/0/2155/coverbig.jpg?v=05d81e7e0c2445b5044038addf5ce985)
Sabe quando você está tão ansiosa que acorda antes do despertador para desliga-lo?
Foi o que aconteceu com Virgínia.
Um evento raro, acredito eu. Antes mesmo de sua mãe sonhar em acordar para acordá-la, ela terminava de vestir sua roupa. Ficou mais bonita do que nunca no seu novo uniforme e com uma trança e um lenço em forma de tiara nos cabelos ela completou sua arrumação.
Ao chegar na sala da casa, seus pais tomaram aquele belo susto. - Você acordada, arrumada e sem cara feia? - sua mãe questionou de olhos arregaçados.
- Tudo novo. Hábitos novos também. - ela deu de ombros sentando na cadeira. Sua mãe estava esperançosa com essa frase de Virgínia. Geralmente as frases que saem de sua boca não são nada animadoras.
Depois que Virgínia tomou o café da manhã, seu pai a levou para a nova escola.
Ela estava decidida a mudar sua personalidade. Queria ser popular e fazer novas amizades. Mas ela havia esquecido de um detalhe muito importante, que poderia ser bom e ajudar no seu plano de popularidade ou estragar a sua vida e a fazer voltar a ser a mesma garota anti- social de um dia atrás: era o meio do semestre. Todos já se conheciam. A única pessoa nova seria ela, e toda atenção seria para a novata.
E o momento decisivo para saber se seria popular ou não era passar pelo corredor e se apresentar na sala. Porque existe aquelas tristes chances de tropeçar e virar chacota pra todo mundo, né.
Ao ver todas aquelas pessoas ela apertou a alça da mochila junto ao corpo e quando viu todos olhando para ela, simplesmente abaixou o seu rosto e continuou a caminhar em direção a sala.
Foi difícil para ela encarar todos aqueles olhos curiosos, todos aqueles cochichos que juntos faziam um grande barulho. E entre caminhar e tentar entender sobre o que cochichavam, ela esbarrou em alguém e caiu.
A considerar a velocidade que ela andava, uma queda é algo muito exagerado, porém o seu atropelador vinha correndo e acompanhando com o olhar uma bola de basquete que depois de arremessada voava pelo corredor. Então, vendo dessa forma, podemos cogitar no mínimo dos desastres, um desmaio de Virgínia, nos médios dos desastres, uma amnesia, e na pior das hipóteses, um traumatismo craniano (um grande exagero da autora).
Mas para a nossa felicidade ela somente desmaiou, e foi levada nos braços do desenfreado atropelador, que ficou mais preocupado do que nunca, para a enfermaria da escola.
A enfermeira Kelly, digamos que era... uma pessoa um pouco indelicada. Dois tapas no rosto de Virgínia a fez voltar a consciência e se assustar com o garoto que segurava a sua mão pensando que ela estava nas últimas. Claro que não foi uma das piores visões da vida dela. Na verdade, foi a melhor visão que ela já teve na vida. Isso se superar a dele. Ao se olharem tudo o que fazia parte da sala e até a Kelly (que é difícil de não ser notada pelas suas medidas) sumiu.
Só existiam os dois naquele lugar em branco.
Ele tinha um rosto oval, sobrancelhas bem pretas e cheias, assim como seus cabelos e olhos castanhos escuros. Sua pele mais clara estava vermelha nas bochechas e um suor descia pela sua testa.
Ela o achou lindo. E ele não pensou diferente. Virgínia tinha cabelos castanho médio, ondulados e grandes, cílios tão grandes que pareciam postiços, uma boca avermelhada e carnuda e um nariz pequeno e muito belo. Ele a achou linda desmaiada, mas de olhos abertos ele ficou sem reação.
O garoto voltou a si primeiro e perguntou se ela estava bem. Ela demorou mais pois os olhos castanhos dele contrastavam tão bem com os cabelos pretos e o casaco de time.
- Ora, ora, a cinderela acordou! - disse a enfermeira fingindo ânimo.
- Sim. E é bela adormecida, se faz referência aos contos de fala. - Virgínia conseguiu responder e levantando um pouco a cabeça sentiu a mesma doer.
O garoto soltou sua mão preocupado. - Fica mais um pouco deitada. - a aconselhou e ela o fez enquanto olhava o lugar confusa.
- O que aconteceu?
O garoto ficou um pouco envergonhado, mas respondeu.
- Bom... é que... eu tava correndo e você estava no corredor...então a gente se esbarrou...e como foi muito rápido você desmaiou. - lamentou. - Me desculpa, eu deveria ter tomado mais cuidado.
Ela até que queria ter raiva dele pela adorável recepção, mas um anjo com cara de arrependimento pedindo desculpas é algo que a raiva nem passa perto.
- Desculpas aceitas. - sorriu amigável e ele respirou aliviado.
- Você é a garota nova, não é? - perguntou curioso e ela assentiu. - Eu sou Gustavo, mas todos me chamam de Guto. Qual é o seu nome?
Virgínia ficou contente, pois ninguém nunca perguntava seu nome a não ser os professores novos, e ainda mais porque ele era aparentemente perfeito.
- Virgínia. - sorriu e Guto assentiu sorrindo também.
Virgínia resolveu vencer a dor logo que ouviu o sinal tocar pela terceira vez e sentou-se deixando Guto preocupado, pois ela ainda colocava a mão na testa com uma bolsa de gelo, antes colocada pela enfermeira.
- Já estou melhor. Preciso ir pra sala. - disse ela, tentando sair do ambiente que ela mais temia, qualquer um que tivesse agulhas e remédios.
- Tem certeza, Virgínia? - Guto ficou mais preocupado quando ela quase caiu ao descer da maca.
- Sim, sim. - respondeu amigável.
Na verdade, ela não tinha se desequilibrado porque ainda estava mal, mas porque suas pernas eram curtas para a altura da maca, pois ela só tem 1,56 cm de altura.
Pegando a mochila ela logo virou-se e agradeceu a Guto por ficar ao seu lado (e como ela queria que ele continuasse!).
- Eu acompanho você. - abriu a porta para ela, que sorrindo tímida passou na sua frente. Mas parece que não era naquela hora que ele a acompanharia, pois a diretora da escola apareceu.
- Olá. Que bom que encontrei os dois juntos aqui. - falava tranquila enquanto entregava uma folha a Virgínia. - Espero que esteja bem Virgínia, e seja bem vinda a nossa instituição. Aqui estão os seus horários. E você Gustavo, me acompanhe por favor até a diretoria. - virou-se se retirando e depois de um sorriso desanimado de Guto para Virgínia ele acompanhou a diretora.
- A gente se vê por aí. - disse ele.
"Sim, com certeza sim". - pensou ela.