A Mentira de Três Anos: A Vingança da Esposa
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Capítulo 3

No dia seguinte, Eduardo insistiu em me mudar da mansão de alta segurança em Angra dos Reis para nossa antiga cobertura em São Paulo. Ele chamou isso de "reintegrar-me", um passo em direção a uma vida mais normal. Eu sabia que era outra camada de seu controle distorcido.

No momento em que as portas do elevador se abriram para a cobertura, uma onda de náusea me invadiu. Era nossa casa, o lugar onde Eduardo e eu havíamos construído uma vida, onde havíamos compartilhado sonhos. Agora, estava irreconhecível.

O espaço minimalista e cheio de arte que eu havia curado com tanto cuidado se fora. Em seu lugar, havia uma profusão de móveis de veludo felpudo, detalhes dourados ornamentados e pinturas abstratas berrantes. As cores eram altas, conflitantes. Meu santuário silencioso havia sido profanado.

"Surpresa, querida!" Amélia apareceu da sala de estar, um sorriso triunfante no rosto. Ela estava envolta em um vestido de seda, a cor um fúcsia chocante que fazia meus olhos doerem. "Gostou do que eu fiz com o lugar? Eduardo disse que você adoraria meu toque moderno."

Meu olhar varreu a sala, pousando no lustre de cristal ornamentado que agora pendia onde antes havia uma luminária elegante e de design personalizado. Lembrei-me de passar semanas com um artesão renomado, projetando aquela peça. Tinha sido mais do que apenas uma luz; era um símbolo de nossa visão compartilhada, nosso futuro. Agora, se fora.

"Isto", Amélia ronronou, gesticulando grandiosamente com uma mão bem cuidada, "é nossa casa, Elisa. Eduardo me deixou redecorar completamente. Ele disse que seu estilo antigo era um pouco... datado. Frio demais."

Meu coração se apertou. Frio? Meu design era minimalista, elegante, um reflexo da minha alma. Eduardo sempre amou. Ele sempre elogiou meu gosto, meu olho para detalhes. Ou assim eu pensava. Lembrei-me dele dizendo, anos atrás, quando eu estava agonizando sobre um tom particular de cinza para as paredes: "Está perfeito, Elisa. Este espaço reflete você. É sereno, sofisticado. É lar."

Meu estômago se revirou. A hipocrisia. O desrespeito flagrante por tudo que um dia foi meu. Ele havia me negado uma simples troca de tecido de cortina quando eu pedi, alegando que as existentes eram "perfeitas". Agora, o apartamento inteiro era um monumento ao gosto brega de Amélia.

"É... diferente", consegui dizer, minha voz plana. Vi o flash de decepção nos olhos de Amélia, rapidamente substituído por uma satisfação presunçosa. Ela queria uma reação, um colapso. Eu não lhe daria essa satisfação.

Eduardo se aproximou por trás de mim, envolvendo um braço em minha cintura. "Viu, eu te disse que ela ficaria surpresa, Amélia." Ele beijou minha têmpora. "É lindo, não é, meu amor? Amélia fez um trabalho maravilhoso."

Afastei-me de seu toque, sutilmente, mas o suficiente para criar um pequeno espaço entre nós. "É certamente... ousado", eu disse, um sorriso fraco e sardônico tocando meus lábios. Deixe-os interpretar como admiração ou confusão. Eu não me importava.

"Eduardo", disse Amélia, sua voz baixando para um sussurro sedutor, "acho que deveríamos comemorar. Só nós dois. Tenho uma garrafa daquele champanhe vintage que você gosta." Ela puxou seu braço, seus olhos dardejando para mim com um olhar possessivo.

Eduardo hesitou, seu olhar se voltando para mim. Eu sabia o que ele queria. Ele queria manter a fachada de meu "amante", sua "esposa". Mas ele também queria Amélia. Ele sempre quis os dois. Sua ganância não conhecia limites.

Uma oportunidade perfeita.

"Ah, vá em frente, Eduardo", eu disse, forçando um sorriso cansado. "Vocês dois deveriam comemorar. Eu... acho que vou me deitar. Toda essa... mudança é um pouco avassaladora." Esfreguei minhas têmporas, fingindo uma dor de cabeça. "Talvez Amélia possa me mostrar qual é o meu quarto? Não quero me perder."

