Capítulo 4 04

A noite chega e a suadeira também. Vocês já ouviram falar que alegria de pobre dura pouco? Estou morrendo de medo de minha alegria quanto esse meu emprego durar só até essa noite já que sou um poço de desastre e azar.

Arrumo-me com todo o cuidado possível para não ficar de todo feia, mas também para não chamar atenção mais que o necessário. É óbvio que não posso ir parecendo uma "meu Deus o que é isso?" Para meu trabalho, mas também é óbvio que não quero ser confundida com nada além de uma garçonete. O meu Deus me lava com teu sangue para que eu não faça nenhuma merda e que nenhuma merda venha me acontecer.

- Tá gata! - Lúcia comenta me deixando mais nervosa ainda.

- Lúcia, eu não quero estar gata. - choramingo.

- Porquê? - questiona encarando meu reflexo no espelho.

- Não é evidente? Estou indo trabalhar em um bordel, quero estar tudo, menos gata. - resmungo.

- Tudo bem. - levanta as mãos em sinal de rendição. - você está ridícula, cabelo parece que tem três anos que viu um shampoo, pele flácida, olheiras horrendas, parece anorexa de tão magra e a roupa...

- Chega. - grito.

- Mas eu nem cheguei na parte que tu estás fedendo igual um gambá. - diz me deixando possessa.

- Olha aqui Lúcia, se você veio me irritar pode dar meia volta e sair do meu quarto. - termino irritada.

- Olha aqui você. - me encara seria. - chega Bruna. - me assusto. - ou você vai para porra desse emprego como a mulher que eu sei que você é ou fica aqui dentro se lamentando igual uma coitadinha. - abro a boca para falar, mas ela mim, interrompe. - desde que você conseguiu esse possível emprego você desfaz dele. - tento protestar, mas ela corta. - nem vem dizer que é mentira porque eu só estou falando a verdade. Você vê defeito em tudo, vê dificuldade em tudo, ao invés de se orgulhar por ter conseguido uma oportunidade de trabalho em meio a essa crise empresarial. Você com esse seu preconceito idiota desfaz mesmo sem querer de quem trabalha naquele lugar. Você pensa que aquelas mulheres gostam de se deitar com um monte de homem diferente? Com homens que muitas vezes nem sequer pensam no prazer delas? Eu aposto com você que não. Ou você muda a sua postura, ou nem vai para aquele lugar, porque de preconceito aquelas mulheres já estão cheias Bruna. Cheias. E já que você não queria estar bonita, eu te dou meus parabéns. - bate palmas com ironia. - porque você está ridícula com essa sua postura de gente com mente pequena. Agora me dá licença que vou para faculdade. - fala passando por mim. - eu vim aqui para te dar um abraço e desejar boa sorte, mas já vi que você não está precisando disso. - ela termina e vai embora me deixando com lágrimas nos olhos.

Sento-me na cadeira limpando as lágrimas e desolada encaro o meu reflexo no espelho. Apesar de estar com vontade de meter o murro na cara de Lúcia eu percebo que ela está certa, eu nunca aceitei muito bem este novo serviço e eu nem estreei ainda, nem dei a oportunidade de conhecer as mulheres de lá e já estou julgando. Vou tentar mudar. Eu vou chegar lá e conseguir esse emprego de cabeça erguida ou não me chamo Bruna Rodrigues

☘️

Chego no hot sex e o ambiente já está bem mais movimentado que dá última vez que estive no local. Vejo Jéssica no balcão e me direciono até onde a loira está.

- Boa noite, Jéssica! - chamo sua atenção.

- Ah, olá Bruna! - me cumprimenta com um sorrisão. - preparada para uma noite agitada?

-

Preparadíssima. - sorrio de volta.

- Ótimo. - bate as mãos. - Lívia, leva a Bruna para vestir o uniforme de garçonete, por favor. - pede para uma moça que parece uma índia.

- Claro, tudo bem Bruna? - pergunta nos direcionando a outra sala.

- Tudo ótimo, apesar do nervosismo.

- A gente sempre fica nervosa no primeiro dia de serviço né? Mas fica de boa, aqui é tranquilo. - da uma piscadinha me confortando.

