Capítulo 2 02

Sabe aquele momento que você não sabe se Deus ainda te ama ou se resolveu te abandonar de vez? O criador que me perdoe por blasfemar, mas definitivamente ele deve estar rindo de mim nesse exato momento por se vingar por qualquer merda que eu tenha feito para deixá-lo irritado. Olho para Lucas chocada e com vontade de mata-lo.

- Você está louco? Quem pensa que sou? - pergunto indignada.

- Eu não estou louco, e você está precisando de um emprego. - diz como se não fosse nada de mais ele me trazer para um prostíbulo.

- E você acredita que vou trabalhar em um antro de perdição? Em um lugar baixo e desrespeitoso? Em um, em um... - paro nervosa.

- Você me disse aceitava qualquer emprego. - fala confuso.

- Eu não sou prostituta. - grito.

- Você só vai servir. - fala.

- Eu vou servir sua cabeça em uma bandeja. - ameaço.

- Bruna, eu não te trouxe aqui para ser prostituta. - fala me deixando confusa. - minha prima trabalha aqui, estão precisando de uma garçonete. E eu supus que você pudesse se interessar. - explica.

- E, porque não me disse antes? - questiono franzindo a testa.

- Porque você não me deixava falar. - da de ombros. - até parece que eu iria trazer justo você para ser prostituta aqui. Nada a ver. - termina sorrindo e eu abro a boca ofendida.

- Porque justo eu? Vem cá, por um acaso você pensa que eu não sou suficiente para ser prostituta? Olha bem para mim. - faço um gesto com as mãos mostrando meu corpo. - uma gata dessa com cintura fina, pele morena, cabelo natural. Aposto com você que dou de dez a zero nessas barangas que devem ter aí dentro.

- Eu não quis dizer que você é feia, só falei que não te traria para prestar esse tipo de serviço. - reviro os olhos. - agora o quê? Agorinha estava quase me batendo, agora está brigando pelo contrário. Se decida, quer ser garçonete ou...

- Garçonete. - grito antes dele terminar a frase.

Lucas me puxa pelo braço e nos direcionamos a entrada do hot sex, e eu fico de queixo caído ao ver a beleza do lugar. É tudo muito elegante e erótico, e definitivamente quente como diz o nome. As paredes do salão são vermelhas, contrastando com o preto das poltronas e mesas, fazendo com que o lugar fique em um tom um pouco escuro, mas só um pouco já que a iluminação é maravilhosa.

O lugar está praticamente vazio, ocupado apenas por uma mulher que fez com que eu me sentisse a baranga da história, e três outras mulheres lindas de morrer que estão fazendo a faxina. Uma música relativamente baixa e sex está tocando ao fundo. Nos aproximamos da deusa loira de peitos grandes e eu sinto vontade de voltar correndo para casa ao ver que estou com uma blusa manchada de café e molhada de suor. Sim, molhada de suor. Aí você diz, "Bruna, mas você não estava andando a pé". Claramente você não conhece o Pará, especialmente você não conhece Marabá. Aqui só é frio dentro do shopping, porque tem ar-condicionado.

- Lucas. - a loira que não sei o nome o cumprimenta com um abraço.

- Jéssica, tudo bem? - fala sorrindo.

- Melhor impossível. - ela pisca.

- Bruna, essa é Jéssica minha prima. - apresenta. - Jéssica a Bruna é... - franze a testa. - bem, a Bruna é uma amiga que está precisando de um emprego e como você está precisando de uma garçonete eu trouxe ela aqui.

A Jéssica me olha sorrindo e me surpreende ao me abraçar apertado. Depois diz.

- Se é amiga do meu primo, é minha amiga também.

Jessica gruda seu braço no meu e nos conduz até uma mesa a qual nos sentamos.

- Lari - chama uma moça ruiva que estava passando. - traz um drink para nós, por favor. - termina com uma piscadinha.

A Lari sai em direção ao bar e Jéssica sorri perguntando ao Lucas como ele está, porque não apareceu mais, e todas essas coisas que as pessoas perguntam para aqueles que amam muito. Enquanto isso eu fico aqui, parecendo uma anta tímida esperando que me deem atenção e me falem sobre o meu suposto emprego. A moça volta com três copos de bebida e brindamos. Logo após a loira olha para mim e questiona.

- Então Bruna, você está precisando de um emprego?

- Sim, estou a procura de um. - digo sem parecer ansiosa.

