Capítulo 4 No.4

O choque de adrenalina a atingiu três quarteirões depois.

Suas mãos começaram a tremer. O triunfo na boutique fora fugaz; a realidade era que ela ainda era casada com um homem que comprava bolsas para a amante com o dinheiro dela.

Precisava de uma bebida.

Entrou em uma porta estreita numa rua lateral. Não havia placa, apenas uma aldrava de latão em forma de tigre. The Blind Tiger. Um bar secreto.

Empurrou a porta. Estava escuro, cheirando a cedro e uísque envelhecido. Jazz tocava suavemente ao fundo. Sentou-se na extremidade do bar, as sombras envolvendo-a.

- Uísque. Puro. O mais caro que tiver - disse ao barman.

Bebeu o primeiro rápido demais. A queimação a trouxe de volta à terra. Pediu o segundo.

A porta se abriu, deixando entrar uma rajada de vento frio e o barulho da cidade.

Um homem entrou. Era alto, ombros largos, vestindo um terno que custava mais que um carro. Parecia exausto. Sentou-se a dois bancos de distância dela, afrouxando a gravata com um suspiro cansado.

Evelina, com o álcool zumbindo no sangue, virou-se para olhá-lo.

Reconheceu-o instantaneamente. O maxilar definido, os olhos escuros e inteligentes.

Era Augusto Silveira.

Ela não devia interagir. Deveria desviar o olhar. Mas o uísque a deixara imprudente.

Deslizou seu copo pelo balcão de mogno em direção a ele. O gelo tilintou.

- Noite difícil, Diretor Silveira? - perguntou.

O homem se virou. Seus olhos eram da cor do aço. Ele olhou para ela, realmente olhou, analisando seu rosto. Não parecia reconhecê-la dos arquivos de pessoal ainda - a foto dela lá tinha cinco anos e ela parecia muito diferente agora. Mas ficou surpreso por ela saber seu nome.

- Eu conheço você? - perguntou ele, a voz um estrondo profundo.

Evelina riu. Foi um som amargo.

- Não. Mas eu conheço você. Você é o homem que constrói jaulas para vírus.

Augusto ergueu uma sobrancelha. Um lampejo de diversão cruzou seu rosto.

- E você é?

- Apenas um fantasma - murmurou ela.

Inclinou-se, o cotovelo escorregando levemente na madeira polida. Olhou-o de cima a baixo, notando a perfeição de seu traje.

- Você é bonito demais para ficar preso num laboratório o dia todo.

- Poderia dizer o mesmo sobre você estar sozinha num bar - respondeu ele suavemente.

Evelina vasculhou a bolsa. Tirou uma nota de cem dólares de seu maço. Bateu com ela no balcão.

- Eu só quero falar sobre parasitas - disse ela. - Sobre como eles se agarram a você e sugam sua energia até você ser apenas uma casca. Você entende de parasitas, não entende, Doutor?

Augusto a encarou. Percebeu que ela não era apenas uma bêbada qualquer. Era inteligente, quebrada e falava em metáforas que atingiam perto de casa.

- Lido com eles todos os dias - disse ele calmamente.

Evelina começou a divagar. Falou sobre as patentes sem nomeá-las. Falou sobre a gravata. Falou sobre o silêncio.

O homem ouviu. Não interrompeu. Bebeu sua própria bebida e a observou com uma intensidade desconcertante.

De repente, a sala girou. O uísque a atingiu de estômago vazio. Ela balançou.

- Preciso ir - murmurou. - Acho que vou passar mal.

Levantou-se e tropeçou. A mão do homem disparou, segurando-a pelo cotovelo. O aperto era firme, quente e elétrico.

#NAME?

Evelina se afastou, o pânico explodindo. Não podia fazer isso. Não podia ser tão desastrosa na frente do homem que em breve seria seu superior.

- Fique com o dinheiro - disse ela, gesticulando para a nota no balcão. - Taxa de consulta.

Virou-se e fugiu noite adentro, deixando Augusto Silveira sentado no bar, encarando a porta, imaginando quem diabos era aquela mulher brilhante e quebrada que sabia seu título, mas o tratava como um barman.