Aurelia Monteiro POV:
Heitor embalava Melissa, de costas para mim, alheio à tempestade silenciosa que se formava em meu coração. Ele se fora, absorvido pela fragilidade fabricada dela. O som de seus confortos sussurrados, dos soluços fingidos dela, torcia uma faca em meu estômago.
Ele se virou, conduzindo Melissa para fora do quarto. Nem sequer me lançou um olhar, suas últimas palavras pairando no ar como uma maldição. "Voltarei para ver como você está mais tarde, Aurelia. Tente descansar um pouco."
Descansar? Depois de tudo? A audácia dele.
A porta se fechou com um clique, deixando-me sozinha no silêncio opressivo do quarto de hospital. Meus olhos ardiam, mas nenhuma lágrima veio. Havia apenas um vazio frio e consumidor, pontuado pela latejante e implacável dor em minhas mãos quebradas.
Olhei para os lírios brancos imaculados, sua simbólica oferta de paz. Eles pareciam zombar de mim, sua beleza frágil um contraste gritante com a realidade brutal da minha vida. Com minha mão boa, estendi-me, meus dedos desajeitados. Arranquei uma única flor e rasguei suas pétalas, uma por uma, espalhando-as sobre os lençóis brancos. Cada pétala caindo era um pedaço do nosso casamento estilhaçado, da nossa confiança quebrada.
Então, peguei meu celular. Ele estava na mesa de cabeceira, um pequeno retângulo escuro. Olhei para ele, um plano se formando lentamente em minha mente, frio e preciso. Eu precisava agir. Agora.
Meu polegar pairou sobre a tela. Um número. Bruno Moraes. O CEO rival. O homem que havia enviado aquela mensagem enigmática, oferecendo ajuda, alegando uma dívida.
Hesitei. Podia confiar nele? Depois da traição de Heitor, confiança era um conceito estranho. Mas que escolha eu tinha? Eu estava quebrada, isolada e completamente sozinha. Heitor havia se certificado disso.
Minha determinação se fortaleceu. Isso não era sobre confiança. Era sobre sobrevivência. Era sobre justiça.
Pressionei o botão de chamada.
Nesse exato momento, a porta se abriu rangendo. Heitor. Ele estava lá, seus olhos estreitados, um brilho suspeito em suas profundezas. Ele não tinha saído, afinal. Ele estava me testando. Esperando que eu fizesse um movimento.
Meu celular, ainda tocando, escorregou da minha mão, caindo no chão com um baque. Meu coração saltou para a garganta.
Ele me pegou.