- Ela está prestes a ir morar embaixo de uma ponte e perder a faculdade por falta de dinheiro. - O garoto de pele clara e cabelos absurdamente escuros diz, me deixando envergonhada e com vontade de lhe dar um soco.

- Uau, a coisa está seria, não? - a prima dele rir.

- Você não faz ideia. - falo.

- Bom, como o Lucas já lhe disse estamos precisando de uma garçonete. O período é noturno, logo, você iniciará às 20 horas e terminará às três da manhã, a cada semana você ganha uma noite de folga, e o salário é dois mil e quinhentos por mês, você pode aumentar ele se aceitar fazer alguns servicinhos extras. - pisca me deixando enjoada. - sobre isso a decisão é sua. Você pode estar vindo por uma semana para fazer o teste, e se passar o emprego é seu, mas se você não conseguir não se preocupe, pagaremos sua semana de trabalho. - conclui tomando mais um gole de sua bebida.

- Vou fazer de tudo para não decepcionar. - falo animada.

- Ótimo, você pode começar amanhã mesmo! - diz se levantando.

- Obrigada. - agradeço sorrindo.

☘️

- Um bordel? - Lúcia grita.

- Fala mais alto porque os vizinhos não conseguiram escutar. - ironizo revirando os olhos.

- Meu Deus! - exclama chocada. - amiga, eu sabia que você era safada, mas um bordel?

- O que você está insinuando? - pergunto ofendida.

- Eu não estou insinuando, você disse que...

- Que vou trabalhar de garçonete no hot sex. - falo.

- Ai meu Deus, não acredito que você mentiu para mim. - exclama me deixando confusa.

- Como assim, menti? - eu já disse para vocês que Lúcia é louca? Pois, ela é, louquinha de pedra.

- Você disse que iria para uma empresa. - fala como se fosse óbvio. - para uma entrevista de secretaria.

- E fui, mas não consegui. - explico me sentando ao lado dela no sofá.

- E como foi parar em um prostíbulo? - me olha com curiosidade.

- Longa história. - falo ao pegar a vasilha com pipoca que ela está comendo.

Conto tudo o que aconteceu comigo hoje para Lúcia e ela fica me olhando como se eu tivesse duas cabeças, quer saber tudo detalhadamente, e sou obrigada a falar. Rir igual uma taquara rachada quando conto da queda em frente ao senhor Martins e depois decreta que quer conhecer o cara musculoso que me carregou Marabá inteira na garupa de uma bicicleta. Segundo ela o cara deve ser muito malhado para ter realizado todo esse feito. E eu deixo ela a imaginar o perfil do Lucas.

- Eu não acredito que de repente você virou...

- Fale merda e eu te enforco. - corto.

- Garçonete em um bordel. - rola os olhos.

- Nem eu. - suspiro.

- Bom, se você for fazer aqueles serviços extras do qual a tal Jéssica falou...

- Você está falando sério? - olho chocada para minha melhor e louca amiga.

- Eu só ia dizer que talvez apareça um cara tipo Brad gostoso Pitt. - faço uma careta para ela.

- É mais fácil aparecer uns caras estilo aqueles senhor safados que não se agradam mais do que tem em casa. - sorrio. - o que eu acho totalmente inaceitável. Já imaginou, você passar vários e vários anos casada com um cara que quando você começa a perder a beleza física ele já vai atrás de outras na rua?

- São esses velhos safados que vão pagar o teu salário. - dar uma batidinha na minha perna.

- Você também precisa conseguir um emprego, o meu salário vai dar mal para pagar o aluguel, comprar comida e pagar minha faculdade. Não vou conseguir te ajudar. - ela suspira cansada.

- Eu sei amiga, mas está muito difícil. Já procurei para tudo quanto é lado e nada.

- Espera aí - me levanto. - o que estou ouvindo mesmo? Isso é desanimação?

- Isso é dias de lutas. - suspira.

- Vai chegar os dias de glórias. - tento anima-la.

- A mana, só de uma de nós ter conseguido o emprego para dar conta pelo menos de pagar nosso aluguel e colocar comida em casa já alcançamos a glória. - sinto meus olhos se encherem de água.

- Nós duas vamos vencer, Lúcia. - me sento ao seu lado. - um dia nós duas vamos vencer. E isso tudo aqui... - gesticulo ao nosso redor. - terá valido muito a pena. - ela me abraça emocionada.

