Virei-me para ver Caio Morin, um ex-colega dos meus tempos de tecnologia, caminhando em minha direção. Ele parecia diferente, mais elegante, mais confiante. Ele havia deixado o emprego administrativo na universidade há um tempo por um fundo de investimentos. Ele sempre fora gentil, mas eu não o via há meses.
"Esperei tanto tempo para dizer isso", disse Caio, sua voz sincera, atraindo a atenção das pessoas ao redor. "Ana, eu... eu estou apaixonado por você. Sempre estive. Por favor, me dê uma chance."
Meu queixo caiu. A sala pareceu ficar em silêncio, todos os olhos em mim. A vergonha queimava. Eu não tinha ideia de como responder.
Antes que eu pudesse, uma mão agarrou meu braço, me arrastando para longe. Era Eduardo, seu rosto uma nuvem de tempestade. Ele me puxou pela multidão, passando pelos rostos atônitos, seu aperto machucando.
"O que foi aquilo?", ele rosnou, me empurrando para um corredor vazio. "Que diabos foi aquilo, Ana? Você está tentando fazer um espetáculo de si mesma?"
Meu braço latejava. "Ele estava apenas... expressando seus sentimentos."
"Os sentimentos dele?", a voz de Eduardo estava cheia de descrença. "E você ficou lá parada? Você não o cortou? Vocês dois estão envolvidos pelas minhas costas?"
A pura audácia de suas palavras me atingiu como um golpe físico. A hipocrisia era um gosto amargo na minha boca. Minha própria humilhação desapareceu, substituída por uma raiva fria e cortante.
"Eu? Envolvida?", zombei, um som seco e sem humor. "Você está me acusando de traição? Você está falando sério, Eduardo? Depois da sua pequena performance com a Bia na confraternização? Depois da pasta de amendoim? Depois do porquinho-da-índia? Depois de cada mentira que você me contou, cada vez que você me dispensou por ela?"
Seus olhos brilharam com algo parecido com ciúme, mas era possessivo, não amoroso. Ele agarrou meu rosto, me puxando bruscamente em sua direção. Seus lábios se chocaram contra os meus, um beijo desesperado e raivoso. Senti o gosto de vinho barato e algo mais, algo enjoativamente doce, como o sabor artificial do sorvete artesanal que a Bia amava. Meu estômago revirou.
Eu lutei, empurrando-o para longe com toda a minha força. Minhas mãos encontraram apoio em seu peito, empurrando-o para trás.
*Pá!*
O som ecoou no corredor vazio. Minha palma ardia, mas a satisfação foi imensa. Eu o havia esbofeteado.
Meu lábio estava sangrando onde seus dentes o haviam raspado. Toquei-o, depois olhei para a mancha carmesim na ponta do meu dedo.
"Acabou, Eduardo", eu disse, minha voz tremendo com uma mistura de raiva e alívio. "Nós terminamos. Nunca mais me toque."
Seus olhos, arregalados de descrença e dor, me encararam. Ele abriu a boca para falar, mas nenhuma palavra saiu. Então, com um rugido de pura frustração, ele socou a parede ao lado dele, deixando um amassado, e saiu furioso.
Os dias seguintes foram um borrão de suas tentativas frenéticas de "consertar" as coisas. Ele começou a aparecer no meu escritório, trazendo flores e café, algo que não fazia há anos. Ele até começou a me reconhecer publicamente como sua parceira, segurando minha mão, me apresentando a colegas de quem antes me escondia. Ele mudou a senha do celular para o meu aniversário, um detalhe que só descobri quando ele "acidentalmente" deixou o celular desbloqueado. Ele até mencionou providenciar a transferência da Bia para outro departamento.
Eu o observei passar pelos movimentos, um sorriso cínico brincando em meus lábios. Não era amor. Era possessividade. Ele não me quis até que outra pessoa o fez. Eu via através de tudo. Ele não estava tentando me reconquistar; estava tentando reconquistar a si mesmo – a imagem do professor perfeito e respeitável.
Enquanto isso, o feed de mídia social da Bia, antes vibrante com fotos dela e de Eduardo, tornou-se melancólico. Postagens enigmáticas sobre coração partido e injustiça substituíram suas atualizações borbulhantes habituais. Ficou claro que a atenção repentina de Eduardo para mim tinha vindo às custas dela.
Uma tarde, encontrei Bia me esperando do lado de fora do meu escritório. Seus olhos estavam vermelhos, seu rosto pálido.
"Por que ele não casa com você?", ela exigiu, sua voz crua. "Ele me disse que nunca se casaria com você. Disse que você era só... cômoda."
Meu sangue gelou. A audácia dessa garota.
"Ele me disse que você era grudenta", ela continuou, lágrimas escorrendo pelo rosto. "Ele disse que se sentia preso. Mas ele disse que comigo... comigo, era paixão de verdade."
