Capítulo 5 No.5

A dor de cabeça na manhã seguinte era uma martelada atrás dos olhos. Evelina gemeu, rolando na cama de hóspedes. Havia se trancado lá quando chegara em casa.

Seu telefone bipou.

NOTIFICAÇÃO: Briefing do Protocolo. 09:00 Horas. Presença Obrigatória para Candidatos da Fase 1.

Ela olhou a hora. 08:15.

Pânico.

Tomou banho em três minutos. Vestiu seu terno mais severo - cinza-chumbo, calças de cintura alta, uma blusa de seda branca impecável. Puxou o cabelo para trás em um coque apertado. Sem maquiagem para esconder as olheiras. Queria parecer uma máquina.

Chegou à instalação segura às 08:58. Passou o cartão e correu para a sala de reuniões.

Estava cheia. Cientistas de ponta de todo o mundo, todos recrutados para O Protocolo. Estavam sentados ao redor de uma enorme mesa oval.

Evelina ocupou o único assento vazio, perto do fundo.

- Senhores, senhoras - uma voz ecoou da frente da sala.

Evelina olhou para cima. E congelou.

De pé na cabeceira da mesa estava Augusto Silveira.

Ele examinou a sala. Seu olhar pousou em Evelina. Por um microssegundo, seus olhos se arregalaram. O reconhecimento brilhou. A mulher do bar. O "Fantasma".

Ele não sorriu. Não reconheceu o encontro. Apenas manteve o olhar nela por um segundo a mais antes de se voltar para o grupo.

#NAME?

Ele começou o briefing. Evelina tentou se concentrar. Fez anotações. Encarou a projeção holográfica da estrutura viral. Mas seu corpo a estava traindo.

Uma cólica tomou conta de seu baixo ventre. Aguda. Violenta.

Ela estremeceu. Seu rastreador biológico vibrara três vezes naquela manhã, mas na pressa e na ressaca, ela ignorara. O estresse da última semana, o álcool, o choque - tudo isso havia jogado seu ciclo no caos.

Ela se ajeitou na cadeira. Sentiu uma umidade.

Ah, meu Deus.

Checou a data. Estava adiantada. Semanas adiantada.

Ela estava usando calças cinza-claro.

Sentou-se perfeitamente imóvel, o terror subindo pela garganta. O briefing se arrastou por mais vinte minutos. Cada minuto era uma eternidade. Ela não podia se levantar. Todos veriam.

#NAME?

Os cientistas se levantaram, recolhendo seus tablets. Olharam para Evelina com curiosidade enquanto saíam em fila. Evelina permaneceu congelada, o rosto pálido.

A sala esvaziou. A porta se fechou com um clique.

Augusto ficou na frente, organizando seus papéis. Não olhou para ela imediatamente.

- Dra. Espindola - disse ele. - Há algum problema? Você parece... angustiada.

Evelina olhou para ele. O rosto estava pálido, gotas de suor na testa.

- Eu... preciso de um momento, Diretor.

Augusto contornou a mesa. Parou a alguns metros de distância. Não estava mais olhando para o rosto dela. Estava olhando para a postura dela. A maneira rígida como ela se segurava. Seguiu a linha de visão dela até o colo. Viu a borda mais tênue de uma mancha escura no tecido cinza onde pressionava contra a cadeira.

A expressão dele não mudou. Sem nojo. Sem zombaria. Apenas cálculo.

#NAME?

- Eu não posso - sussurrou ela, humilhada.

Augusto suspirou. Tirou o paletó do terno. Era uma peça feita sob medida, lã azul-marinho pesada, forrada com seda.

Caminhou para trás dela.

#NAME?

Ela se levantou, tremendo. Augusto imediatamente amarrou o paletó na cintura dela, dando um nó com as mangas na frente. O tecido pesado caiu até os joelhos, cobrindo completamente as calças.

Ele se inclinou perto do ouvido dela. Ela podia sentir o cheiro de sândalo e linho limpo.

- Considere isso o retorno do seu investimento - sussurrou ele, referindo-se ao dinheiro que ela deixara no bar.

Evelina ficou vermelha brilhante, queimando do pescoço até a raiz do cabelo.

#NAME?

#NAME?

Ela agarrou o paletó na cintura e correu.