Ao decorrer das horas se passando o ambiente vai ficando mais cheio, vários homens chegando de todas as idades, e para minha surpresa, algumas mulheres também chegavam animadamente. Algumas em grupos outras acompanhadas com outros homens.

- Que cara é essa? - Lívia pergunta ao me ver olhando um grupo de mulheres bebendo e conversando entre si.

- Eu não imaginava que elas viessem para cá assim.

- Assim como? Por livre e espontânea vontade? - indaga sorrindo.

- Elas estão bebendo e se divertindo. - falo surpresa.

- Os bordéis não são só prostituição não Bruna, aqui vem muita gente se divertir, já conheci casais que se conheceram no hot sex e se casaram.

- Mentira. - olho incrédula para minha colega de trabalho.

- Inclusive, tem filhos e tudo. Pessoas se conhecem e constroem família vindo aqui. O mais importante não é o lugar, o que importa é você e a outra pessoa.

- Mas como que uma mulher vai conhecer um cara em um bordel e querer casar com ele? Ou como um homem vai conhecer uma mulher que frequenta esse tipo de lugar e querer construir uma família com ela?

- Simples. - da de ombros. - deixando essas besteiras que a sociedade impõe de lado e conhecendo a pessoa. Sabia que nas igrejas tem irmãos que cometem adultérios e vários outros tipos de pecados? O que fazem essas pessoas serem melhores que as que estão aqui seja para se divertir ou trabalhar? - abro a boca para falar, mas mim calo ao não encontrar palavras. - vá atender aquela mesa e garantir seu emprego. - aponta para um lugar onde tem um grupo de pessoas bebendo e conversando animadamente.

Ando até a mesa e enquanto anoto os pedidos de bebidas eu observo o grupo que rir de uma piada que alguém contou, parecem serem amigos a um tempo e pelo que pude perceber só estão aqui para se socializar e nada mais.

É com muita surpresa que passo o resto da noite servindo clientes e chegando a conclusão que muitos dos frequentadores do hot sex só estão ali porque os bares da cidade já fecharam ou, porque simplesmente já conhecem o local e preferem frequenta-lo a ir para outro lugar.

Meu expediente acaba, mas como o horário é muito perigoso para sair na rua sozinha eu me decido por ficar até mais tarde, ou melhor, mais cedo já que daqui a pouco o dia começa a amanhecer para ir para casa.

Os últimos clientes passam pela porta e fico imaginando os que tem esposas em casa qual desculpa irão contar por chegar tão tarde, ou em até quando essas mulheres aguentarão essas vidas de mentiras e traições. O mundo é realmente muito estranho, ou as pessoas que são muito estranhas. Alguns passam a vida sonhando em ter uma pessoa ao lado para amar, cuidar, dividir as preocupações até que um dia vê alguém que se interessam e faz de tudo para conquistar esse alguém, se arrumam com as melhores roupas, usam os melhores perfumes, nem se preocupam com os gastos, tudo o que quer é impressionar aquela ou aquele que fez seu coração bater mais rápido. Aí um dia consegue a atenção dessa moça ou desse rapaz, quando consegue parece que o mundo para, se sente como se tivesse ganhado um troféu pela conquista. A conversa dar certo, os sorrisos combinam os olhos brilham, coração bate mais rápido, sintomas da paixão desenfreada. Que sorte, achou a pessoa perfeita. Vem o pedido de casamento, depois vem a festa, todo mundo feliz, depois vem os filhos. Construíram uma família. Que lindo! Depois vem as brigas, algo não está certo. Os anos vão passando a beleza física se perde aos pouquinhos, e o que acaba acontecendo? A traição! Essa maldita responsável por destruir vários relacionamentos.

Mas o que leva uma pessoa a cometer esse ato? Será realmente a perca da beleza dos companheiros ou a perca da sua própria beleza? E não estou falando de beleza física, estou falando de beleza interior, de caráter.

Acredito que se as pessoas olhassem para si próprio e se lembrassem do porquê se apaixonou por tal pessoa em, tal época não cometeria esse ato. Porque no final de tudo, a traição só acontece porque alguma das partes ou os dois se segam para o que está em sua frente e preferem perder a si mesmo numa traição desnecessária.

- Não vai para casa, Bruna? - Luana, uma das garotas de programa pergunta, me tirando de meus devaneios.

