Capítulo 4 Tommy

Entrei no apartamento e fui rapidamente para a sala de estar. Me joguei no sofá e suspirei de cansaço. Endireitei as minhas costas e olhei para o meu reflexo no vidro que tinha bem na minha frente. Meus olhos verdes tinham perdido o brilho. Parecia cansada. Claro que tinha que estar cansada. Depois de trabalhar ontem à noite, tive que acordar cedo para ir à faculdade esta manhã. No final, acabei dormindo somente duas horas.

"É uma droga estudar, não é mesmo?" Rose perguntou, quando entrou na sala com um copo de suco de manga na mão. O suco me fez abrir um grande sorriso. Estava realmente precisando. Tomei o suco e depois respirei fundo.

"Sim, é mesmo", respondi.

"Vá descansar", ela disse, olhando para mim, estava visivelmente preocupada comigo.

"Eu não posso", respondi. "Tenho que ir visitar Tommy", disse para ela, em seguida, fechei os olhos e encostei a cabeça na almofada do sofá. Era tão confortável.

"Vou com você! Estou com saudades daquele homenzinho", Rose disse alegre. Tommy é o meu meio-irmão. Ele tem sete anos de idade. Para encurtar a história, o meu pai traiu a minha mãe, e acabou engravidando a amante. Ela morreu e meu pai se recusou a assumir a responsabilidade do menino, que tem câncer. Meu pai é um sem coração. Minha mãe fez pior. Ela disse que estava orando para que Tommy morresse.

Por que ele deveria sofrer por um erro que foi o meu pai quem cometeu?

Depois de uma grande briga com os meus pais por esse motivo, acabei saindo de casa. Fiquei com ódio quando vi quem eles realmente eram. Por isso agora estou morando com Rose. Tenho que pagar a minha faculdade sozinha e o tratamento do Tommy. Estava ficando cada dia mais difícil. Fiquei feliz quando Rose decidiu me ajudar e minha irmã, Alena, também.

Alena nunca me abandonou. Foi difícil sair de casa e deixá-la para trás, no início, ela não entendia por que eu estava cuidando do Tommy, que é o filho da amante do nosso pai. Conversamos e expliquei para ela, e finalmente, ela aceitou conhecê-lo. Ela se apaixonou pelo garotinho fofo que ele era, logo assim que o viu. Um dia, o câncer poderia tomar conta do seu pequeno coração, e só de pensar nisso, sentia uma grande dor no peito. Tentava não pensar nessa possibilidade. Tommy precisava de mim e eu também precisava dele. Ele era como um pequeno raio de sol.

Levantei-me do sofá e fui para o meu quarto. Tinha que trocar de roupa, antes de sair. Estava muito cansada, mal conseguia manter os olhos abertos. Tirei o meu vestido e dei um suspiro de cansaço. Meus olhos encontraram o meu reflexo no espelho, que estava na minha frente. Por que a vida tem que ser tão difícil? Mas, pensando bem, se fosse fácil, seria chata. Vesti calça jeans e uma camisa de malha. Depois de trocar de roupas, calcei um par de tênis.

"Pronta?" Rose parou na porta do meu quarto e perguntou. Balancei a cabeça e peguei a minha bolsa. Caminhamos até o carro sem falar nada uma com a outra, era um silêncio gostoso para quem estava tão cansada como eu estava. Rose sabia que quando eu estava muito cansada, ficava de mau humor.

"Esta noite, a única coisa que quero é a minha cama", disse, enquanto dirigia para o hospital. Meu único consolo é que não teria que trabalhar esta noite e poderia descansar.

"Você realmente precisa descansar", Rose disse olhando para mim com os seus olhos de preocupação. Concordei com a cabeça e coloquei uma música para afastar da minha mente todos os problemas que tinha.

Quando saí do carro, fiz uma careta, ao sentir o cheiro do hospital. Odeio hospitais e o seu cheiro de remédio. Creio que a Rose sentiu o mesmo, pois chegou a fazer um gesto de quem ia vomitar. Um médico passou por nós e olhou para ela como se ela fosse uma louca. De repente, ele correu para o lado dela e a segurou pelo braço.

