9 Capítulo
Capítulo 10 A dívida de sangue

Capítulo 11 A nova jaula

Capítulo 12 Ecos do trauma

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O corredor da ala leste parecia a garganta de um dragão. Fumaça preta e espessa rolava pelo teto, engolindo os lustres de cristal e transformando o ar em veneno puro.
Jinx prendeu a respiração e baixou o centro de gravidade, movendo-se não como a babá desengonçada que tropeçava nos próprios pés, mas como a sombra letal que havia sido treinada para ser. O vestido de seda rasgado permitia que suas pernas se movessem livremente.
Um estrondo veio da frente.
- AERON!
Ela o viu através da névoa cinzenta. Ele estava encurralado perto da varanda interna. Dois homens vestidos com uniformes táticos pretos - os mercenários do "Dente de Ouro" - o cercavam. Aeron sangrava. Havia um corte feio na sua têmpora esquerda, o sangue escorrendo e cegando um de seus olhos, mas ele ainda lutava com uma ferocidade selvagem, manejando um suporte de ferro de lareira como uma maça medieval.
Ele era forte, mas estava em desvantagem numérica. Um dos mercenários ergueu uma pistola com silenciador, mirando no peito exposto do CEO.
Não houve tempo para pensar. Não houve tempo para ser a Sarah.
Jinx explodiu em movimento.
Ela correu, deslizou os últimos dois metros no chão de mármore polido e chutou a parte de trás do joelho do atirador. O osso estalou com um som úmido. O homem urrou, a arma disparando inutilmente contra o teto enquanto ele caía.
Aeron girou, com os olhos arregalados e o suporte de ferro erguido para atacar o novo agressor. Mas ele parou a centímetros do rosto de Jinx.
- Sarah?!
O segundo mercenário avançou para atacar. Ele era enorme. Ele ignorou Aeron e foi para cima dela, assumindo que a garota de vestido de festa era o alvo fácil.
Mas esse foi seu erro fatal.
Jinx não recuou. Quando o punho dele veio em direção ao rosto dela, ela girou o corpo, desviando por milímetros. Agarrou o pulso do homem, usou o impulso dele e o próprio peso do corpo dela como alavanca. Com um puxão seco e preciso, ela deslocou o ombro dele. O gigante gritou, caindo de joelhos. Antes que ele pudesse se recuperar, Jinx girou e acertou um chute circular perfeito, o calcanhar conectando com a têmpora dele.
Ele apagou antes de bater no chão.
Silêncio, exceto pelo rugido do fogo que devorava as cortinas do outro lado do salão.
Jinx se levantou, tirando uma mecha de cabelo do seu rosto suado. Sua respiração estava controlada, rítmica. Ela chutou a arma do mercenário caído para longe, instintivamente verificando o perímetro.
Quando se virou, encontrou Aeron.
Ele não estava olhando para o fogo. Ele estava olhando para ela. O choque no rosto dele era tão profundo que, por um segundo, superou a dor de seus ferimentos. Ele olhava para a postura dela - pernas afastadas, punhos em guarda, queixo erguido. Não havia vestígio da garota doce que corava quando ele a olhava.
- As escadas estão bloqueadas - Jinx disse, sua voz dura, autoritária, sem o tom agudo e vacilante de Sarah. - O fogo subiu pelo poço do elevador.
Aeron piscou, tentando processar a alucinação à sua frente.
- Quem...
- Sem perguntas, Vale. Ou saímos agora, ou vamos morrer assados.
Uma viga do teto cedeu com um estrondo, espalhando brasas entre eles. O calor estava se tornando insuportável. A pele de Jinx ardia.
- A varanda! - Aeron gritou, saindo do transe.
Eles correram para as portas de vidro que davam para o terraço externo. O ar da noite invadiu os pulmões de Jinx, frio e maravilhoso, mas eles ainda estavam no quinto andar.
- Sem temos escada de incêndio - Aeron rosnou, olhando para baixo. - Estamos presos.
- Não estamos.
Jinx agarrou as cortinas pesadas de veludo bordô que flanqueavam a porta da varanda. Eram grossas, caras e, o mais importante, resistentes.
