Bruno congelou por uma fração de segundo, um cervo pego pelos faróis. Seus olhos piscaram, como se lembrando de algo, de alguém. Mas então, se foi. Ele parecia ter esquecido completamente que eu estava ali, a poucos metros de distância, observando cada movimento seu.
Ele sorriu, um sorriso gentil, quase terno, que fez o ar ao redor deles brilhar com uma história não dita. "Nunca, Cristal", ele disse, sua voz baixa e suave. "Quais são seus planos para hoje à noite? Vai ficar na cidade por um tempo?"
Ele soava como um homem desesperado para mantê-la por perto, um homem que a via como seu mundo inteiro. O pensamento era uma marca em brasa na minha pele.
A multidão ao nosso redor, ainda zumbindo de excitação, pareceu se dissolver. Tudo o que eu conseguia ouvir era a batida frenética do meu próprio coração. Eu não podia deixar isso acontecer. Não de novo. Não aqui.
"Bruno!", eu interrompi sua pergunta, minha voz mais afiada do que eu pretendia. Quebrou a bolha íntima que eles haviam criado.
Sua cabeça se virou bruscamente em minha direção, seus olhos agora cheios de um lampejo de irritação. Ele finalmente pareceu reconhecer minha presença.
"Alice, a gente conversa sobre isso em casa", ele disse, seu tom desdenhoso, uma irritação mal disfarçada em sua voz. "Não estrague o clima para todo mundo."
Estragar o clima? Meu clima já estava em frangalhos. Isso era alguma piada doentia? Ele havia armado todo esse espetáculo público, e agora eu era a única a estragá-lo?
Uma risada amarga borbulhou, mas eu a engoli. "Estragar o clima?", repeti, minha voz perigosamente calma. "Bruno, por que você não me apresenta aos seus... amigos? E à Cristal."
Seu olhar se desviou de mim, um sinal claro de sua relutância. Ele não queria me definir na frente dela. Ele não queria nos definir na frente dela.
"Alice, por favor", ele insistiu, sua voz mal acima de um sussurro, destinada apenas aos meus ouvidos. "Não vamos fazer uma cena."
Meus olhos ardiam com lágrimas não derramadas, mas me recusei a deixá-las cair. Não aqui. Não agora. Eu tinha que recuperar algum resquício de dignidade.
"Não", eu declarei, minha voz ecoando com uma força surpreendente. "Acho que é hora de todo mundo saber. Eu sou Alice Santos. E sou a esposa de Bruno Almeida." Observei o rosto de Cristal. Seu sorriso tímido vacilou, substituído por uma máscara rígida.
Então, eu dei o golpe final. "E em três dias", continuei, minha voz clara e firme, "faremos nossa recepção de casamento formal."
Um silêncio caiu sobre a multidão. As pessoas trocaram olhares desconfortáveis. Alguns me olharam com pena, outros com desdém aberto, como se eu tivesse de alguma forma violado uma regra não dita. O rosto de Cristal se desfez. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ela parecia completamente desolada.
"Oh, Bruno", ela engasgou, sua voz trêmula. "Me desculpe. Eu não sabia... sou tão desastrada." Ela começou a recuar, seus ombros tremendo. "Eu deveria ir. Não quero causar problemas."
Então, com um soluço frenético, ela se virou e fugiu, desaparecendo na multidão que se dispersava.
Bruno nem hesitou. Seus olhos, cheios de uma proteção familiar, a seguiram. Ele começou a se mover, a segui-la.
"Bruno!", agarrei seu braço, minhas unhas cravando em sua pele. "E a cerimônia de premiação? E nossos convidados? Você tem uma recepção em três dias!"
Ele se virou, seu rosto uma máscara de fúria fria. Ele arrancou seu braço do meu aperto, seus olhos em chamas. "Ela acabou de voltar para o país, Alice! Ela precisa de mim agora! Ela torceu o tornozelo!"
Ele enfiou uma pequena caixa de veludo na minha mão. "Toma", ele rosnou, "isto é para você. Agora todo mundo sabe quem você é, isso não te faz feliz?"
Ele não esperou por uma resposta. Ele se virou e correu atrás de Cristal, desaparecendo na noite que escurecia. Ele não olhou para trás.
Eu fiquei ali, a caixa de veludo pesada na minha mão, os aplausos substituídos por um silêncio ensurdecedor. Minha mente registrou o tecido áspero, o peso desconhecido. Então, uma gota atingiu minha bochecha. Depois outra. O céu se abriu, uma chuva torrencial, espelhando a tempestade que se enfurecia dentro de mim.
A chuva grudou meu cabelo no rosto, misturando-se com as lágrimas que eu não conseguia mais segurar. O clube estava esvaziando rapidamente, as pessoas correndo para seus carros. Eu estava sozinha. Totalmente, completamente sozinha. Olhei para a caixa. Estava vazia. O colar de diamantes tinha sumido.
Meu celular vibrou no meu bolso. Uma notificação de carro de aplicativo. Eu tinha pedido mais cedo, como um plano B, uma premonição boba de que algo daria errado. Agora, era minha única saída. Procurei por um transporte, por qualquer pessoa, mas o estacionamento estava quase deserto. O motorista parou, um sedã velho e surrado. As janelas eram escuras, ainda mais escuras que as nuvens de tempestade que se aproximavam. Hesitei, meu coração batendo em um ritmo de pânico. Meu estresse pós-traumático gritava para mim, mas eu não tinha escolha. Eu tinha que ir para casa.