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Quando você é acordado por seu despertador tocando alguma música que você goste, e melhor ainda, em um horário que você próprio colocou para tocar está tudo bem. Agora quando você é acordado a base de empurrões e resmungos de sua melhor amiga, o único sentimento que pode lhe despertar é o de querer matar a filha de uma égua por estar atrapalhando uma relação tão linda que é a sua e do seu colchão.
- Saia daqui. - resmungo tapando os ouvidos com um travesseiro.
- Saia daqui é o caralho, acorda Bruna. - diz puxando meu travesseiro e me batendo com o mesmo.
- Que merda! - exclamo rolando para o canto da cama.
- levanta garota, você está atrasada. - fala me puxando pelo pé.
- Mais que diabos. - grito ao cair no chão, ou melhor, ser derrubada.
- Só assim para você acordar. - a loira aguada fala.
- Você está louca? - pergunto histérica.
- Nasci louca. - a rapariga diz rindo. - agora vai tomar banho porque você está atrasada para faculdade. - arregalo os olhos.
- Eu não fiz o almoço. - me levanto assustada.
- Eu sei, eu pedi um marmitex para gente. Agora já pro banho. - me joga uma toalha.
- Tá bom mãe. - respondo revirando os olhos para ela que me mostra a língua como resposta.
Coloco uma música animada para tocar enquanto tomo o meu banho e me arrumo para ir para faculdade. Ainda estou um pouco cansada, mas agora tenho que me acostumar com minha nova rotina.
- Ummm que delícia! - exclamo ao comer um doce que Lúcia trouxe da padaria.
- Eu sabia que você iria gostar, tem um pedaço de bolo também para tu levares para a facul.
- Eu já disse que te amo? - pergunto rindo.
- Deveria dizer mais vezes. - fala em tom dramático.
- Nojenta. - sorrio. - você rouba esses doces ou o quê?
- O padeiro me deixa pegar alguns. - da de ombros.
- O padeiro? - ergo uma sobrancelha.
- Não é nada disso que você está pensando. - revira os olhos. - eu quero te pedir desculpas por brigar com você ontem.
- Você estava certa, eu estava realmente sendo uma idiota. - admito.
- De qualquer forma eu poderia ter pegado menos pesado. - lamenta.
- Lúcia, a gente sempre puxa as orelhas uma da outra, eu agradeço por você ter falado tudo aquilo, serviu para me abrir meus olhos e chegar de cabeça erguida no meu serviço. Aquele lugar vai me ajudar a pagar minha faculdade e nossas despesas. Eu que estava me fazendo de lesa e agindo daquela forma. - digo com sinceridade.
- Como foi ontem? - indaga curiosa.
- Uma loucura. - sorrio. - acredita que tem gente que vai no sex hot só para se divertir? - pergunto. - para se divertir mesmo, vão só para beber e conversar amenidades. Mulheres, jovens. Eu fiquei desacreditada. - Lúcia rir.
- Bem-vinda ao mundo. Bruna!
- Eu estou no mundo há muito tempo. - repondo me levantando.
- Mas vale a pena deixar certos preconceitosinhos de lado e olhar mais ao redor. - fala.
- Não é preconceito, é que eu não conhecia o lugar. - me defendo.
- Você nunca deu a chance de conhecer, e eu não te julgo, bordel não é um lugar para o qual eu iria beber numa noite com amigos. Mas temos que respeitar quem vai, e isso inclui não julgar suas atitudes. Abrir a mente.
- Bebê, você está certa! Mas agora estou quase me atrasando. Beijinhos. - jogo beijos pelo ar.
- Beijinhos. - devolve rindo.
Saio de casa em direção ao local onde embarco no ônibus que me leva até a faculdade e em alguns minutos estou dentro do mesmo.
- Bom dia, Marcelo! - cumprimento o motorista.
- Bom dia. Bruna! - devolve como sempre animado.
Fico em pé perto da porta me segurando firmemente enquanto os outros me olham de cara feia me fazendo ficar vermelha ao me lembrar do vexame de ontem. Se tem uma coisa que consegue me tirar do foco é ter que me lembrar de alguma merda que fiz. Sabe quando estamos no ensino fundamental e fazemos alguma coisa e os outros coleguinhas danam a falar naquilo todo dia? A gente falta morrer de raiva e vergonha, mas não consegue calar a boca deles? Estou passando por essa mesma sensação agora ao olhar para os universitários que derrubei ontem, não que eu tenha realmente derrubado, eu caí e eles foram só consequência. Mas falar isso para eles é que eu não vou.
