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Votos Rompidos, A Vingança de um Cientista
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Capítulo 4

Aurelia Monteiro POV:

Os guardas me arrastaram para fora do laboratório, seus apertos como faixas de ferro. Minha mão enfaixada gritava em protesto, cada movimento enviando novas ondas de agonia através dos ossos quebrados. Meus apelos a Heitor caíram em ouvidos surdos, engolidos pela indiferença cavernosa de sua traição. Ele e Melissa se foram, deixando-me à mercê de seus capangas.

Eles me empurraram para dentro de uma SUV preta, as janelas escuras, me isolando do mundo. Dirigimos pelo que pareceu uma eternidade, as luzes de São Paulo desaparecendo na desolada expansão do campo. O medo era um nó frio e constritor em meu estômago. O que ele ia fazer comigo?

Finalmente, a SUV parou em um galpão remoto e abandonado, sua estrutura esquelética recortada contra o céu machucado do pré-amanhecer. A luz da lua filtrava pelas janelas sujas, lançando sombras longas e distorcidas. O ar estava pesado com poeira e o cheiro metálico de decadência.

Os guardas me puxaram para fora, suas mãos rudes. Heitor estava esperando, parado na penumbra opressiva, seu rosto ilegível. Melissa estava ao seu lado, uma figura fantasmagórica em um vestido branco, um sorriso fraco e malévolo brincando em seus lábios.

"Aurelia", a voz de Heitor ecoou no vasto espaço, desprovida de qualquer calor. "Você não me deixou escolha. Você se recusou a cooperar. Você ameaçou a Mel. Você me forçou a agir."

Minha respiração engatou. Minha mão. A quebrada. A percepção me atingiu com a força de um golpe físico. Ele não ia apenas me silenciar. Ele ia me punir.

"Punir?" sussurrei, minha voz trêmula. "Que tipo de punição você está falando, Heitor?"

Ele deu um passo à frente, segurando algo em sua mão. Uma barra de metal pesada e ornamentada, sua superfície brilhando opacamente na luz fraca. Meus olhos se arregalaram de horror.

Então, ele fez algo que fez meu sangue gelar. Ele entregou a barra de metal para Melissa.

Meu olhar se fixou nela. Seus olhos brilhavam com um deleite arrepiante. Ela agarrou a barra, testando seu peso.

"Heitor, não!" gritei, lutando contra os guardas. "Você não pode! Isso é barbárie!"

Ele ignorou meus apelos, seu olhar fixo em Melissa. "Dê uma lição nela, Mel", disse ele, sua voz tão fria quanto a barra de metal que ela segurava. "Ensine a ela o que acontece quando ela me desafia. Certifique-se de que ela entenda as consequências de suas ações."

Ele olhou para mim, seus olhos desprovidos de emoção. "Isso é para o seu próprio bem, Aurelia. Você precisa aprender a ter disciplina. Você precisa aprender quem está no comando."

Meu coração batia forte, um tambor frenético contra minhas costelas. Tentei falar, implorar, mas minha garganta se fechou, sufocada pelo medo.

Melissa se aproximou de mim, a barra de metal balançando suavemente em sua mão. Um sorriso cruel se estendeu por seus lábios. "Oh, Aurelia", ela ronronou, sua voz pingando falsa simpatia. "Isso vai doer mais em você do que em mim. Bem, talvez não." Ela riu, um som infantil e arrepiante.

Heitor observava, sua expressão impassível. Ele estava gostando disso. Ele estava permitindo isso.

"Pegue a outra mão dela, Mel", ele instruiu, sua voz calma, distante. "Precisamos garantir que ela não possa escrever, não possa pesquisar, não possa causar mais problemas."

Meu corpo ficou dormente. Minhas mãos. Minhas mãos, minhas ferramentas, minha vida. Ele ia destruí-las.

Melissa ergueu a barra, seus olhos brilhando com satisfação maliciosa. O primeiro golpe atingiu minha mão esquerda, a que já estava enfaixada. Uma dor lancinante, mais aguda do que qualquer coisa que eu já senti, disparou pelo meu braço. Gritei, um som cru e primal de agonia.

Melissa riu. "De novo, Heitor? Ela é bem resistente."

Heitor assentiu, um leve sorriso brincando em seus lábios. "De novo. Certifique-se de que ela se lembre disso."

O segundo golpe. O terceiro. O quarto. Cada um uma nova onda de agonia, cada um um golpe de martelo na minha própria alma. Minhas mãos, antes tão habilidosas, tão precisas, estavam sendo sistematicamente esmagadas. Eu lutei, me debati, mas os guardas me seguraram firme.

Minha visão embaçou, lágrimas de dor e humilhação escorrendo pelo meu rosto. Eu mal conseguia respirar. A dor era avassaladora, um inferno furioso em minhas mãos.

Melissa largou a barra, seu peito arfando, um brilho triunfante em seus olhos. "Ela está acabada, Heitor. Ela não vai escrever nada por um longo, longo tempo."

Heitor se aproximou, seu olhar varrendo minhas mãos mutiladas. Ele se ajoelhou ao meu lado, seu rosto perto do meu. "Você entende agora, Aurelia? Você entende com quem está lidando?"

Eu não conseguia falar. Eu só conseguia gemer, a dor imensa demais, avassaladora demais. Meu mundo estava encolhendo, consumido pela agonia latejante em minhas mãos.

Então, tudo ficou preto.