"Senhorita, você está bem?" O médico perguntou com os olhos arregalados. Ele aparentava ter uns quarenta anos de idade. Rose sorriu para ele.

"Sim, eu estou, obrigada! Não precisa se preocupar", ela disse, enquanto se afastava lentamente dele e caminhava na minha direção.

"Então, vai ficar tudo bem se eu levar você para jantar?" O médico descaradamente deu em cima da Rose. Ela arregalou os olhos e parecia enojada com a proposta.

"Sinto muito, mas tenho namorada", Rose respondeu segurando o meu braço. O médico ficou sem graça. Ele acenou com a cabeça e caminhou na direção oposta a nossa. Quando olhei para o rosto da Rose comecei a rir.

"Rose", ela olhou para mim. "Não sei como dizer isso para você", disse com uma expressão séria no rosto, o que a fez franzir a testa.

"O que foi?" Ela perguntou com os braços cruzados sobre o peito, quando paramos de caminhar. Dei um suspiro dramático e coloquei a minha mão no ombro dela.

"Eu não sou lésbica", continuei com o meu tom de voz sério, e ela, bufou irritada. Comecei a rir da cara dela.

"Como se eu fosse lésbica", ela respondeu. "Querida, pênis é o único que eu gosto", ela disse sem rodeios e falando alto. Algumas pessoas que passavam por nós, quando ela disse isso, se viraram para nos olhar. Por que não eles fariam isso?

"Venha, vamos", ainda estava rindo. Caminhamos até a recepção do hospital. A recepcionista abriu um grande sorriso para nós.

"Olá meninas, como vocês estão?" Ela perguntou. Amanda trabalhava há muito tempo no hospital, e como visito Tommy três vezes por semana, nos vemos com frequência.

"Estamos muito bem, obrigada! E você como está?" Rose perguntou com um sorriso no rosto.

"Estou bem, obrigada", ela respondeu.

"Viemos ver o Tommy", disse para Amanda. Ela fez um gesto com a cabeça nos autorizando a entrar.

"Vocês podem entrar! Ele está esperando você desde cedo", ela disse. Tommy sabia da minha visita de hoje. Caminhamos até o elevador. Quando entramos, um médico entrou também. Ele parecia muito jovem e fofo. Vi um sorriso malicioso estampado no rosto da Rose. Ela olhou para mim e se abanou.

"Ele é gostoso", ela sussurrou. Mas, para ser sincera, não era bem um sussurro. Tenho certeza que o médico ouviu. A porta se fechou e apertamos o botão para o quinto andar.

"Obrigado", o médico disse, olhando para nós.

"Por apertar o botão?" Perguntei confusa, afinal, era a única coisa que tinha feito para ele. Ele riu e balançou a cabeça. Em seguida, ele olhou para Rose e novamente, sorriu.

"Você também é gostosa", ele disse olhando para ela. Eu sabia. Eu tinha certeza de que ele tinha ouvido o comentário dela. Rose estava ficando da mesma cor que um tomate. Eu ri, e ela beliscou o meu braço.

"Quem disse que estávamos falando de você?" Rose perguntou, erguendo uma das sobrancelhas e com um ar petulante. O médico fez a mesma expressão que ela, mas ele tinha um sorriso divertido no rosto.

Estava ficando sufocada com a tensão sexual dentro do elevador.

"Jace", ele disse, esticando a mão.

"Rose", ela respondeu e apertou a mão dele. Jace então se virou para mim e apertei a mão dele também.

"Athena", disse com um sorriso no rosto.

"O que vocês estão fazendo aqui, meninas?" Ele perguntou olhando para nós. Ele parecia ser um cara legal. Rose não tirava os olhos dele, do seu belo par de olhos azul claro.

"Estamos aqui para visitar o meu irmão mais novo", respondi.

"Qual o nome dele?" Ele perguntou com curiosidade.

"Tommy Williams", Rose respondeu. Os olhos de Jace se arregalaram e ele sorriu para nós mais uma vez.

"Olá, sou o novo médico dele. O senhor Johnson se aposentou ontem", Jace explicou.

"Ele se aposentou?" Perguntei surpresa. Por quê? Ele era um médico muito bom e confiava nele para o tratamento do meu irmão. E quanto a Jace? Não tinha a menor ideia das suas capacidades.

