"E o bebê?" Eu sussurrei, a voz rouca, o coração batendo forte no peito. "Nosso bebê?"
Dra. Clara hesitou, seus olhos se desviando. "Aline... Eu sinto muito. O impacto foi muito forte. Você perdeu o bebê."
Meu mundo desabou. Eu senti um vazio dentro de mim, um buraco negro que engolia toda a minha esperança, toda a minha razão de viver. A dor física se transformou em uma agonia emocional, mil vezes pior. Meu filho. Nosso filho. Morreu. Por causa dele.
Eu não chorei. Não tinha mais lágrimas. Apenas um frio glacial me tomou. Eu olhei para minha barriga, que agora parecia vazia, o local de um sonho destruído.
"Eu quero que tirem tudo de mim," eu disse, a voz fria e firme. "Eu quero acabar com a gravidez. Eu não quero mais nada que me ligue a ele."
Dra. Clara me olhou, os olhos arregalados. "Aline, você tem certeza?"
Eu assenti, a voz embargada. "Eu tenho. Eu não quero mais essa criança. Eu não posso tê-la."
Uma enfermeira entrou no quarto, segurando meu celular. "Senhora Lobo, seu noivo está ligando."
Meu noivo. A palavra soava como uma piada cruel. Eu peguei o telefone. A voz de Gabriel estava irritada, impaciente.
"Aline! Onde você está? Eu estou aqui no hospital com a Mariana. Ela está traumatizada. Você precisa vir aqui e se desculpar com ela. Você a assustou, sabia?"
Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Ele estava me pedindo para me desculpar com Mariana? Depois de tudo o que aconteceu?
"Mariana? E eu, Gabriel? Eu quase morri. Eu perdi nosso filho!" Eu gritei, as palavras rasgando minha garganta.
Ele riu, um som seco e zombeteiro. "Filho? De novo com essa história? Aline, pare de ser dramática. Você sabe que não teríamos um filho agora. Você sempre foi tão carente, não é? Sempre querendo chamar atenção."
A raiva me consumiu. As palavras dele eram facas, cortando minha alma. Eu era carente? Eu era dramática? Ele era o monstro.
"Você me empurrou, Gabriel!" Eu gritei, a voz tremendo. "Você me deixou para morrer! Você é um assassino!"
"Não seja ridícula, Aline," ele disse, a voz ficando fria. "Você está delirando. Você sempre foi instável. É por isso que Mariana é tão importante para mim. Ela é a única que consegue me dar paz."
"Paz?" Eu ri, um riso amargo. "Ela é uma manipuladora! Ela fingiu uma doença! Ela roubou meu lugar, meu amor, meu futuro!"
"Pare de caluniar Mariana!" A voz dele explodiu em raiva. "Ela é uma santa! Você é a invejosa, a ciumenta. É por isso que Henrique se afastou de você. Você é tóxica, Aline."
Henrique. Ele ainda se atrevia a mencionar Henrique.
"Você sabe por que Henrique me odeia, Gabriel? Por causa da sua meia-irmã e da mãe dela. Elas manipularam Henrique, mudaram as memórias dele sobre o acidente da mamãe. Elas fizeram ele me odiar!"
"Que absurdo!" ele zombou. "Você sempre foi a culpada, Aline. Você sempre foi egoísta, focada em si mesma. Henrique só se afastou de você porque você o sufocava. Mariana é uma luz na vida dele, e na minha. Você é apenas uma sombra."
Sombra. As palavras dele me atingiram com a força de um raio. Eu era uma sombra. Uma sombra do que eu um dia fui. Mas não mais.
Eu me lembrei de todas as vezes que ele me prometeu o mundo, todas as vezes que eu acreditei em suas palavras doces. Eram todas mentiras. Eu era um peão em seu jogo, um meio para um fim.
"Você nunca me amou, não é, Gabriel?" Eu sussurrei, a voz vazia, sem emoção. "Você nunca me quis como sua parceira. Eu era apenas uma conveniência."
Ele riu, um som vazio e cruel. "Você finalmente entendeu, Aline. Você nunca foi boa o suficiente para ser uma Tavares. Mariana é a mulher que eu sempre quis. Ela é a minha noiva. Ela é a mãe dos meus filhos."
Aquelas palavras. Elas foram a última pá de terra sobre o meu caixão. Meu coração, que um dia foi um vulcão de amor, agora estava morto. Congelado.
"Eu te odeio, Gabriel Tavares," eu disse, a voz clara e forte. "Eu te odeio mais do que qualquer coisa neste mundo. E você nunca mais vai me ver."
Eu desliguei o telefone. Minhas mãos não tremiam mais. Eu olhei para Dra. Clara, que me observava em silêncio.
"Eu quero que você comece os procedimentos, Dra. Clara," eu disse, a voz firme. "Eu quero acabar com essa gravidez. E eu quero ir embora daqui. Para sempre."
Ela assentiu, os olhos cheios de tristeza. "Eu entendo, Aline. Eu farei tudo o que puder para te ajudar."
Naquela noite, enquanto eu me preparava para a cirurgia, eu recebi uma notificação em meu celular. Era uma foto. Gabriel e Mariana, sorrindo radiantes, com uma legenda: "Celebrando nosso amor e o futuro da família Tavares. #Noivos #AmorEterno #CaféTavares".
Eu vi a joia da família em seu pescoço. Aquele colar, que Gabriel prometeu que um dia seria meu. E ao lado deles, Henrique, sorrindo, oferecendo um brinde.
A imagem me atingiu como um choque elétrico. Não havia mais dúvidas. Eu não tinha mais nada aqui. Nada.
Eu saí do grupo da família no WhatsApp. Meu celular tocou imediatamente. Era Gabriel. Eu ignorei. Ele ligou novamente. Eu ignorei. Novamente.
Meu médico entrou. "Aline, estamos prontos."
Eu olhei para o meu celular, que continuava a vibrar com as ligações de Gabriel. Eu o desliguei.
"Vamos," eu disse, a voz firme, o coração em paz. Eu não era mais a Aline de antes. Eu era uma mulher nova. E eu nunca mais olharia para trás.