- Tenho medo de sair nesse horário, vou esperar dar umas cinco horas pelo menos.

- Marabá é bem perigoso mesmo, já fui assaltada algumas vezes saindo daqui, ainda bem que não fizeram nada comigo, mas foi horrível. - desabafa se sentando em uma cadeira.

- Eu nunca fui assaltada, mas morro de medo de ser, sempre penso em como vou ficar depois.

- Eu fiquei bem abalada, é uma sensação terrível.

- Imagino. - falo batendo com os dedos na mesa. - e você, não vai agora?

- Não, depois dos assaltos aprendi a esperar também. - ela sorri.

- Elas limpam agora? - pergunto olhando para algumas meninas que estão recolhendo algumas latinhas e limpando as mesas.

- Sim, quando o dia amanhece já está tudo arrumado. Todo mundo vai para suas camas esperar dar a noite.

- A primeira vez que vim aqui a Jéssica e outras meninas estavam aqui. - falo confusa.

- A Jéssica é gerente do hot sex, deu a sorte grande aquela vaca. - ela rir do próprio comentário. - acho que você viu a Lari e a Andreia, a Andressa também fica aqui. Na verdade, algumas meninas moram aqui.

- Sério? - pergunto de olhos arregalados.

- Sim, às vezes chegam meninas que não tem onde morar, o dono um dia resolveu organizar um cantinho para elas aqui. Ali atrás tem uma cozinha. - aponta para uma porta - elas fazem a própria comida e vivem por aqui.

- Mas como funciona o pagamento? - pergunto curiosa. A fazendo rir.

- É uma bondade de Santiago, ele deixa elas aqui sem receber nada em troca por isso. Quer dizer, elas arrumam tudo, isso paga a dívida. Essas meninas que você está vendo arrumando são das que moram no hot sex.

Olho para as meninas que começam a arrumar toda a bagunça e sem ter mais o que fazer enquanto espero por um horário apropriado para ir até um ponto de ônibus eu me decido por ajudá-las a organizar tudo, afinal, elas estão tão cansadas quanto eu.

- Vou ajudá-las! - comunico me levantando.

- Você não está cansada? - Luana pergunta.

- Sim, mas elas também estão. E de qualquer forma, não tenho mais nada para fazer enquanto espero a hora passar.

- A minha companhia é tão ruim assim? - indaga rindo.

- Imagina Luana. - sorrio também. - é que não consigo ficar muito tempo parada, se eu continuar sentada conversando daqui a pouco vou estar debruçada em cima dessa mesa dormindo. - sorrimos.

- Então vai lá, as meninas vão amar a oferta. - pisca.

Envolvo-me arrumando as mesas e conversando com as garotas no decorrer do tempo, quando vejo a hora já avançou bastante e já me sinto tranquila em sair pelas ruas para ir para parada esperar o ônibus. A cidade de Marabá é enorme e eu moro na nova Marabá e o hot sex fica na cidade nova, como a mudança de núcleo é mais caro, para mim, compensa mais pegar o ônibus que um moto táxi. Luana vai pegar condução para a velha Marabá, então saímos nós duas rumo a parada, tomando todo o cuidado possível e andando rápido para chegar até nosso destino sem sermos perturbadas.

Acabamos passando em frente a um posto de molas onde alguns homens estavam chegando para trabalhar, alguns deles assobiaram e jogaram piadinhas ao ver Luana com sua roupa curta e eu com minha calça justa. Irritada quis voltar para discutir com os filhos da puta, mas Luana me pegou pelo braço e apertando mais o passo seguimos para a parada que já estava próxima. Ela me confessou que ouve sempre dessas coisas quando passa naquele local, que os caras de lá sabem onde ela trabalha e se sentem no direito de trata-la como puta. Fico mais irritada ainda com esse comentário, que mundo é esse onde as mulheres não podem mais andar em paz nas ruas ou vestir o que quiser? Minha vontade é sair metendo a mão na cara de todos esses imbecis que não merecem usar as calças que vestem.

Em fim, chegamos na parada e graças ao bom Deus os nossos ônibus chegam quase na mesma hora, nos despedimos e entro na minha condução me sentando em uma poltrona, encosto meu rosto na janela e muito cansada só penso em chegar em casa e cair na cama depois de uma noite inteira de correria.

            
            

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