- Eu apaixonado por uma medrosa, está de brincadeira! – Diz Rodrigo disfarçando sua verdadeira intenção.
- Liga não Renata ele ainda vai criar coragem de falar o que sente, é por que o coitado ainda não criou vergonha na cara e ainda fala que você é que é medrosa. – Diz Vanessa esboçando um sorriso insinuante.
- Pessoal parem de conversar com essas besteiras, que a estrada estar muito ruim, a noite está ficando muito escura e a poeira ainda vem nos atrapalhar. – Diz Sergio segurando o volante do carro com dificuldade por causa da estrada esburacada.
- Não reclama não fazendeiro, foi você quem teve a ideia de nos chamar para este fim de mundo perto desta serra estranha. – Diz Rodrigo tentando implicar ou chatear com Sergio durante a viagem.
- Fique tranquilo seu cara de pau, quando você chegar ao sítio vai se arrepender do que está falando, você vai gostar e ainda vai se inspirar para pedir Renata em namoro. – Diz Sergio sorrindo para Rodrigo que fica meio sem graça da piada.
- É mesmo Sergio, com aquele clima de fazenda em uma noite fria o corpo vai pedir uma companhia para se aquecer. – Diz Vanessa tentando aquecer a relação.
- Deixem de conversa fiada, olha para a frente motorista acho que avistei uma casa em meio esta neblina. – Diz Rodrigo tentando disfarçar alertando Sergio da aproximação da casa do sítio.
Sergio para o carro em frente à porteira que dar acesso ao sítio. A poeira da estrada encobre o carro como se toda poeira desde o início da estrada estivesse ali.
Por alguns segundos o carro encoberto não revelava a casa, a qual foram aparecendo moderadamente ainda encoberta parcialmente pela grande neblina que ia ficando densa dificultando a visibilidade de toda sua extensão.
Os cinco jovens vagaram os olhos por todos os lados observando tudo que cercava a casa como se procurassem alguma alma viva.
Diante da porteira o carro fica parado por alguns minutos enquanto a poeira se assentava no chão quase seco do sertão.
Sergio tentando alegrar a todos pela chegado ao sítio pede para Rodrigo abrir a porteira. Rodrigo meio sem querer fazer esta tarefa arruma logo uma desculpa.
- Sergio olha aqui onde eu estou cara? Não dar para eu fazer esta tarefa, pede para uma das meninas fazer isto. – Diz Rodrigo sentando entre Vanessa e Renata colocando dificuldade para abrir a porteira de acesso ao sítio.
- Deixa Sergio que eu abro, tem gente aqui que não gosta muito de fazer tarefas. – Diz Renata abrindo a porta do carro indo em direção da porteira.
Enquanto Renata anda em direção à porteira os quatro ficam observando a neblina encobrindo-a parcialmente.
Renata chega ao mourão para desatar a porteira e pressente alguma coisa. Mesmo bem perto quando olha não vê o carro encoberto pela a densa neblina. Renata fica apreensiva, mas vai abrindo a porteira gradativamente enquanto olha para todos os lados como se pressentisse ser observada.
Sergio acelera o carro, liga os faróis altos refletindo na neblina enquanto vai se aproximando para passar à porteira.
Renata fecha a porteira após sua passagem e entra no carro com presa batendo com força a porta.
- O que é isso Renata, viu alguma assombração. – Brincou Rodrigo como sempre zoando com alguém.
- Estou sentindo um mau pressentimento, como se alguém estivesse nos vigiando. - Diz Renata explicando sua reação.
- Você está apenas assustada com o que a Velha Senhora falou, quando estiver dentro de casa vai se acalmar e vê que estar tudo bem. – Diz Claudia tentando tranquilizar Renata.
- É isto mesmo Renata, tudo vai ficar bem, a casa é pequena, mas é acolhedora. - Diz Sergio tentando passar boa impressão do sítio e da casa.
- Espero que seja mesmo, não vim de longe para ser maltratado. – Diz Rodrigo com um jeito meio sarcasmo.
- Para de zoar com a cara dos outros e vai logo pegando as malas e as coisas seu preguiçoso de uma figa. – Diz Vanessa com cara de brava empurrando Rodrigo para uma de suas obrigações.
- Já vou meu bem, não fique brava, estou aqui para fazer o que você quiser. – Diz Rodrigo sorrindo com molecagem.
- Não é para mim que você deve fazer gracinhas, sua paixão é outra. – Diz Vanessa olhando sorrateiramente para Renata que cabisbaixa não percebe a brincadeira.