"Não se preocupe. Vou cuidar muito bem do Tommy", Jace parecia ter lido a minha mente. Respirei fundo quando o elevador parou e saímos. Fomos para o quarto do Tommy e vi Rose procurando algo dentro da sua bolsa.

"O que você está procurando?" Perguntei curiosa, quando paramos na frente da porta do quarto.

"O doce que compramos para ele", ela disse, enquanto mordia os lábios e continuava revirando a bolsa. Finalmente, ela tirou um saco plástico de dentro da bolsa, que tinha uma variedade de pequenos doces dentro. Sorri enquanto empurrava a porta para entrar. Na pequena cama, vi o meu irmão deitado conversando com uma das enfermeiras. Conversando? Não era bem isso. Era mais como discutindo.

"O Homem-Aranha é melhor do que o Hulk", ele disse com firmeza. A enfermeira bufou e fingiu discordar.

"Hulk é o melhor. Ele é verde", a enfermeira justificou a escolha. Quando vi a cena, comecei a rir, e acabei chamando a atenção dos dois, que olharam para mim. "Voltamos a conversar sobre isso mais tarde", ela disse, depois de piscar o olho para ele e sorrir para nós, antes de sair do quarto.

"Athena! Senti sua falta", segurei os braços dele e beijei a sua testa.

"Eu também senti sua falta, garotão", respondi. E então, me movi para que Rose pudesse abraçá-lo ou quase sufocá-lo. E foi o que ela fez.

"Tia! Você está me sufocando", Tommy gritou. Rose riu e se afastou.

"O que disse para você sobre me chamar de tia?" Rose perguntou, tentando soar intimidante.

"Você se sente velha", Tommy respondeu. Rose concordou fazendo um gesto com a cabeça. "Mas você está velha", Tommy completou, enquanto pegava o saco de doces da mão dela.

"Eu tenho somente vinte e seis anos!" Rose exclamou depois de um bufar.

"Athena tem dezenove anos", Tommy disse, enquanto sorria para mim e depois enchia a boca de doce.

"Tommy, vá devagar com esses doces", disse entregando um lenço de papel para ele limpar a boca. Ele concordou.

"Ela é muito jovem", Rose respondeu. Jace, o médico, estava parado perto do pé da cama, olhando para o histórico médico de Tommy. Ele tinha uma expressão sério no rosto. Quando estava prestes a perguntar para ele se estava tudo bem, o meu telefone tocou. Ignorei as 'discussões' de Tommy e Rose. Peguei o telefone e vi que era Jerry quem estava ligando.

"É uma ligação importante, tenho que atender", disse para eles e em seguida, saí do quarto. Pressionei o botão para atender. "Alô!" Sentei-me em um banco no corredor do hospital.

"Preciso que você trabalhe esta noite", ele disse, pela sua voz parecia que ele tinha acabado de correr uma maratona. Pelo menos, foi direto ao ponto.

"Estou muito cansada, Jerry", respondi. "Em dois dias, consegui dormir apenas duas horas", expliquei.

"Por favor. Depois de hoje, dou para você três dias de folga", ele tentou fazer um acordo comigo para que eu aceitasse. Que não era ruim.

"Combinado! Estarei aí em duas horas. Estou no hospital com o Tommy agora", disse para ele.

"Ainda são seis horas", ele disse. "Não precisa correr. Vou precisar de você aqui às dez horas", ele explicou, me fazendo sorrir.

"Obrigada Jerry", fechei os olhos e dei um longo respiro.

Desde quando minha vida se tornou tão complicada?

"Qualquer coisa por você, querida", ele respondeu. "Diga para o garotinho que o tio Jerry vai visitá-lo em breve, estou com saudades dele", ele disse antes de se despedir. Jerry amava Tommy.

"Falo sim. Vejo você daqui a pouco", disse.

"Até mais tarde", com isso, encerrei a ligação e voltei para o quarto do Tommy. Contei para Rose que trabalharia e ela simplesmente olhou preocupada para mim, acenando com a cabeça. Passamos duas horas com Tommy e por volta das oito da noite, fomos embora para nos prepararmos para o trabalho.