Acordei em um quarto de hospital branco e imaculado, o cheiro de antisséptico enchendo minhas narinas. Minhas mãos estavam pesadamente enfaixadas, suspensas em talas, latejando com uma dor surda e constante. Heitor estava sentado ao meu lado, seu rosto marcado pela preocupação.

"Aurelia", ele sussurrou, correndo para o meu lado. Ele pegou meu braço, seu toque surpreendentemente gentil. "Graças a Deus você está acordada. Eu estava tão preocupado." Ele se inclinou, sua voz embargada pelo que parecia ser remorso. "Sinto muito, meu amor. Foi um acidente. A Mel... ela se empolgou. Eu nunca quis que as coisas fossem tão longe."

Eu o encarei, uma risada amarga borbulhando em minha garganta. Acidente? Se empolgou? Ele havia orquestrado. Ele havia assistido. Ele havia ordenado.

"Você ordenou", grasnei, minha voz rouca. "Você a viu quebrar minhas mãos. E você gostou."

Seu rosto endureceu. "Não seja ridícula, Aurelia. A Mel é uma mulher frágil. Ela estava apenas me defendendo. Protegendo nossos interesses. Você estava sendo irracional." Ele apertou meu braço. "Mas eu já providenciei os melhores cirurgiões. Eles vão consertar suas mãos. Você voltará ao normal em pouco tempo."

Ele continuou, alheio à minha crescente repulsa. "E a Mel... ela se sente péssima. Ela está tão angustiada. Mas eu expliquei para ela. Você precisava aprender uma lição. Ela estava apenas cumprindo seu dever."

Meu coração, já estilhaçado, se partiu ainda mais. Ele ainda a estava protegendo. Ainda me culpando.

Ele se inclinou, sua voz um ronronar baixo. "Decidi te compensar, Aurelia. Comprei uma nova mansão para você, no Guarujá. Podemos recomeçar. Só nós. Deixaremos toda essa... desagradável para trás." Ele gesticulou ao redor do quarto estéril, como se descartasse a dor que havia infligido. "Você pode descansar, se recuperar. Eu cuidarei de tudo. Você não precisa se preocupar com nada."

Ele estava tentando me comprar. Me aprisionar em uma gaiola dourada. Me controlar.

Uma onda enjoativa de náusea me invadiu. Eu queria gritar. Eu queria arrancar sua garganta. Mas eu não podia. Minhas mãos estavam quebradas. Minha voz, mal um sussurro.

Ele havia providenciado uma exibição luxuosa no quarto do hospital: um vaso cheio dos meus lírios brancos favoritos, uma caixa de chocolates artesanais, um tablet novinho em folha carregado com meus e-books favoritos. Todas as coisas que ele achava que me fariam feliz. Todas as coisas que ele costumava fazer, nos primeiros dias, quando seu amor parecia real.

Lembrei-me das manhãs, quando ele me trazia café na cama, um único lírio ao lado, seus olhos cheios de adoração. Lembrei-me dos presentes atenciosos, dos momentos tranquilos de risadas compartilhadas, da maneira como ele ouvia, realmente ouvia, meus sonhos, minhas aspirações.

Agora, tudo aquilo parecia uma zombaria grotesca. Seus presentes eram correntes. Sua preocupação, uma mentira.

Ele se inclinou, seus lábios roçando minha testa. "Senti sua falta, Aurelia. Seremos felizes de novo. Como antes."

Antes. Não havia mais 'antes'. Ele havia destruído.

Fechei os olhos, uma dor fria e vazia se espalhando pelo meu peito. Meu coração estava morto. Irrevogavelmente.

Então, uma risadinha súbita e aguda ecoou do corredor. Melissa.

Meus olhos se abriram bruscamente. A cabeça de Heitor se virou para a porta.

Melissa apareceu na porta, uma delicada camisola de seda agarrada à sua figura esguia. Seus olhos estavam arregalados e lacrimejantes, seu rosto pálido. Ela agarrava um ursinho de pelúcia contra o peito.

"Heitor!" ela choramingou, sua voz trêmula. "Eu... eu tive um pesadelo. Fiquei com tanto medo." Ela olhou para mim, seus olhos arregalados de medo fingido. "Sinto muito, Aurelia. Eu não queria te machucar. Eu realmente não queria. Eu só... fiquei com tanto medo."

Heitor estava de pé em um instante, correndo para o lado dela. Ele envolveu seus braços ao redor dela, puxando-a para perto. "Está tudo bem, querida. Foi só um sonho. Estou aqui. Você está segura." Ele acariciou o cabelo dela, seu olhar cheio de uma ternura que fez meu estômago revirar.

Eu os observei, uma profunda sensação de vazio se instalando sobre mim. Ele realmente se foi. Seu coração, sua lealdade, seu próprio ser. Tudo consumido por Melissa.

Ele era cego para o monstro que ela realmente era, cego por seu senso distorcido de lealdade, por sua vulnerabilidade fingida. Ele a via como uma donzela em perigo, uma coisa preciosa que ele tinha que proteger a todo custo, mesmo à custa de sua esposa, de sua moral, de sua humanidade.

Minhas mãos latejavam. Minha cabeça doía. Mas um novo tipo de clareza, fria e afiada, se instalou em minha mente. Ele não era mais apenas meu marido. Ele era meu inimigo. E Melissa, sua cúmplice, sua arma.

Minha vida com Heitor acabou. Mas minha história, minha busca por justiça, estava apenas começando.

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