- Renata nós já chegamos, você ainda não percebeu, parece que está longe daqui ou preocupada com alguma coisa que ficou para trás. – Diz Claudia alertando Renata para os afazeres.
Renata se levantou vagarosamente indo em direção de sua mala a única que ainda restava para levar para dentro da casa.
Renata puxa a mala bem devagar como se ali não quisesse estar. Sobe dois degraus da escada que dar acesso a casa e para cabisbaixa, pressente alguma coisa e levanta levemente a cabeça virando seu olhar para seu lado esquerdo.
Uma imagem parcial entre meio a neblina densa é vista perto da mata. Um espectro de vestes escuras estava parado como se estivesse ali para observar o que estava acontecendo na casa naquela noite sombria.
Renata sentiu um grande calafrio em seu corpo e ficou parada olhando aquele espectro se dissipando na neblina e na noite escura.
Em instante o espectro sumiu ficando só a neblina e as manchas noturnas. Sergio retorna de dentro da casa e chama Renata que desvia o olhar da mata e recomeça a subir o resto dos degraus.
- O que foi Renata, você alguém por aí? – Diz Sergio preocupado com Renata.
- Eu vi alguém de roupa preta perto da mata, que será você conhece? – Diz Renata informando o acontecido.
- Deve ser alguém que meu pai contratou para cuidar do sítio, deve ter vindo certificar que chegamos, mas fique tranquila, ele só confere e não vem aqui nos incomodar, só se precisarmos dele aí ele está a nossa disposição. – Diz Sergio acalmando Renata que ainda não se convencia do que estava sentido naquela noite.
- Tudo bem, vamos entrar. – Diz Renata arrastando sua mala que prendia as rodinhas no assoalho da varanda da casa.
Neste instante Pedro Beato chama João do Jipe para que a Velha Senhora explique como chegar à serra do pico do papagaio mais rápido que puder naquela noite intensa.
João do Jipe conhecia toda aquela região, qualquer explicação ele ia direto ao local sem se perder.
A Velha Senhora explicou tudo ao João do Jipe que não perdeu tempo e logo chamou Pedro Beato e Ana Gomes para partir imediatamente para chegar ao local antes da meia-noite. João do Jipe foi logo recomendando:
- Pedro Beato se quer chegar lá a tempo para confirmar o que a Velha Senhora falou é melhor entrar no Jipe antes que seja tarde. – Diz João do Jipe ligando o motor.
- Então vamos logo. Ana vê se mexe não podemos perder tempo? – Diz Pedro Beato apressando Ana Gomes que estava se despedindo da Velha Senhora.
- Pedro Beato será que esta Velha Senhora está falando a verdade ou isso é tudo invenção. – Diz João do Jipe meio desconfiado.
- Sei não João, mas temos que conferir. – Diz Pedro Beato pensativo.
- Eu acho que esta história parece ter algum fundamento. – Diz Ana Gomes mais compenetrada.
- O que foi que a Velha Senhora te disse que escondeu de mim. – Diz Pedro Beato com jeito implicante para provocar Ana Gomes.
- Ela só me fez recomendações, coisas de mulheres, não é para seu bico. – Respondeu Ana Gomes retribuindo a provocação.
João do Jipe olhou para os dois balançando a cabeça desaprovando aquela intriga que mais parecia paixão recolhida ou medo de alguém se ferir em um relacionamento conturbado.
Já era noite intensa quando o Jipe ganhou a estrada na direção do Pico do Papagaio emitindo fumaça da queima de óleo poluindo a caatinga.
Todos já tinham arrumado seu cantinho na casa que apesar de estar longe da civilização oferecia certo conforto.
Renata a mais distraída olhava pela janela em direção ao início da mata tentando rever aquele espectro que apareceu em sua chegada, mas ao fundo junto com a neblina intensa nada mais via a não ser escuridão.
Rodrigo pegou uma garrafa de vinho abrindo-a e oferecendo a Vanessa que bebeu um grande gole passando para Claudia que fez o mesmo chegando às mãos de Sergio que questionou:
- Nesta casa não tem copo seus imundos?
- Pode até ter mais eu queria que as meninas sentissem o gosto de meus lábios. – Diz Rodrigo provocando Claudia e Vanessa.
- Pois só senti o gosto do vinho, esta tua boca tem dona, olha ela ali na janela procurando uma estrela nesta escuridão. – Diz Vanessa provocando Rodrigo.
Renata olha para a amiga desaprovando a provocação e se mantem na janela preocupada com o que viu e o que a Velha Senhora revelou.
Sergio percebe que a amiga está ficando muito preocupada e tenta relaxá-la oferecendo um gole de vinho.