- Segura aqui - ela ordenou, jogando uma ponta para ele.
Sem esperar resposta, ela usou uma faca de mesa que havia roubado durante o jantar - e que estava presa na liga de sua perna - para rasgar e amarrar o tecido na grade de ferro forjado da sacada. Seus nós eram rápidos, nós de alpinista profissional.
- Você ficou louca? - Aeron gritou acima do som das sirenes distantes. - Isso não vai aguentar!
- Vai aguentar se você parar de reclamar e se segurar em mim! - Jinx retrucou, subindo na grade. Ela olhou para ele, os olhos faiscando com uma intensidade que o fez calar a boca. - Eu não vou deixar você cair, Aeron. Agora vem!
Aeron hesitou apenas uma fração de segundo. O fogo atingiu a porta de vidro atrás deles, a fazendo estilhaçar. Ele avançou, envolvendo os braços ao redor da cintura dela, o corpo dele pressionado contra as costas dela.
- Segura firme - ela avisou.
Jinx enrolou o tecido da cortina no antebraço e na mão esquerda, criando um freio improvisado.
E eles pularam.
A descida foi um borrão de adrenalina e dor. O veludo queimava a pele da palma da mão e do antebraço de Jinx conforme eles deslizavam, um atrito brutal que arrancava a pele, mas ela não soltou. Ela trincou os dentes, abafando um grito, controlando a velocidade da queda com a força bruta de seus músculos abdominais e pernas.
Aeron estava pesado contra ela, sua respiração quente em seu pescoço, o coração dele batendo contra as costas dela como um martelo de guerra.
Cinco metros. Três metros.
O tecido acabou.
- Solta! - ela gritou.
Eles caíram o último metro e meio, aterrissando na grama molhada e lamacenta do jardim dos fundos. Jinx rolou para absorver o impacto, gemendo quando seu ombro bateu na terra dura, mas imediatamente se colocou de pé, em posição de defesa.
O ar estava cheio de fuligem e chuva fina. Mas eles estavam vivos.
Aeron estava de joelhos na grama, tossindo, o smoking arruinado, o rosto manchado de sangue e fuligem. Ele olhou para as próprias mãos, depois olhou para a cortina pendurada lá em cima, balançando ao vento como uma bandeira de guerra.
Lentamente, ele se levantou. A gratidão que deveria estar em seus olhos foi varrida por uma onda fria e aterrorizante de reconhecimento.
Jinx recuou um passo. O chip pesava no bolso dela. A queimadura no seu braço pulsava.
Ela tinha salvado a vida dele. E, ao fazer isso, tinha assinado sua própria sentença.
Aeron avançou sobre ela. Não foi para um abraço. Foi uma captura.
As mãos grandes dele fecharam-se ao redor dos braços dela, os dedos apertando com força suficiente para deixar marcas. Ele a sacudiu, aproximando seu rosto do dela. Os olhos dele emanando ira.
- Nenhuma babá sabe desarmar um mercenário de elite em apenas três segundos - ele sibilou, a voz perigosamente baixa, vibrando de raiva contida.
Ele olhou para as mãos dela - queimadas pelo atrito da cortina, mas firmes. Depois subiu o olhar para os olhos dela, que não demonstravam medo, apenas uma resignação desafiadora.
- Nenhuma cuidadora de crianças sabe fazer rapel com cortinas.
Ele a puxou para mais perto, até que não houvesse um mínimo espaço entre eles.
- Quem. É. Você? - Aeron exigiu, cada palavra uma sentença. - E onde está a verdadeira Sarah?
[FIM DO CAPÍTULO]
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Nota da autora: ACABOU O TEATRO! 🥋 A Jinx no "modo letal" derrubando mercenários de vestido de gala foi tudo pra mim! O choque na cara do Aeron foi impagável. Ele percebeu que a "babá desastrada" poderia matá-lo com um grampo de cabelo.
Vocês acham que ele vai ficar grato por ser salvo ou furioso por ter sido enganado?
Comentem "NINJA" 🥋 para essa performance de elite!
O próximo capítulo é o confronto final no jardim. O segredo acabou. Preparem-se para ver um Aeron Vale vingativo e calculista. Adicionem na biblioteca agora!
Ravenna V.