Eu a encarei, uma onda de náusea me invadindo. Eu queria gritar, chorar, atacar. Mas apenas respirei fundo.
"Bia", eu disse, minha voz calma, quase distante. "O Eduardo não pertence a ninguém. E ele certamente não te ama. Se amasse, você não estaria aqui chorando para mim, estaria? Você estaria com ele. Onde ele está, a propósito?"
Seus olhos se arregalaram, sua bravata vacilando. "Ele... ele está ocupado."
"Ou talvez", continuei, um sorriso frio se formando em meus lábios, "ele esteja ocupado tentando 'consertar as coisas' comigo, porque é isso que ele faz. Ele usa as pessoas. Ele me usou para ter estabilidade. Ele te usou para... ter emoção. E quando você deixar de ser conveniente, ele vai te descartar também."
Seu rosto se contraiu. "Você não sabe de nada! Ele me ama! Ele me prometeu um futuro!"
"Um futuro onde ele te esconde assim como me escondeu?", contrapus, minha voz afiada. "Um futuro onde ele esquece da sua existência quando lhe convém? Um futuro onde ele te diz o quanto te quer, e depois corre de volta para o conforto de sua vida antiga?"
Bia recuou, seu rosto contorcido em uma mistura de raiva e desespero. "Você vai se arrepender disso, Ana! Você acha que venceu? Você não venceu!" Ela virou nos calcanhares e fugiu, seus soluços ecoando pelo corredor.
Voltei para o meu escritório, sentindo uma estranha mistura de vazio e resolução. As passagens de avião para a Europa já estavam compradas. Eu havia marcado a data de partida para o nosso aniversário. Uma fuga silenciosa e simbólica.
Naquela noite, Eduardo ligou. "Jante comigo hoje à noite, Ana. Tenho uma surpresa para você. Uma surpresa de verdade. Algo que vai mudar tudo."
"Eu também tenho algo importante para te dizer, Eduardo", eu disse, minha voz desprovida de emoção.
Ele riu. "Tenho certeza que sim, querida. Mas minha surpresa é melhor. Te vejo às oito. Não se atrase."
Desliguei e comecei a preparar o jantar. Era uma refeição especial, um de seus pratos favoritos, um que eu costumava fazer para ele em todos os aniversários. Um ritual final e silencioso de despedida.
Oito horas vieram e se foram. Depois nove. Depois dez. Meu celular permaneceu em silêncio.
Finalmente, uma mensagem de Eduardo apareceu. *Desculpa, amor. Emergência no trabalho. Acabei de terminar uma reunião. Atrasado. Chego aí o mais rápido possível. Não me espere acordada!*
No exato mesmo momento, outra mensagem chegou. Da Bia. Era uma foto. Uma selfie borrada dela e de Eduardo, rostos corados, olhos brilhando, aninhados intimamente na cama. A mão dele, inconfundível, estava possessivamente em volta da cintura dela. Uma legenda triunfante por baixo dizia: *Feliz aniversário para nós! Melhor decisão da vida!*
Minhas mãos tremeram, o celular escorregando do meu aperto. Ele caiu sobre a mesa polida, a imagem de seus rostos sorridentes ainda brilhando na tela.
Então, as mensagens de Eduardo começaram a inundar novamente. *Ainda preso. Este projeto é um pesadelo. Com saudades. Mal posso esperar para ver seu rosto lindo. Quase em casa.* Cada mensagem uma nova facada, uma mentira sobreposta a outra.
Finalmente, a última mensagem da Bia soou. *Ele é todo meu agora, Ana. O que você vai fazer a respeito?*
Sentei-me à mesa, o jantar elaborado que eu havia preparado esfriando ao meu redor. O aniversário, a surpresa, a refeição, as mentiras. Era tudo uma farsa grotesca.
Então, lentamente, me levantei. Minha mala, feita e pronta, estava perto da porta. Eu a peguei.
Eduardo acabara de postar uma atualização em suas redes sociais. Uma foto de duas taças de espumante tilintando, com a legenda: *Novos começos. Às vezes, você só precisa escolher a felicidade.*
Outra mensagem dele. *A caminho de casa agora, amor. Mal posso esperar para te contar sobre minha noite louca.*
Olhei para a mensagem dele, depois para a foto das taças de espumante. Pressionei deletar.
Olhei de volta para a mesa de jantar, para a comida intocada, as velas bruxuleantes projetando longas sombras. Era um monumento a um amor que teve uma morte longa e lenta.
Sem outra palavra, apaguei as luzes, tranquei a porta e entrei no táxi que esperava. Enquanto o carro se afastava, senti uma estranha sensação de libertação. Tinha acabado. Verdadeiramente acabado. E eu estava finalmente livre.