A Cruel Enganação do Noivo
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Capítulo 3

Os dias seguintes foram um borrão de abandono autodestrutivo. Afoguei-me em champanhe, dancei em cima de mesas e flertei com estranhos, tudo em uma tentativa desesperada de anestesiar a dor corrosiva da traição. Cada risada era oca, cada sorriso uma mentira.

Uma noite, me encontrei em uma balada da moda no Itaim. O grave pulsava, as luzes piscavam e o ar estava denso com o cheiro de perfume caro e desespero. Eu estava no meu terceiro copo de algo forte quando a vi.

Juliana Ferraz. Radiante em um vestido prateado cintilante, cercada por uma comitiva bajuladora. Ela parecia absolutamente linda, absolutamente triunfante. E absolutamente má.

Meu sangue gelou. Meu estômago se revirou. Era a festa de boas-vindas dela. A família Moraes, agora se curvando à vontade de Caio, a havia aceitado oficialmente.

Como se sentisse meu olhar, Juliana se virou, seus olhos se fixando nos meus. Um sorriso de escárnio brincou em seus lábios. Ela sussurrou algo para seus amigos, e todos eles se viraram, seus rostos contorcidos em sorrisos zombeteiros.

"Olha a mendiga da rua", um deles zombou, alto o suficiente para eu ouvir. "Ainda se agarrando às beiradas, pelo visto."

Outro riu. "Ela não recebeu o memorando? O Caio já a superou. Agora ele tem uma mulher de verdade."

Minhas mãos se fecharam, os nós dos dedos brancos. A raiva, fervendo sob a superfície, começou a borbulhar.

Juliana, sua voz amplificada pelo súbito silêncio em seu círculo, falou: "Oh, Kiara, querida. Ainda na pior? Pensei que a essa altura você já teria encontrado outro otário para se agarrar." Seus olhos brilhavam com malícia. "Mas, pensando bem, quem iria querer você depois de... tudo?"

Suas palavras foram como um golpe físico. A vergonha, a humilhação, a memória daquele vídeo degradante, tudo passou diante dos meus olhos.

Mas desta vez, eu não me encolheria. Desta vez, eu não quebraria.

Um grito primal rasgou através de mim. Peguei a garrafa de champanhe mais próxima, seu vidro pesado um peso reconfortante em minha mão. "Você acha que venceu, sua vadia manipuladora?", rosnei, minha voz crua e perigosa. "Você acha que pode exibir sua vitória na minha frente?"

Avancei em direção a ela, a garrafa erguida. Seus amigos ofegaram, espalhando-se como pássaros assustados. O sorriso triunfante de Juliana desapareceu, substituído por um olhar de puro terror.

"Kiara, não!", ela gritou, recuando.

Mas eu estava além da razão. A raiva me consumiu. Avancei, mas assim que a alcancei, uma mão agarrou meu braço, forte e inflexível.

Caio.

Ele estava lá, o rosto pálido, um novo hematoma florescendo em sua bochecha. Ele parecia ter passado pelo inferno. Seus olhos, no entanto, ardiam com uma fúria fria dirigida unicamente a mim.

"O que você pensa que está fazendo?", ele exigiu, sua voz baixa e perigosa.

"O que parece, Caio?", cuspi, lutando contra seu aperto. "Estou lembrando sua preciosa Juliana que algumas pessoas não desaparecem simplesmente quando você termina com elas!"

Juliana, tremendo, agarrou-se ao braço de Caio. "Ela está louca, Caio! Ela tentou me atacar!"

Ele a ignorou, seu olhar fixo no meu. "Você está fazendo um espetáculo, Kiara. Essa não é você."

"Ah, não é?", ri, um som amargo e quebrado. "Você me fez assim, Caio. Você e sua namoradinha manipuladora. Vocês me tiraram tudo, e agora esperam que eu seja uma vítima quieta e digna?"

Ele tentou me afastar, mas eu resisti, meus olhos se voltando para Juliana. "Fique longe dela, Kiara", ele avisou, sua voz um rosnado baixo. "Você não quer saber o que eu farei se você a machucar."

