O rosto do meu pai era uma máscara de fúria fria. "Kiara! Pare com isso imediatamente! Você está destruindo tudo!"
"Destruindo tudo?", ri, um som amargo e quebrado. "Você me destruiu! Você me vendeu para o Caio, não foi? Por um maldito negócio! Pelo seu precioso Grupo Moraes!"
Ele zombou, ajustando a gravata. "Não seja absurda. Eu meramente facilitei um acordo vantajoso. Para a família, Kiara. Para o seu futuro."
"Meu futuro?", cuspi, pegando um pesado porta-retratos de prata. "Você trocou meu futuro, minha dignidade, tudo que eu sou, por uma conta bancária maior! Você deixou que eles me humilhassem, deixou que ele me usasse, e você fica aí falando sobre 'acordos vantajosos'?"
Esmaguei o porta-retratos contra uma mesa de centro de vidro, quebrando-a em pedaços irregulares. "Foi vantajoso quando o Caio me usou como isca? Foi vantajoso quando ele me exibiu como um porco premiado para a família dele olhar? Foi vantajoso quando ele me envergonhou publicamente com aquele vídeo?"
Os olhos do meu pai se estreitaram. "Kiara, seu comportamento é inaceitável. Você está histérica. Você precisa se controlar."
"Me controlar?" Minha voz se elevou, crua e irregular. "Eu não estou histérica, pai! Estou furiosa! Você sabia sobre a Juliana? Sabia que ela era o verdadeiro amor dele? Que eu era apenas uma distração conveniente até que eles pudessem finalmente se casar?"
Ele suspirou, um som de sofrimento prolongado. "Kiara, você sempre tira conclusões precipitadas. Caio e Juliana têm uma história, sim. Mas a família dele se opôs. As coisas eram... complicadas."
"Complicadas?", ri de novo, com um toque histérico. "Você chama manipulação, traição e tortura emocional de 'complicado'?" Meus olhos queimaram nos dele. "Você estava nisso, não estava? Você e a família 'justa' dele. Você o ajudou a me usar."
Ele desviou o olhar, um sinal revelador. "Kiara, isso é um absurdo. Agora, se você se acalmar, podemos discutir um novo acordo. Caio está disposto a ser generoso. Um acordo generoso, uma vida tranquila no exterior..."
"Uma vida tranquila no exterior?", rosnei, meu sangue fervendo. "Para que eu possa desaparecer, assim como todos os seus segredos sujos? Para que você possa me varrer para debaixo do tapete e fingir que nada disso aconteceu?" Meus olhos pousaram em uma pequena caixa de madeira entalhada em uma mesa lateral. Era o porta-joias da minha mãe, uma das poucas coisas que me restavam dela. "Devolva as coisas dela. Devolva as joias da minha mãe. Você não tem o direito de ficar com elas."
Ele hesitou, depois balançou a cabeça. "Essas são heranças de família agora, Kiara. Elas pertencem aqui."
"Não, elas pertencem a mim!", gritei, avançando para a caixa. Mas meu pai foi mais rápido, arrancando-a de mim.
Antes que eu pudesse reagir, Juliana, que estava encolhida atrás da mãe, soltou um gemido dramático. "Oh, minha cabeça... estou tão tonta..." Ela agarrou o estômago, o rosto empalidecendo teatralmente. "O bebê..."
A atenção do meu pai se voltou imediatamente para ela. "Juliana! O que há de errado? Você está bem?" Ele correu para o lado dela, o braço envolvendo-a protetoramente.
"Eu só me sinto... um pouco fraca", ela sussurrou, inclinando-se para ele. "É só... a violência da Kiara... o choque... e com o bebê..."
O bebê? Minha mente girou.
Nesse momento, a porta da frente se abriu com um estrondo. Caio, o rosto ainda machucado do meu tapa, os olhos em chamas, entrou furioso. Ele observou a cena – o vidro quebrado, meu pai cuidando de Juliana, meu estado furioso e desgrenhado.
Sem um momento de hesitação, ele correu para o lado de Juliana. "Juliana! Você está bem? O que aconteceu?"
Ele a puxou para seus braços, seu olhar varrendo-a com preocupação frenética. Ela se agarrou a ele, gemendo, seus olhos se voltando para mim com um brilho triunfante.
"Foi ela, Caio!", Juliana chorou, apontando um dedo trêmulo para mim. "Ela enlouqueceu! Ela me atacou e ao bebê!"
Os olhos de Caio se voltaram para mim, frios e duros. "Kiara, o que você fez?"
