto ao meu redor. "... é um símbolo da sua. Uma vida tranquila e protegida. Como minha... companheira."

Ele fez uma pausa, depois jogou o pingente na cama ao meu lado. "Isto é um presente, Elisa. Um sinal da minha generosidade. Para te lembrar de cuja bondade te mantém viva. E para te lembrar de quem realmente controla tudo agora."

Olhei para a esmeralda, depois para ele. O ódio frio em meu coração se solidificou. Ele estava me dando a joia da minha própria mãe como um "presente" por meu bom comportamento. Era além de cruel. Era um ato calculado de tortura psicológica.

"Eu nunca vou esquecer isso, Eduardo", eu disse, minha voz baixa, cheia de uma promessa de retribuição. "Nunca."

Ele riu, um som sem alegria. "Ah, espero que sim, meu amor. Pelo seu próprio bem." Ele caminhou em direção à porta. "Amanhã, você começará sua 'reeducação'. Você aprenderá a ser uma companheira adequada. A ser grata. A ser... maleável."

Meu coração martelou contra minhas costelas. "Reeducação?"

Ele se virou, um sorriso arrepiante no rosto. "Sim. Precisamos nos certificar de que você se comporte, minha querida. Afinal, você é bastante difícil quando não é devidamente... gerenciada." Ele fez uma pausa na porta. "E sua primeira lição começa com um rosto familiar. Alguém que te conhece bem. Alguém que pode te ajudar a entender seu novo papel."

Ele abriu a porta. Parada ali estava uma mulher. Minha ex-assistente pessoal. Uma mulher em quem eu confiava implicitamente, uma mulher que trabalhou para mim por anos. Seu nome era Brenda. Ela também me traiu.

Meu estômago despencou. Brenda. A mulher que conhecia todos os meus segredos, todas as minhas vulnerabilidades. A mulher que agora estava ali, uma expressão fria e insensível em seu rosto, como uma guarda de prisão.

"Eduardo", eu disse, minha voz trêmula, um tremor genuíno de nojo. "Qual é o significado disso?"

Ele sorriu, um brilho predatório em seus olhos. "Brenda está aqui para te ajudar, Elisa. Para te guiar. Para te ensinar a ser a companheira perfeita. Ela conhece todos os seus velhos hábitos. Ela sabe como quebrá-los." Seu olhar era zombeteiro. "Afinal, quem melhor para te 'gerenciar' do que alguém que você já considerou uma amiga?"

Meu sangue gelou. A humilhação. A traição. Brenda, que sempre fora tão leal, tão gentil. Agora, ela era seu instrumento de tortura.

"Seu canalha", sussurrei, minha voz grossa de ódio. "Seu canalha absoluto."

Ele simplesmente deu de ombros, seu sorriso inabalável. "Que linguagem, Elisa. Brenda vai te ensinar melhor. Não vai, Brenda?"

Brenda deu um passo à frente, seus olhos desprovidos de calor. "Sim, Sr. Dantas. Vou garantir que a Sra. Esteves entenda sua nova posição."

Olhei para ela, depois de volta para Eduardo. Uma onda de náusea me invadiu. Ele não estava apenas me controlando; ele estava profanando meu passado, distorcendo cada relacionamento que eu já valorizei. Este era um novo nível de baixeza.

"Você não vai se safar com isso, Eduardo", eu disse, minha voz se elevando, alimentada por uma súbita e desesperada onda de desafio. "Você não vai me quebrar."

Ele riu, um som frio e vazio. "Ah, minha querida Elisa. Você já está quebrada. Você só não sabe ainda." Ele se virou para sair, mas não antes de lançar um último e arrepiante olhar por cima do ombro.

"Bem-vinda à sua nova vida, Elisa."

A porta bateu com um estrondo, mergulhando-me de volta na escuridão silenciosa e sufocante. Fiquei ali, tremendo, o pingente de esmeralda ainda na cama. Brenda ficou em silêncio logo dentro da porta, seu rosto uma máscara em branco. Ele realmente pensou em tudo.

Mas ele me subestimou. Ele subestimou o fogo que agora queimava em minha alma. Ele queria me quebrar? Ele só me forjaria mais forte. Ele me queria maleável? Ele encontraria uma lâmina de aço onde esperava massa de modelar.

Minha vingança seria lenta, metódica e totalmente devastadora. E ele nunca a veria chegando.

                         

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