Renata recusa a bebida e vai se sentar em uma cadeira de balanço que está próxima a janela ainda demostrando preocupação com seu pensamento vago.
Os quatro amigos não se importam com a atitude de Renata e continuam bebendo e falando besteiras.
A estrada, a escuridão e a neblina densa vão dificultando João do Jipe que vai contornando cada buraco ou vala que encontra pela frente, fazendo com que o jipe balance de um lado para outro provocando cansaço e desconforto aos ocupantes.
Mas como diz João do Jipe ele vai a qualquer lugar, sai até de grandes atoleiros sem precisar de muita força.
Após uma curva em uma parte mais alta da caatinga João do Jipe para bruscamente assustando Pedro Beato e Ana Gomes.
- O que foi isto João? – Diz o Pedro Beato preocupado com a parada brusca.
- Você está ficando doido, quase fui cair lá fora, o que aconteceu? – Diz Ana Gomes
Irritada com a freada brusca de João do Jipe.
- Olha aquilo lá! Que coisa mais estanha, já andei por todo este sertão e nunca vi uma coisa como aquela! O que será isso? – Diz João do Jipe com os olhos arregalados apontando para o cume da serra.
Pedro Beato ao ver também arregala os olhos e fica de boca aberta tentando arrumar uma explicação religiosa para aquele fenômeno.
- É uma aurora boreal seus bobos, já ouvi falar deste fenômeno em jornais e revistas. – Diz Ana Gomes se gabando de seu conhecimento jornalístico.
- Neste clima aqui do sertão, uma aurora boreal, você deve estar caducando querida repórter. – Diz Pedro Beato demostrando que também tem conhecimento da causa.
- Se aquilo não é uma aurora boreal o que será? Não vi este fenômeno em outros lugares. – Diz Ana Gomes sem saber explicar aquele fenômeno.
- De uma coisa eu sei? – Diz João do Jipe assustando Ana Gomes e Pedro Beato.
- Do que você sabe João? – Diz Ana assustada com a reação de João do Jipe.
- Aquele troço está bem no lugar que a Velha Senhora disse que fica a casa onde os jovens foram. – Diz João do Jipe apontando a direção com mão trêmula.
- Então não vamos mais perder tempo aqui, vamos logo, temos que chegar antes que alguém se machuque com estas coisas que não sei o que é. – Diz Pedro Beato convencido que alguma coisa estaria para acontecer.
- Pedro observando bem, aquelas cores são bem diferentes de uma aurora boreal. São cores claras que não condiz com as cores da aurora boreal que é refletida em um local de paisagem branca e fria. Aqui a caatinga é escura e no pé da serra está mais escura ainda e aquelas cores são brancas e brilhantes que encandeiam as vistas. – Diz Ana Gomes aplicando seu conhecimento sobre o assunto.
- Acelera este Jipe João, temos que chegar rápido. - Diz Pedro Beato alertando João do Jipe.
João do Jipe sem perder tempo acelera fazendo roncar o motor em direção ao pé da serra do Pico do Papagaio.
As luzes caiem do céu como uma grande fonte descendo em cascata provocando curiosidade a quem ver.
Renata neste momento levanta-se em um sobressalto da cadeira de balanço ao ver um grande flerte de luz riscando o céu.
Os quatro jovens que bebem sem parar observam a reação de Renata, mas não dão a mínima atenção achando que ela estar nervosa e procurando alguma coisa como desculpa para não entrar no clima e beber juntos.
Renata ao chegar à janela vê com nitidez a luz que ao refletir revela o espectro saindo da mata em direção da casa.
Assustada chama por seus amigos que na bebedeira não percebe sua aflição. Renata insiste, mas ninguém dar atenção.
O espectro agora já circunda a casa. Renata desesperada tenta fugir pelos os fundos quando vê com nitidez a luz caindo em forma de cascata iluminando a escuridão.
Sem saber o que fazer Renata vai em direção à luz quando ao se virar vê o espectro começando a entrar por umas das janelas da casa.
Renata tenta gritar, mas seu grito não sai como poderia avisar seus amigos se eles não acreditaram em sua intuição quando pressentia aqueles acontecimentos.
Ao chegar bem perto da luz, Renata observa que três pontos de luz se desprendem vindo em sua direção e quando os vê, nota que são três espectros com forma assustadores, com olhos escuros bem arregalados e boca aberta, formando uma imagem de pavor.
Os espectros sobrevoam sua cabeça indo em direção da casa como gaviões caçadores e dominadores do ar em busca de sua presa.