- Agora vou tomar banho para ir pro meu inferno pessoal. - digo fazendo drama. - vulgo, faculdade. - ela rir. - e chegar e ir direto para cama porque estou morta e amanhã cedo pulo para ir trabalhar, quer dizer a noite. - ela dar uma piscadinha.

- Vai lá futura advogada, se é que você vai concluir esse curso. - mostro a língua para minha amiga e saio correndo pro banheiro.

Tomo um banho em tempo recorde, almoço, pego minha mochila e saio rápido para não chegar atrasada.

Sabe aqueles lugares que tu não queria ir, mas depois acaba aceitando o convite e quando chega lá se sente uma mendiga? Pois, é assim que me sinto diariamente no lugar responsável por um dia eu pegar um diploma.

São cada mulheres com cara de modelo de revista de "lingerie", e os homens parecendo aqueles atores de filmes internacionais. As universitárias parecem que disputam quem faz a maquiagem mais bonita, quem usa o salto mais alto ou a roupa mais sofisticada.

E eu? Bom, feliz com minha calça que se eu colocar lá no shopping pátio vai saber contornar todos os retornos e bater na minha porta de tanto que eu a uso, sem contar no fato que já foi lavada tantas vezes que ficou umas duas numeração maior que meu tamanho e uma blusa que para completar também está folgada. E para completar o look ainda estou com um moletom enorme. Aí você pergunta "mas Bruna, tu não disseste que em Marabá faz calor?" A faz, vocês não têm ideia de como faz, Marabá é a amostra grátis do inferno. Mas eu sou paraense filha, reclamo do calor mais quando a temperatura cai dois graus já estou procurando um cobertor, e para o meu pesadelo, na minha sala tem uma central que esfria até meus ossos, e se alguém for pedir para aumentar o bendito acontece a Terceira Guerra Mundial na sala. Então, para os "frientos" como eu, a opção é andar com um moletom ou morrer congelado.

- Bruna, amadinha. - eu já disse para vocês que odeio que me chamem de amada? Ainda mais quando completam com "dinha" é a palavra mais falsa que já vi, ou melhor, ouvi. - você fez o trabalho que o professor passou semana passada? - Kelly pergunta.

- Fiz sim! - sorrio falsamente.

- Ai que maravilha. - bate palminhas. - me passa as respostas por favor, não tive tempo de fazer. - fala piscando seus olhos que parecem um abano de tanto rímel que passou nos cílios.

- Infelizmente não vou conseguir te passar, entreguei para ele semana passada mesmo. - "e nem se eu não tivesse entregado iria te dar cola" penso. Kelly é uma das pessoas mais falsas que já conheci, se aproxima de você quando tem algum interesse e depois que consegue sai maldizendo do seu cabelo, maquiagem, roupa, e tudo mais que ela puder falar, até da tua alma se vacilar.

- Mais você não tem a cópia aí no seu caderninho? - insiste piscando ainda mais os cílios e fazendo cara de cachorro pidão, como se eu fosse cair nessa.

- Não, eu não tenho. Fiz e entreguei logo. - sorrio dando de ombros.

- Ah! Tá bom então. - se levanta. - Vi, queridinha, que vestido lindo. - ela fala para uma moça loira que estuda conosco. - você fez o trabalho que o professor passou semana passada?

Uma coisa que não contei para vocês... Coitado de quem precisar de algum advogado, delegado, juiz ou qualquer profissional da lei dessa turma. Todo dia algum professor passa um trabalho, e todo dia, um ou dois alunos respondem e os outros vem igual um bando de urubus pedindo cola. No início eu dava, mas agora parei, não vou me matar de estudar para passar uma turma inteira nas minhas costas. E vocês pensam que alguém estuda para prova? Nos dias de provas é cada papel voando, borracha sendo emprestada, mãos rabiscadas, mesas escritas... Parece aquele período de ensino fundamental onde ninguém se preocupa com nada. Não sei se os professores não veem ou fazem simplesmente vista grossa, fingem que não estão vendo. Surpreendo-me com a falta de interesse desses universitários, certamente que alguém paga suas mensalidades porque se trabalhassem para pagar não fariam esse tipo de coisa.

Aí vocês falam," Bruna, mais cedo você disse que dorme na sala" tenho uma justificativa plausível, eu trabalhava de manhã, estudava a tarde e fazia um bico a noite, por isso que acabava caindo por cima das carteiras, mas eu sempre fiz meus trabalhos, e disso eu me orgulho.

            
            

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