Os olhos de Amélia se arregalaram, um brilho de surpresa, depois de alegria maliciosa. Ela provavelmente pensou que eu estava finalmente aceitando meu lugar como a amante, a mulher esquecida.

"Claro, querida", Amélia ronronou, sua vitória evidente. Ela agarrou meu braço, seu aperto surpreendentemente forte. "Venha, vou te mostrar sua... suíte de hóspedes."

Ela me conduziu pelo corredor, seu perfume quase sufocante. Passamos pelo que costumava ser meu escritório particular, depois meu ateliê de arte, ambos agora redecorados além do reconhecimento. Cada passo era uma nova facada de dor, um lembrete do que eles haviam tirado.

Ela parou em uma porta, abrindo-a com um floreio. "Aqui está. Seu pequeno santuário."

Era um quarto pequeno, escondido, longe das áreas de estar principais e, crucialmente, longe da suíte master. Meu estômago se contraiu. Este costumava ser o quarto de hóspedes. O quarto que a própria Amélia ocupou quando ficou conosco pela primeira vez. A ironia era um gosto amargo.

O quarto estava cheio de móveis berrantes, claramente sobras da redecoração principal. Na cômoda, uma coleção de bolsas e sapatos de grife estava jogada casualmente.

"Estes são apenas alguns dos meus extras", disse Amélia, gesticulando vagamente para os itens. "Tenho tantos que nem sei o que fazer com todos eles. Eduardo é tão generoso." Ela pegou um relógio cravejado de diamantes. "Ele me comprou isso na semana passada. Para nosso terceiro aniversário."

Três anos. O aniversário da minha "morte". Meu sangue gelou.

"É lindo", eu disse, minha voz cuidadosamente neutra. Caminhei até uma vitrine de vidro, cheia de joias brilhantes. Amélia me seguiu, observando-me como um falcão.

"E estas são minhas peças do dia a dia", ela disse, sua voz pingando uma casualidade afetada. "Eduardo insistiu. Afinal, uma mulher na minha posição precisa parecer o papel, não é?"

Meu olhar varreu as joias cintilantes. Colares, pulseiras, anéis. Minha respiração falhou. Lá, aninhado em uma almofada de veludo, estava o pingente de esmeralda da minha mãe. Aquele que eu usei no dia do meu casamento. Aquele que deveria ser passado por gerações de mulheres Esteves.

Meu coração bateu forte, um tambor frenético contra minhas costelas. O pingente da minha mãe. Minhas joias de casamento. Nada era sagrado para eles? Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu as contive. Era tudo meu. Tudo.

Foquei em outra peça, um pequeno e intrincado broche de filigrana de prata. Era uma herança de família, um presente da minha avó, especialmente desenhado com o brasão dos Esteves. Não era chamativo, mas tinha um imenso valor sentimental. Meu pai costumava me contar histórias de sua avó usando-o.

Amélia notou meu olhar. "Ah, essa coisa velha?", ela zombou, pegando o broche com um movimento desdenhoso do pulso. "Eduardo disse que era da sua avó. Tão antigo. Nem sei por que ainda guardo. Não é bem o meu estilo, não é?" Ela o girou descuidadamente entre os dedos.

Um fogo ardente se acendeu dentro de mim. O broche da minha avó. O legado da minha família. Sendo profanado por essa... essa víbora.

"É... bastante único", eu disse, minha voz tensa. "Muito tradicional."

"Tradicional significa chato", declarou Amélia, uma torção feia em sua boca. "Mas suponho que você gostaria. Você sempre foi tão... clássica." Ela sorriu, um sorriso provocador e odioso. "Como uma peça de museu. Eduardo sempre disse que você era séria demais, antiquada demais."

As palavras doeram, mas a raiva que crescia dentro de mim era muito maior. Ele me chamou disso? O homem que uma vez amou minha elegância "clássica"?

"Acho que vou tomar um banho", eu disse, minha voz deliberadamente calma. Virei-me para sair, precisando escapar antes de perder o controle.

"Ah, não se preocupe", disse Amélia, sua voz me seguindo. "Não vou deixar o Eduardo vir te incomodar. Ele é todo meu esta noite. Temos que... colocar o papo em dia." Seu significado era claro, deliberadamente cruel. Ela queria torcer a faca, me lembrar do meu lugar.

Caminhei em direção ao banheiro, meus punhos cerrados ao lado do corpo. Podia ouvir a risada triunfante de Amélia ecoando atrás de mim.

