/0/1942/coverbig.jpg?v=6bc3027004ba1926310220a80ad191db)
O barulho de cascos e a respiração ofegante dos cavalos eram ouvidos à distância. Estava há menos de um dia da casa dos Min, sua casa. Ha-jun não pisava naquelas terras haviam dez primaveras, desde que seu irmão o atacara no pavilhão do lago. Seu coração palpitou, pois naquele mesmo dia fizera a lembrança que lhe daria forças para resistir aos piores momentos de sua existência. O treinamento militar ao qual fora submetido não tinha sido ruim, lhe ensinara a defender-se. Mas um rapaz jovem e bonito demais no meio de soldados não teria uma vida tranquila.
Assim como seu irmão adotivo, muitos insistiram que Ha-jun era na verdade uma mulher disfarçada, perdera a conta das vezes em que vários soldados o encurralaram apenas para certificassem de que ele era mesmo um homem.
Mas o treinamento o tornou forte, após meses de combate, finalmente derrotou seu primeiro oponente, um soldado maior e mais velho, que havia tentado mais do que apenas conferir seu gênero. Assim, aos quatorze anos, Ha-jun teve a primeira vitória de muitas.
Não era muito alto, sua estatura era similar a de muitos, seus músculos também, apesar de definidos pelo treinamento físico, eram esguios e firmes, mas sua agilidade no combate corporal e destreza no manejo da espada o levou ao sucesso militar. Com apenas 21 anos, tornou-se capitão, conquistou o respeito de seus pares e o temor de seus inimigos.
No entanto, há apenas alguns dias, seu pai enviou-lhe um chamado. A caligrafia não era dele, mas continha suas palavras. Ali dizia que lorde Min estava sofrendo de uma enfermidade e que, ao saber de suas vitórias, decidira nomeá-lo herdeiro único de tudo. Mas não fazia menção ao que acontecera a Do-yun nesse tempo.
A perspectiva de retornar ao lar, onde estivera por apenas um dia, encheu-o de júbilo. Retornaria vitorioso ao local de onde fora banido com desonra. Mas também, em sua cabeça, a jovem serva que o consolara dez anos antes, estaria ali o esperando. Mais madura e disponível às suas investidas, estaria inebriada com suas conquistas e aceitaria de corpo e alma, dessa forma, a tornaria sua concubina com honrarias e desfrutaria daqueles lábios doces sempre que quisesse.
Em sua fantasia, o capitão não congitava que a mulher talvez estivesse casada, ou que o recusasse ou mesmo morta, para ele, ela estava linda como no dia em que a vira ao lado do córrego e seria sedenta por sua companhia. Afinal, aquele pensamento o mantivera forte por anos.
Já estivera com muitas mulheres, cortesãs ou esposas carentes de nobres idosos demais para satisfazê-las no leito. Mas seu pensamento, durante o ato, sempre o conduzia para a menina com cheiro de doces e todas aquelas mulheres, eram apenas sombras ou substitutas para ela.
"Pensando na jovem serva, meu capitão?", tracejou Il-Seong, um jovem soldado que o acompanhava. Ele era seu homem de confiança, por diversas vezes investigando ou lutando ao seu lado. Seu amigo. À ele, Ha-jun havia contado sobre a serva que desejava para concubina.
"Sim, anseio mais pela mulher do que pela propriedade!", sorriu.
Il-Seong corrou ao ver o sorriso do amigo, não que tivesse pensamentos impuros sobre ele, presenciara todo sofrimento que o capitão enfrentara devido à aparência, e por isso, sentiu vergonha ao ver aquele sorriso e pensar que o capitão era muito bonito para um homem.
"No final dessa estrada, antes do sol se pôr, chegaremos ao meu destino.", sorriu encantador.
E assim, seguiram eles, lado a lado. Cada um absorto em seus próprios pensamentos, seguidos por uma pequena comitiva de soldados e servos.