Para minha alegria o ônibus chega e eu desço o mais rápido que posso correndo para dentro da instituição. Hoje teremos uma palestra no auditório então já me direciono logo para lá, após colocar meu nome na lista eu adentro o grande salão que já está cheio de gente, procuro Marisa com os olhos e logo vejo ela acenando para mim. Vou passando por uma fileira de poltronas onde tem menos gente e quando percebo eu pisei no pé de um rapaz, volto para pedir desculpas e acabo pisando no pé do coitado de novo, meu rosto arde de vergonha e ele diz que está tudo bem. Claro, tenho certeza que está morrendo de medo de eu meter o meu pé em cima do dele novamente, ainda bem que estou de sapatenis, já imaginou se fosse um salto? Nem quero.
- Bruna, o que aconteceu ali com aquele homem? - Marisa como sempre curiosa.
- Pisei no pé dele, voltei para pedir desculpas e pisei novamente. - pronto, uma hiena perde feio para a crise de risos de minha desmiolada amiga. Não aguentando mais ser tão desastrada eu me junto a ela, até que somos chamadas a atenção pelo palestrante e com um pedido de desculpas tento me acalmar.
- Boa tarde, garotas! - olho para o lado e vejo Fábio sentando próximo a mim.
- Boa tarde, Fábio! - respondemos juntas.
A palestra segue seu curso, parando às vezes para abrir oportunidades para quem quer fazer alguma pergunta ou para trocar de profissionais. Quando chega às 15 horas temos uma pausa para lanchar ou ir ao banheiro, ou simplesmente vagar pelo enorme prédio, eu e Marisa como sempre vamos ao banheiro e depois seguimos para a cantina, Fábio por sua vez se junta a nós duas animado falando sobre o assunto abordado no auditório. Começamos a debater sobre empreendimento e política, quando uma moça chama Marisa para ir com ela até a biblioteca deixando nós dois sozinhos.
- Então Bruna, você é muito inteligente parabéns! - comenta me deixando sem fala.
- Você também é bastante inteligente Fábio! - sorrio.
- O que você acha de a gente sair um dia desses? - olho para ele surpresa.
- Uau, que direto. - brinco.
- Meu pai diz que quando tem Coca-Cola no jogo jogamos para ganhar. - rir levantando sua latinha de refrigerante.
- Eu deveria me sentir lisonjeada? - sorrio também.
- Sim, quer dizer que você é o melhor do jogo. - pisca.
- Vou ter que ler esse livro enorme se eu quiser passar naquela droga de matéria que eu reprovei. - Marisa resmunga, atrapalhando minha resposta.
- Marisa, eu tenho certeza que você irá conseguir. - Fábio diz amistoso.
- Estou me odiando por ter reprovado. - minha amiga responde fazendo drama.
- A palestra já vai começar. - anuncio me levantando.
- Estou doida para ir para casa. - a ruiva entrelaça o braço no meu ficando entre mim e Fábio.
- Continua assim que você vai tirar um dez na prova. - provoco.
O resto da palestra ocorre com um ar mais descontraído, o último palestrante faz diversas brincadeiras com os alunos, lançam desafios e por fim, temos um sorteio de três livros. Fico de dedos cruzados esperando pela sorte de conseguir um dos romances, mas como sorte nunca foi o meu forte, não consegui nem um dos livrinhos o que me resultou em um biquinho de contrariedade e um Fábio tirando onda da minha cara.
- Mas sério. - ele diz. - você gosta mesmo de ler romances?
- Ela é viciada nesses livros. - Marisa responde por mim. - nós duas, aliás.
- Fiquei surpreso agora. - ele comenta me deixando curiosa.
- Porquê? - paro em sua frente.
- Porque te vi tão culta debatendo sobre assuntos importantes mais cedo, fiquei surpreso por você gastar seu tempo lendo esses tipos de livros.
- Como assim esses tipos de livros? - Mari se irrita.
- Eu não estou querendo ofender vocês. - ele rir. - é que seremos futuros advogados, juízes, delegados. Acho que esse gênero acaba não tendo tanta relevância para pessoas como a gente.
- Comentário idiota. - minha amiga bufa.