Então, uma fúria súbita e cega me invadiu. Sem pensar, virei-me, pegando um pesado vaso de cristal de uma mesa próxima. Minha intenção era apenas quebrá-lo, fazer barulho, extravasar minha raiva. Mas Amélia havia dado um passo em minha direção, seu sorriso ainda zombeteiro.

Nossos olhos se encontraram.

"Você", rosnei, minha voz crua, a fachada de amnésia momentaneamente rachando. "Você roubou tudo."

Os olhos de Amélia se arregalaram, sua presunção momentaneamente substituída por choque. "O que você disse?"

Avancei, não para ela, mas para o broche que ela ainda segurava. Minha mão disparou, tentando arrancá-lo de sua palma descuidadamente aberta.

"Devolva!", gritei, minha voz ressoando com uma fúria que eu não sabia que possuía.

Amélia gritou, agarrando o broche contra o peito. "Fica longe de mim, sua vadia louca!" Ela atacou, suas unhas arranhando meu rosto.

Uma nova dor ardente irrompeu em minha bochecha, somando-se à latejante do tapa anterior. Foi o suficiente. Meu controle se quebrou. Os anos de manipulação, a vida roubada, os pais mortos, a identidade usurpada - tudo se fundiu em um único momento explosivo.

Agarrei o braço de Amélia, torcendo-o, forçando-a a soltar o broche da minha avó. Ele caiu no chão de mármore, a prata brilhando sob as luzes fortes.

"Você não merece!", cuspi, minha voz tingida de veneno.

Amélia gritou novamente, seu rosto contorcido em uma máscara de puro ódio. "Socorro! Guardas! Ela está me atacando!"

Antes que eu pudesse reagir, ela avançou, suas mãos voando em direção ao meu cabelo, arranhando, puxando. Tropeçamos, caindo sobre um tapete felpudo, indo ao chão. Ela se arrastou para cima de mim, seu peso me prendendo, suas mãos voando, batendo, arranhando.

"Sua vadia! Você está morta! Você deveria estar morta!", ela gritou, sua voz rouca de raiva. "Você estragou tudo!"

Lutei de volta, alimentada por pura adrenalina e anos de raiva reprimida. Dei-lhe uma joelhada, empurrei-a, tentei desalojá-la. Mas ela era forte, desesperada.

De repente, a porta se abriu com um estrondo. Dois guardas corpulentos, homens de Eduardo, entraram correndo. Amélia parou imediatamente, olhando para eles com olhos grandes e assustados, seu rosto se transformando em uma vítima inocente. Seu cabelo estava bagunçado, alguns arranhões em seu braço, uma única lágrima rolando por sua bochecha. Eu? Meu rosto estava um caos, manchas de sangue misturadas com lágrimas, meu cabelo desgrenhado, minhas roupas rasgadas.

"Ela me atacou!", Amélia lamentou, apontando um dedo trêmulo para mim. "Ela ficou completamente louca! Ela tentou me matar!"

Os guardas olharam para mim, seus rostos sombrios. Eles agarraram meus braços, puxando-me rudemente. Meu ombro gritou em protesto.

"Me soltem!", gritei, lutando contra seu aperto de ferro.

"Ela está louca, Eduardo!", Amélia soluçou, enquanto o próprio Eduardo aparecia na porta, seu rosto uma nuvem de tempestade. "Ela é perigosa! Você tem que mandá-la embora!"

Os olhos de Eduardo varreram a cena, absorvendo o rosto de Amélia manchado de lágrimas, minha aparência desgrenhada e sangrando, as bolsas espalhadas, o broche no chão. Seu olhar endureceu ao pousar em mim.

"Que diabos está acontecendo aqui?", ele rugiu, sua voz tingida de ameaça.

"Ela me atacou, Eduardo!", Amélia chorou, correndo para seus braços. "Ela está louca! Ela se lembra das coisas, ela disse que eu roubei! Ela está tentando estragar tudo!"

"Ela está mentindo!", retruquei, minha voz crua. "Ela me atacou primeiro! Ela estava zombando de mim! Ela tentou quebrar o broche da minha avó!" Apontei um dedo trêmulo para a filigrana de prata no chão.

Os olhos de Eduardo se estreitaram. Ele olhou para o broche, depois de volta para mim. Uma mudança sutil em sua expressão.