"Eu?", ofeguei, minha voz engasgada de incredulidade. "Ela está mentindo! Ela está sempre mentindo!"
Dei um passo em direção a eles, minha mão estendida, querendo agarrar Juliana e sacudir a verdade dela.
Mas Caio reagiu instantaneamente. Ele me empurrou, com força.
Tropecei para trás, perdendo o equilíbrio. A borda do lago ornamental na sala de estar prendeu meu calcanhar. Meus braços se agitaram descontroladamente, mas não adiantou.
Com um baque nauseante, mergulhei na água gelada.
O choque do frio prendeu meus pulmões. Ofeguei, engasgando com a água, lutando contra o tecido pesado do meu vestido. Minha cabeça afundou, depois emergiu, meu cabelo grudado no rosto.
"Socorro!", gaguejei, me debatendo. A água era mais funda do que parecia, e o frio era paralisante.
Na beira do lago, meu pai e Caio estavam parados, seus rostos imóveis. Meu pai ainda estava cuidando de Juliana, que agora se agarrava ao braço de Caio, o rosto uma máscara de preocupação por si mesma, não por mim.
"Oh, minha querida", meu pai murmurou para Juliana, de costas para mim. "Você está realmente bem?"
Caio, com o braço ainda em volta de Juliana, apenas olhou para mim, um lampejo de algo indecifrável em seus olhos antes de voltar sua atenção total para ela. "Você está sentindo alguma dor, Juliana? Precisamos levá-la a um médico imediatamente."
Juliana, aproveitando a oportunidade, sussurrou: "Ela tentou machucar o bebê, Caio! Juro, ela estava tentando me empurrar!"
Meu coração afundou. Eles estavam me deixando afogar. Meu próprio pai. O homem que um dia me segurou em seus braços.
Lutei, minha energia se esvaindo rapidamente. Meus membros pareciam pesados, inúteis. O frio se infiltrou em meus ossos, roubando minha respiração.
Caio, finalmente, olhou para mim de novo. Sua expressão ainda era fria, mas havia um lampejo, uma pequena faísca de algo, em seus olhos. Ele tirou seu blazer caro, estendendo-o para mim.
"Kiara", ele disse, sua voz seca. "Você precisa se acalmar. Já chega."
Já chega? Eu estava me afogando, e ele estava me dizendo que "já chega"?
"Me ajude!", engasguei, estendendo a mão para a dele.
Mas ele não se moveu. Ele segurou o blazer, um gesto simbólico, não um ato de resgate. "Você mesma causou isso, Kiara. Você precisa aprender a controlar seu temperamento."
Minha mão caiu de volta na água, fraca e inútil. Meu corpo tremeu violentamente.
"Apenas coopere", ele continuou, sua voz mais suave agora, quase suplicante. "Jogue junto por mais um tempo, e então você estará livre. Seu pai devolverá as coisas da sua mãe, e você terá um acordo generoso. Você pode desaparecer. Apenas... não piore as coisas."
Meus olhos, ardendo com água fria e lágrimas, encontraram os dele. "Você acha que ainda estou jogando seu jogo?", sussurrei, as palavras mal audíveis. "Você acha que ainda sou seu peão?"
Ele suspirou, uma expressão cansada no rosto. "Kiara, por favor. Pense nas cinzas da sua mãe. Seu pai pode ser muito... protetor com as heranças de família."
Meu sangue gelou pela segunda vez naquela noite. As cinzas da minha mãe. Ele sabia como me atingir onde doía. Essa era sua alavanca final. Meu pai era verdadeiramente um monstro.
Uma risada amarga e quebrada escapou dos meus lábios, misturando-se com a água gelada. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, quentes contra o frio. "Vocês... vocês são todos... abutres", ofeguei, as palavras pontuadas por tremores.
"Segurança!", meu pai latiu, sua voz cheia de uma autoridade arrepiante. "Levem-na para o salão ancestral. Ela ficará de joelhos lá até aprender a ter algum respeito."
Dois seguranças corpulentos apareceram, seus rostos sombrios. Eles entraram no lago, suas mãos frias me puxando da água. Meu corpo, fraco e trêmulo, não ofereceu resistência.
Meu pai observava, sua expressão desprovida de emoção. Juliana, ainda agarrada a Caio, me deu um sorriso presunçoso e triunfante.
Enquanto me arrastavam, a água pingando de minhas roupas encharcadas, olhei para trás, para Caio. Seus olhos, por um momento fugaz, continham um lampejo de algo semelhante a arrependimento.
Mas não era o suficiente. Nunca seria o suficiente.