Ele me empurrou para o banco do passageiro, seus movimentos bruscos. O carro cantou pneu para fora da vaga e acelerou para a garagem subterrânea, os pneus chiando em protesto. Meu abdômen pulsou com uma dor renovada, uma dor surda se espalhando pela minha lombar. Eu gemi, agarrando minha barriga, mas Caio estava alheio. Ele estava muito consumido por seu próprio pânico, pela necessidade de controlar a narrativa.
Assim que estávamos escondidos em um canto remoto da garagem, ele desligou o motor. O silêncio era ensurdecedor, quebrado apenas pela minha respiração ofegante e pelo baque do meu coração. Ele segurou minhas mãos, seus dedos úmidos. Lágrimas falsas brotaram em seus olhos.
"Alice, por favor, você tem que entender", ele implorou, sua voz embargada. "Não é o que você pensa. Sim, eu me casei com a Kaila." Ele viu a nova onda de choque tomar meu rosto e se apressou em explicar. "Mas ela está... ela está morrendo, Alice. Câncer terminal. Uma forma rara. Ela me implorou. Era seu último desejo."
Minha mente girou. Morrendo? Câncer terminal? Kaila, a imagem da saúde e vitalidade no TikTok?
"Eu não pude dizer não", ele continuou, sua voz pingando falsa sinceridade. "Ela é obcecada por mim desde o colégio. Foi um ato de... compaixão. Humanidade. E seus pais, Alice, eles continuavam pressionando por um casamento. Eu estava sob tanta pressão. O que eu deveria fazer?"
Ele apertou minhas mãos com mais força, tentando me puxar para sua lógica distorcida. "Ela não vai durar muito mais. Alguns meses, talvez. Quando ela se for, nós nos casaremos. Um casamento de verdade. Começaremos de novo. Eu prometo. Você é tão gentil, Alice. Você entende, não é? É o que qualquer pessoa boa faria."
Meu coração, já machucado e maltratado, virou um bloco de gelo. O zumbido em meus ouvidos ficou mais alto, abafando suas palavras manipuladoras. "Ela já morreu?" As palavras escaparam dos meus lábios, frias e afiadas, um espelho do vazio interior.
O rosto de Caio passou de suplicante a lívido. "Alice! Como você pode dizer uma coisa dessas? Isso é cruel! Você mudou. Você se tornou tão sem coração."
"Sem coração?" Eu ri, um som amargo e oco. "Você me chama de sem coração? Você se casou com outra mulher, mentiu para mim por um ano, forjou nosso casamento e depois culpou meus pais! Agora você espera que eu espere sua esposa 'moribunda' bater as botas, para que você possa finalmente se dignar a fazer de mim uma mulher honesta? Você e sua esposa 'moribunda' são farinha do mesmo saco. Igualmente nojentos."
"E as promessas que você fez aos meus pais?", continuei, minha voz ganhando força. "Eles investiram tudo na sua empresa. Eles acreditaram em você. Eles acreditaram em nós!"
Ele recuou, sua mão se erguendo como se fosse me bater de novo, mas ele se conteve, seus olhos se estreitando em fendas raivosas. "Você mudou, Alice. Você não é a mulher por quem me apaixonei."
Nesse momento, meu celular, que havia caído da minha mão mais cedo, vibrou no chão do carro. Abaixei-me para pegá-lo, mas Caio o agarrou primeiro. Ele viu o nome de Breno piscando na tela.
Seu rosto ficou de um tom perigoso de carmesim. "Quem é esse?" Sua voz era um rosnado baixo. "Seu amiguinho médico? O quê, você correu direto para ele depois da nossa briga de aniversário?"
Ele atendeu a chamada antes que eu pudesse protestar. "Alô?" Sua voz era fria, seus olhos fixos em mim com uma fúria possessiva.
A voz de Breno, preocupada, saiu pelo alto-falante. "Alice? Você está bem? Tenho tentado te ligar. Sua condição é instável, você precisa estar descansando."
"Ela está bem", Caio retrucou, cortando-o. "E fique longe da minha esposa, Dr. Dantas. Ela não precisa do seu 'cuidado'!" Ele desligou, jogando meu celular no painel.
"Nosso aniversário, e você está se encontrando com antigos amores?", ele zombou, seu hálito quente e desagradável. "Eu me lembro do Breno. Sempre por perto, sempre te olhando daquele jeito. Ele não se declarou pra você no colégio? É por isso que você está tão corajosa de repente?"
Suas palavras me feriram, mas não da maneira que ele pretendia. Elas simplesmente confirmaram sua própria insegurança, seu próprio ciúme mesquinho.
"E seus pais", ele continuou, sua voz se elevando, "sempre me menosprezando, achando que eu não era bom o suficiente. Bem, adivinha só, Alice? Sem a minha empresa, os investimentos da sua família não valem nada. E seu precioso bebê..." Seus olhos caíram para a minha barriga, um brilho cruel neles. "Você acha que o Dr. Dantas seria um bom pai para o meu filho? Não seja ridícula."
Ele era um monstro. Seu rosto estava contorcido em uma máscara grotesca de raiva e arrogância, como algo saído de um pesadelo. O garoto que eu amava, o homem com quem me casei, havia desaparecido. Substituído por este estranho vil.
Minha mente ficou entorpecida. Pensei nos meus pais, como eles haviam investido suas economias de aposentadoria na startup de Caio, como estavam orgulhosos de "seu genro". Pensei nas inúmeras noites que passei trabalhando ao lado dele, construindo seu sonho, sacrificando o meu.
Caio confundiu meu silêncio com submissão. Ele zombou, um sorriso de escárnio torcendo seus lábios. "Viu? Agora você entende. Estou te dizendo, Alice, eu vou me casar com você. Teremos nossa família. Você só precisa ser paciente. Esperar o... desejo do coração dela se realizar."
Nesse momento, o celular dele tocou. Ele o pegou, sua expressão se suavizando instantaneamente ao ver o identificador de chamadas. "Kaila? Meu amor, o que foi?" Sua voz, tão cheia de veneno momentos atrás, agora era doce como mel. "Estou indo. Agora mesmo. Não se preocupe."
Ele engatou a marcha à ré bruscamente. "Sai do carro, Alice."
"O quê?", eu arfei, a dor no meu estômago explodindo violentamente.
"Eu disse para sair! A Kaila precisa de mim." Ele parou na saída da garagem, praticamente me empurrando para fora da porta. O carro acelerou, me deixando abandonada e sozinha, agarrando minha barriga dolorida.
Com os dedos trêmulos, peguei meu celular do painel. Estava rachado, mas ainda funcionando. Disquei o único número que sabia que atenderia, a única pessoa que realmente se importaria. "Clara? Preciso de você."