- Fábio, acho que em um país onde a média de livros lidos por dia é uma vergonha, esse comentário acaba sendo desnecessário. Eu entendo que você não falou por mal, mas olha, eu me interessei por Shakespeare, por exemplo, lendo crepúsculo. Acredito que não importa o que você leia, o importante é você ler. Quem dera se no Brasil todo mundo pegasse um livro para ler pelo menos uma vez no mês, as coisas com certeza estariam diferentes. As pessoas acabam tendo esses pensamentos que você tem e no final ao invés de obter uma educação culta como você diz, só se tornam um bando de alienados com pensamentos retrógrados de que não podem ler tal coisa porque não condiz com sua profissão ou estilo de vida. - termino chateada.
- Vocês têm razão, me desculpem eu não quis ofender nenhuma das duas. - diz arrependido.
- Você é tão lindo com essa voz molha calcinha, mas esse seu pensamento te tirou duas notas no meu conceito. - minha amiga diz aborrecida. Marisa ama romances e é capaz de virar inimiga de qualquer pessoa que desfaz do seu gênero literário favorito.
- Espero que me perdoem e que eu consiga ressarcir essas notas. - ele sorri envergonhado.
- Está tudo bem Fábio, foi só um comentário. - falo tentando amenizar a situação que está ficando constrangedora.
- Um comentário sem um pingo de noção ou inteligência. - Mari rebate.
- Mas que podemos deixar para lá. - belisco minha amiga.
- Bruxa. - resmunga massageando o braço.
- Mas então. - Fábio fala coçando a cabeça. - quer dizer que minha voz molha calcinha? - pergunta me fazendo rolar os olhos e deixando Mari de boca aberta.
- Caiu duas notas. - ela diz virando as costas e seguindo rumo ao estacionamento.
Faço menção de ir atrás dela, quando sinto uma mão me puxando pelo braço. Viro-me e olho para Fábio, que dar um sorriso de lado.
- Você não respondeu a minha pergunta, Buna. - franzo a testa.
- Qual pergunta?
- Se você vai ou não sair comigo. - diz sério.
- Ah! Eu estou meio sem tempo ultimamente. - falo a verdade.
- Usando uma desculpa esfarrapada para não sair comigo, bonitinha? - ergue uma sobrancelha.
- Não é desculpas. Eu realmente estou sem tempo, trabalho a noite, durmo pela manhã e estudo a tarde.
- Você trabalha aonde? - pergunta interessado. Ai droga.
- Segredo de Estado. - pisco fazendo charme. Nem morta vou contar para ele que trabalho no hot sex.
- Bom, sábado não haverá aula para gente. - diz o óbvio.
- Ah! Droga, estava pensando em dormir o dia todo. - brinco.
- Você pode dormir na minha cama. - pisca de modo afetado.
- Vai sonhando bonitinho, vai sonhando. - saio rebolando rumo ao ônibus.
- Tua amiga disse que minha voz molha calcinha. - sussurra no meu ouvido ao me alcançar.
- Minha calcinha não molha com tanta facilidade. - devolvo dissimulada.
- Sério? Porque às vezes seu olhar não diz a mesma coisa. - responde convencido.
- Do que está falando? - me finjo de desentendida.
- De que você me olha como se quisesse cavalgar em mim. - o encaro incrédula. - literalmente. - termina se aproximando.
- Mas você pode cair vários conceitos se continuar me assediando com tanto metimento desse jeito. - digo em um tom de voz quase irritado.
- O único metimento que tenho baby, é a vontade de meter... - tapo sua boca com as mãos antes que termine.
- Vou pensar na sua proposta para sábado. - falo virando as costas.
- Se envolver você pelada será melhor ainda. - o ouço dizer, mas não ouso olhar para trás.
Sorrio comigo mesma e desço os degraus indo em direção ao meu ônibus que parece aqueles escolares de creche, sorrio mais ainda com esse pensamento, mas meu sorriso se desfaz quando eu olho para o lado e vejo Marisa me encarando de longe com um olhar assassino no rosto. Faço menção de ir ao seu encontro, mas ela vira as costas, entra no carro da sua colega que lhe dá carona e me deixa com a mente em pura confusão. Sem entender nada e vendo o motorista já com o ônibus ligado eu apresso o passo, entro em minha condução e volto para casa para daqui a pouco iniciar minha rotina de serviço novamente.