Sua proteção me enfureceu ainda mais. Arranquei meu braço, surpreendendo-o com minha força. Minha mão disparou, não com a garrafa, mas com a palma aberta.

TAPA!

O som estalou pela balada silenciosa. Sua cabeça virou para o lado, uma marca carmesim florescendo em sua bochecha, bem ao lado do hematoma.

Seus olhos, quando encontraram os meus novamente, estavam cheios de um choque que rapidamente se transformou em uma fúria aterrorizante.

"Você é um desgraçado doente, Caio", sussurrei, minha voz tremendo de nojo. "Você mente, você manipula, você usa as pessoas. E ainda tem a audácia de fingir que se importa comigo?"

Ele agarrou meus braços, seu aperto machucando. "Você quer falar sobre doença? Você é a única que não consegue superar, Kiara. Você é a obcecada."

"Obcecada?", zombei. "Estou enojada! E sabe de outra coisa, Caio? Tudo o que tivemos? Não significou nada. Uma mentira. Não se atreva a fingir que foi algo mais."

Sua mandíbula se contraiu. "Não foi sem significado para mim, Kiara." Suas palavras eram um rosnado baixo e perigoso. "Não inteiramente."

"Não se iluda", zombei. "Agora me solte, antes que eu faça uma cena maior do que a que você já orquestrou."

Ele me puxou para mais perto, seus lábios roçando minha orelha. "Você se acha tão esperta, não é? Acha que sabe de tudo." Sua respiração estava quente contra minha pele. "Mas você ainda é apenas um peão, Kiara. E se não jogar junto, seu pai pagará o preço."

Meu sangue gelou. "Meu pai? O que ele tem a ver com isso?"

"Tudo", ele sussurrou, um sorriso cruel tocando seus lábios. "Ele está fortemente investido no novo empreendimento de tecnologia da minha família. Um empreendimento que poderia facilmente... desaparecer, se eu não conseguir o que quero. E o que eu quero, por enquanto, é que você interprete o papel da minha noiva de coração partido e abandonada até que minha família anuncie formalmente meu noivado com Juliana."

Ele se afastou, seus olhos assustadoramente desprovidos de emoção. "Assim que isso for feito, você está livre. Pode ir para onde quiser. Mas se causar mais problemas, eu prometo, seu pai perderá tudo."

Meu estômago se revirou. Ele era verdadeiramente um monstro. Ele usaria meu pai, minha única família restante, contra mim.

Um alarme de incêndio agudo e penetrante soou, cortando o silêncio tenso. Luzes vermelhas piscaram e as pessoas começaram a entrar em pânico, correndo para as saídas.

A cabeça de Caio se ergueu. Seus olhos, antes tão frios, agora tinham um toque frenético. Ele me empurrou para o lado, seu olhar fixo em Juliana.

"Juliana!", ele gritou, abrindo caminho pela multidão crescente.

Ele nem sequer olhou para trás. Ele se foi, engolido pelo caos, correndo para proteger sua preciosa Juliana.

"Caio!", gritei, minha voz engolida pelo som do alarme e pelos gritos da multidão. Ele se foi. De novo.

A fumaça começou a sair do teto, acre e sufocante. O ar ficou denso, dificultando a respiração. As pessoas me empurravam, seus rostos contorcidos de medo.

Tropecei, tossindo, meus pulmões ardendo. As luzes piscantes me desorientaram. Minha cabeça bateu em algo duro, e uma dor surda se espalhou pelo meu crânio. A escuridão me envolveu.

A próxima coisa que soube foi que estava acordando em um quarto branco e estéril, o cheiro de antisséptico queimando minhas narinas. Minha cabeça latejava. Uma enfermeira se apressava, seu rosto gentil, mas distante.

"Você está no hospital, querida", ela disse, sua voz suave. "Inalação de fumaça. Felizmente, nada sério."

Meus olhos se abriram. Caio. Juliana. O incêndio.

"Posso ir embora?", perguntei, minha voz rouca.

A enfermeira balançou a cabeça. "Ainda não. Você precisa descansar."

"Eu preciso ir", insisti, me levantando apesar da dor latejante. "Eu tenho que ir."

