Gênero Ranking
Baixar App HOT
Cinco Anos, Um Voto Forjado
img img Cinco Anos, Um Voto Forjado img Capítulo 5
5 Capítulo
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 5

Ponto de Vista de Alice:

Minha mão tremia enquanto eu mexia no meu celular morto, tentando fazer algum barulho, qualquer coisa, para afastar o terror que se aproximava. O motorista do aplicativo, um homem corpulento com um rabo de cavalo oleoso, já estava saindo do carro, seus olhos brilhando na luz fraca do poste. Ele me olhou como um predador avaliando sua presa. Meu trauma passado, a tentativa de sequestro, gritava em minha mente. Todo instinto me dizia para correr, mas minhas pernas pareciam de chumbo.

Nesse momento, meu celular, milagrosamente, piscou e voltou à vida. Um ponto de sinal. Um último suspiro de bateria. Meu contato de emergência. Bruno. Pressionei seu número, meu dedo tremendo. A chamada conectou.

"Alô?" Uma voz de mulher. Cristal. Meu coração despencou aos meus pés.

"Cristal?", sussurrei, minha voz quase inaudível acima da chuva forte e da batida do meu próprio coração.

"Ah, é você, Alice", ela disse arrastado, um sorriso presunçoso audível em sua voz. "O Bruno está no banho. Ele não pode atender agora."

Meu mundo escureceu. Ele estava no banho. Com ela. Enquanto eu estava aqui fora, sozinha, no escuro, com uma ameaça em potencial pairando bem na minha frente. O medo foi rapidamente substituído por uma raiva fria e ardente.

"Não se preocupe", Cristal continuou, sua voz pingando veneno. "Eu não vou dizer a ele que você ligou. Não queremos atrapalhar o reencontro deles, não é?"

Meu sangue gelou. O motorista estava mais perto agora, sua sombra se estendendo em minha direção. Eu tinha que pensar. Rápido.

"Cristal", eu disse, forçando minha voz a ficar calma, "estou com problemas. Estou perto da velha ponte de Oakwood, na Rua Elm. Por favor, apenas diga ao Bruno. Preciso de ajuda." Eu arrisquei, esperando que um pingo de humanidade, ou mesmo apenas o medo de ser implicada, a fizesse agir.

"Problemas?", Cristal zombou. "Alice, querida, você sempre causa drama. Você pode se cuidar sozinha." Sua voz endureceu. "O Bruno acabou de sair do banho. Ele está cansado. Estamos prestes a ir dormir."

Dormir. Com meu marido. A palavra foi uma faca se torcendo em minhas entranhas.

"Vou desligar meu celular agora, Alice", disse Cristal, sua voz assustadoramente doce. "Precisamos de um tempo a sós, se é que você me entende. Resolva seus próprios problemas, ok?"

A linha ficou muda. O silêncio que se seguiu foi aterrorizante.

O motorista avançou.

Meu grito foi um soluço estrangulado. Tropecei para trás, sua mão pesada agarrando meu braço. O cheiro de cigarros velhos e colônia barata encheu minhas narinas, trazendo de volta memórias vívidas e aterrorizantes. Minha mente brilhou para o spray de pimenta que Bruno me dera, ainda apertado na minha outra mão. Ele me deu como uma piada, um gesto simbólico. Agora, era minha única arma.

Com uma onda desesperada de adrenalina, levantei a mão, mirando em seu rosto. Um spray ofuscante de névoa branca irrompeu, atingindo-o em cheio. Ele rugiu, soltando meu braço, agarrando o rosto.

Esta era minha chance. Bati com o joelho em sua virilha, um golpe desesperado e poderoso. Ele se dobrou, gemendo de dor. Eu não esperei. Virei-me e corri, cegamente, sob a chuva forte, meus pulmões queimando, meu coração um tambor frenético.

Não parei até encontrar um denso matagal, um pequeno refúgio escuro na tempestade. Rastejei para dentro, puxando galhos ao meu redor, meu corpo tremendo incontrolavelmente. Pressionei as mãos sobre a boca, abafando os soluços que ameaçavam escapar. Eu podia ouvir as maldições do motorista, seus movimentos frenéticos, mas eles se tornaram mais fracos. Ele estava me procurando, mas não conseguia me ver. Ainda não.

Ele voltou para o carro, batendo a porta. O motor rugiu, os pneus cantando enquanto ele acelerava. Ele se foi.

Meu corpo desabou, alívio e terror lutando dentro de mim. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, quentes e silenciosas. Eu estava segura, por enquanto. Mas a imagem de Bruno e Cristal, em nossa casa, indo dormir juntos, me martelava. Ele permitiu isso. Ele possibilitou isso.

Meu celular, ainda apertado na minha mão entorpecida, piscou mais uma vez. Uma notificação. Uma nova postagem no blog. De Cristal Ribeiro. Meu coração afundou. Eu não queria olhar, mas não consegui me conter.

A postagem mostrava uma foto borrada das costas fortes de Bruno, seu braço envolvendo Cristal, a cabeça dela aninhada em seu ombro. A legenda dizia: "Tão bom estar em casa. Depois de todos esses anos, algumas coisas nunca mudam. #AlmasGêmeas #Reencontro #AmorVerdadeiro."

Meu corpo inteiro começou a tremer. Casa. Nossa casa. Ele estava com ela. Enquanto eu estava quase... Minha garganta se fechou. Ele me deixou para morrer. Ele ignorou minhas ligações, permitiu que Cristal zombasse dos meus pedidos de ajuda. Ele me colocou em perigo conscientemente por ela.

A raiva que estava fervendo sob a superfície transbordou. Isso não era apenas infidelidade. Era uma traição profunda de confiança, de segurança, de tudo que eu pensei que tínhamos. Isso era imperdoável.

Casamento? Que casamento? Ele certamente não agia como um marido. Ele agia como um homem consumido por um amor passado, me usando como um curativo, um estepe conveniente.

Eu não o deixaria mais fazer isso. Eu não a deixaria mais fazer isso.

Uma resolução fria e dura se instalou em meu coração. Amanhã, eu pediria o divórcio. Não. Eu não pediria o divórcio. Eu ia sair. Eu ia ser livre.

Usei o último pingo de bateria do meu celular para procurar o motel mais próximo, qualquer lugar para passar a noite. Ficava a quilômetros de distância. Comecei a andar, a chuva ainda caindo, mas o fogo dentro de mim me manteve em movimento. Atravessei as poças, minhas roupas pesadas, meu corpo doendo.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, cheguei a um motel surrado. Paguei com o resto do meu dinheiro, exausta demais para me importar com o quarto de má qualidade. Tomei um banho, lavando a sujeira, o medo, o cheiro persistente daquele homem e o gosto amargo da traição. Então, desabei na cama, caindo em um sono profundo e sem sonhos.

Anterior
                         
Baixar livro

COPYRIGHT(©) 2022