Amélia fungou, enterrando o rosto em seu peito. "Ela só está com ciúmes, Eduardo. Com ciúmes de que eu sou sua esposa agora. Com ciúmes de que eu sou Elisa Esteves." Sua voz estava abafada, mas as palavras eram claramente destinadas a mim.

Meu sangue gelou. A pura audácia. A humilhação pública.

"Você não é Elisa Esteves!", gritei, as palavras rasgando minha garganta. "Você é Amélia Barros! E você é uma ladra! Vocês dois!"

Amélia ofegou, afastando-se de Eduardo, seus olhos arregalados de choque fingido. "Ela sabe!", ela sussurrou, sua voz tingida de terror. "Ela se lembrou! Eduardo, ela vai contar a todo mundo!"

O rosto de Eduardo escureceu, seus olhos queimando com uma luz perigosa. Ele caminhou em minha direção, seus passos pesados. Os guardas apertaram seu aperto, cravando os dedos em meus braços.

"Então", ele disse, sua voz um rosnado baixo, "o passarinho finalmente se lembra de sua gaiola." Ele estendeu a mão, sua mão envolvendo meu queixo, forçando minha cabeça para cima. Seu aperto era brutal. "E você acha que pode simplesmente gritar a verdade agora? Depois de todo esse tempo?"

Minha mente acelerou. Eu havia subestimado a crueldade deles. Minha explosão foi um erro. Eu me expus cedo demais.

"Não, Eduardo", sussurrei, forçando-me a encolher sob seu olhar, deixando o medo tomar conta do meu rosto. "Eu... eu não sei o que eu disse. Minha cabeça... dói muito. Eu só..." Tentei parecer confusa, desorientada, como se a memória tivesse vindo e ido. "Eu só explodi. Ela estava sendo tão má." Soltei um soluço trêmulo. "Não sei por que disse aquelas coisas. Não me lembro."

Ele me encarou nos olhos, procurando por qualquer brilho de engano. Meu coração bateu forte, um tambor frenético contra minhas costelas. Eu tinha que convencê-lo. Eu tinha que voltar ao papel da amnésica.

"Ela só precisa aprender uma lição, Eduardo", disse Amélia, sua voz firme, tendo recuperado a compostura. Ela caminhou em direção ao broche amassado, pegando-o. "Ela precisa saber quem está no comando agora." Ela ergueu o broche, então, com um sorriso torcido, quebrou-o ao meio com um estalo doentio.

Meus olhos se arregalaram de horror. O broche da minha avó. Quebrado.

"Não!", gritei, um lamento genuíno de dor escapando de mim. "Como você pôde!"

Amélia riu, um som arrepiante e triunfante. "Viu, Eduardo? Ela ainda tem tanta raiva. Ela precisa ser disciplinada." Ela jogou os pedaços quebrados no chão aos meus pés. "Talvez um tempo na velha 'sala de terapia' conserte sua memória de vez."

Eduardo me observou, seu olhar ainda avaliador. Meu corpo estava devastado pela dor e pela humilhação fresca. O broche da minha avó, estilhaçado. Meus pais, perdidos. Minha identidade, roubada.

"Levem-na", Eduardo ordenou aos guardas, sua voz fria e desprovida de emoção. "Ela precisa aprender seu lugar. E Amélia está certa. Ela precisa entender quem ela é agora. Uma convidada. Nada mais."

Os guardas me arrastaram, meus pés arrastando no chão polido. Virei a cabeça para trás, encontrando o olhar triunfante de Amélia, depois o olhar frio e calculista de Eduardo.

Minha mente gritava, mas meu corpo estava dormente. Eu estava sendo arrastada para alguma "sala de terapia", um eufemismo para outro nível de tortura, outra camada de seu controle. Mas um novo pensamento se solidificou em minha mente, mesmo enquanto a dor ameaçava me sobrecarregar.

Ele havia quebrado o broche da minha avó. Ele havia permitido que Amélia destruísse um pedaço da história da minha família. Ele acabara de cometer seu erro. Ele me deu uma nova e mais visceral razão para odiá-lo, para lutar contra ele. Ele selou seu próprio destino.

"Você vai se arrepender disso, Eduardo", sussurrei, um voto silencioso para mim mesma, enquanto a porta da "sala de terapia" se fechava com um estrondo, mergulhando-me na escuridão.

            
            

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