Assinei minha alta contra o conselho médico, os protestos da enfermeira caindo em ouvidos surdos. Meu corpo doía, mas uma nova determinação me alimentava. Eu tinha que saber.

Chamei um táxi, dando o endereço da minha casa. A viagem foi um borrão. Quando cheguei, a casa, geralmente tão silenciosa, estava fervilhando de atividade. Carros enfileirados na entrada. Luzes acesas em todas as janelas.

Entrei por uma entrada lateral, atraída pelo som de vozes da sala de estar. A voz do meu pai. E a de Juliana.

"...foi aterrorizante, Sr. Lins", a voz de Juliana, teatralmente chorosa, flutuou pelo ar. "Caio me salvou, por pouco. Kiara... ela estava bastante agitada."

Meu sangue gelou. Pressionei-me contra a parede, ouvindo.

"Minha pobre Juliana", a voz do meu pai, escorrendo preocupação, um tom que ele raramente usava comigo. "Aquela Kiara, sempre causando problemas. Ela vai ser a minha morte."

Outra voz, suave e desconhecida, mas inegavelmente com uma semelhança familiar com Juliana, interveio. "Não se preocupe, Germano. Juliana está segura agora. E em breve, nossas famílias estarão unidas. Minha filha e a sua."

Minha mente girou. *Sua?*

Espiei pela esquina. Meu pai, ao lado de uma mulher glamorosa que eu vagamente reconhecia das colunas sociais, estava acariciando o cabelo de Juliana. Ele olhava para ela com um afeto que eu nunca tinha visto dirigido a mim.

"Sim", disse meu pai, sua voz transbordando de satisfação. "Juliana será uma filha maravilhosa. Um crédito para a família Lins-Ferraz."

Lins-Ferraz? O sobrenome de solteira da minha mãe. Meu nome.

Minha visão turvou. Não podia ser.

A mulher glamorosa, mãe de Juliana, sorriu docemente. "E Caio, claro. Um jovem tão charmoso. Ele será um marido muito devotado para Juliana. Uma combinação perfeita, de verdade."

As peças se encaixaram, formando um mosaico horripilante de traição. Juliana não era apenas o "verdadeiro amor" de Caio. Ela era a futura enteada do meu pai. Minha futura meia-irmã.

O universo realmente tinha um senso de humor distorcido.

Um suspiro engasgado escapou dos meus lábios. Meu pai, erguendo a cabeça, me viu. Seu rosto, inicialmente corado de contentamento presunçoso, perdeu a cor.

"Kiara", ele disse, sua voz baixando para um tom baixo e de aviso. "O que você está fazendo aqui?"

Juliana se virou, seus olhos se arregalando, depois se estreitando com um prazer malicioso. "Oh, olhe quem está aqui. A pária da cidade, de volta para mais drama."

As palavras do meu pai, seu tom carinhoso para com Juliana, as declarações presunçosas de sua mãe – tudo colidiu em um rugido ensurdecedor na minha cabeça.

"Você", engasguei, apontando um dedo trêmulo para meu pai, "Você sabia! Você fazia parte disso!"

Ele zombou, seu rosto endurecendo. "Kiara, não seja ridícula. Você está exausta. Você é sempre tão dramática."

Meus olhos se voltaram para Juliana, depois para a mãe dela. Os três, uma frente unida e presunçosa contra mim.

A raiva, fria e absoluta, me consumiu. Peguei o objeto mais próximo – um pesado vaso de cristal – e o arremessei contra a parede.

Ele se estilhaçou com um estrondo ensurdecedor, espalhando cacos pelo chão polido.

"Dramática?", gritei, minha voz crua de angústia e fúria. "Você acabou de me substituir! Você a escolheu! Você os escolheu!"

O rosto do meu pai escureceu, sua mandíbula se contraindo. Ele deu um passo em minha direção, seus olhos ardendo de raiva.

"Sua pirralha ingrata", ele rosnou. "Sempre causando problemas! Sempre estragando tudo!"

Mas suas palavras foram apenas combustível para o meu fogo. Meu mundo havia implodido. E eu ia me certificar de que eles sentissem cada tremor.

            
            

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