Renata se ajoelha ao chão e fica observando a casa para saber se algo está acontecendo. Um leve orvalho aparece de repente naquele sertão seco molhando seu rosto.
Seus amigos vão saindo um a um da casa bem devagar como se tivessem sendo comandados por alguém.
Naquele momento não tem para onde ir, tudo está sem controle e seu corpo parece não obedecer a seu comando.
Seus amigos agora bem devagar vêm em sua direção em fila comandado por alguma coisa, o medo toma conta e tudo fica esquisito, sem ação, nada tem a fazer.
Alguns espectros sobrevoam sua cabeça emitindo gargalhadas e gritos ensurdecedores provocando mais terror em seus olhos.
Renata ali ajoelhada, toda molhada parecendo agora um dos espectros que a cerca permanece estática, sem qualquer ação.
Seus amigos agora chegam e cerca em círculo como se a estivesse prendendo para alguma coisa ou para alguém.
Todos se voltam para a casa, os espectros que sobrevoam gritam, choram e fazem algazarras assustadoras.
O ser que aparecia na escuridão da mata de vestes escuras sai da casa bem devagar e começa a andar em sua direção, seu coração parece querer explodir do peito de tanto pavor.
Seu corpo no chão, o orvalho molhando seu rosto bem devagar vai criando uma imagem difícil de recriar a não ser de um fim terrível com toda aquela situação tenebrosa em sua volta.
Ainda de joelho Renata não tem alternativa ao não ser começar a rezar. Junta suas mãos e começa a rezar com fervor pedindo sua salvação. Alguns espectros começam a voar sem direção emitindo gritos arrepiantes iguais às aves noturnas das noites sombrias do sertão.
Quando o ser de vestes escuras que aparecia na escuridão da mata chegou perto, Renata se sentiu morta sem nada poder fazer, as últimas lágrimas de seus olhos percorriam seu rosto abandonando-a sem esperança.
A sombra do ser de vestes escuras começou a encobrir seu corpo. Renata olhou para os lados e percebeu que seus amigos estavam parecendo zumbis sem qualquer reação como se aqueles espectros tivessem tomado seus corpos.
Agora era esperar o que iria acontecer com sua vida. O que aquele ser sem rosto iria fazer com ela.
- Você nos pressentiu e se tornou mais forte, será um bom presente para o senhor das almas. – Diz o ser de vestes escuras com voz grave e assustadora.
- Não quero ser presente de ninguém, por favor, liberte meus amigos e a mim. – Diz Renata chorando e em pavor.
- Seus amigos agora irão ser meus soldados e como mortos vivos irão atrai vivos para acomodar minhas pobres almas rejeitadas que por terem saídos de seres muitos cruéis não foram aceitas no inferno e também no céu, então ficam vagando por ai sem rumo, por sorte encontramos o mestre que nasceu sem alma e por isso não pode morrer dignamente permanecendo eterno no mundo dos vivos, em razão disso passou a cuidar das pobres almas rejeitadas fazendo com que elas expulsem almas dos corpos vivos assumindo seu lugar tornando estes em meio vivo e meio morto, diferentes dos zumbis por que nunca apodrecem. – Diz o ser de vestes escuras e sombrio.
Renata não tinha mais como sair daquela situação. Tudo estava perdido quando uma grande luz de poderosos faróis foi acionada em sua direção clareando com nitidez seu corpo. Tudo em sua volta desapareceu em instante sem deixar vestígios.
Pedro Beato chegou correndo com uma capa encobrindo seu corpo em seguida levando para dentro da casa onde todos se acomodaram.
- Agora que está salva, pode nos contar o que aconteceu? – Disse Pedro Beato com firmeza querendo saber o que tinha realmente acontecido ali.
- Padre eu e meus amigos viemos passar uns dias aqui neste sítio, mas na estrada aquela Velha Senhora me avisou sobre o que poderia acontecer aqui e pediu para tomar cuidado, desde que cheguei desconfiei de tudo até vê um espectro de vestes escuras saindo da mata, desde então tudo aconteceu muito rápido, aquelas almas descendo do céu, procurando seres vivos para tomar seu corpo, eu que tentei resistir seria um presente para o senhor das almas rejeitadas. – Explica Renata o que aconteceu.
Neste instante todos se voltam assustados olhando para todos os lados tentando descobrir de onde vinham grandes gargalhadas ouvidas vindas dos confins da serra e gritos de agouros penosos ouvidos espalhando medo em toda região. Aquela noite não tinha terminado ou alguém adiou os planos do senhor das almas rejeitadas.