Capítulo 3 A nova turma

Virgínia andou até a sala pensando na sorte que teve em se bater com Guto e agora vinha o outro desafio na nova escola.

Entrar a nova turma.

Ao passar pela porta, logo viu que a turma era grande e que todos olhavam para ela.

- Ah, sim. - disse a professora sorrindo. - Turma, essa é a nova colega de vocês, Virgínia.

Virgínia ficou vermelha, acabando com o contraste que tinha na sua testa depois que um galo apareceu por conta do acidente.

- Seja bem vinda, Virgínia. Eu sou a professora Carmem. - apontou para uma das duas cadeiras de tinham sobrado no fundo da sala, o que a confortou ao sentar e não ver mais ninguém olhado pra ela.

A professora deu continuidade a aula e ela abriu o caderno tentando se concentrar. Duas garotas chamaram sua atenção, uma sentada na cadeira em frente a de Virgínia e outra sentada na cadeira em frente a que estava vazia ao lado de Virgínia. Elas usavam roupas de líder de torcida e laços nos cabelos, lápis decorados com fitas e maquiagem.

Ambas se viraram para a novata. - Gostei da sua mochila Virgínia. Is amazing. - a mais metida disse. - Meu nome é Rayanne. - estendeu a mão cheia de anéis para cumprimentar Virgínia, que mesmo receosa, pois não era fã das garotas desse tipo na outra escola, apertou.

Logo a outra fez o mesmo. Kally era no nome dela. Aparentemente era a comparsa da Rayanne, pois repetia tudo que ela falava.

- Obrigada. - Virgínia deu um leve sorriso.

Poucos minutos depois o lugar ao seu lado foi preenchido por ninguém menos que seu atropelador, Guto.

Ela não entendia como isso aconteceu tão rápido, mas se sentia à vontade com ele. Podia ser porque ele era a única pessoa que ela conhecia até poucos minutos antes.

Pouco tempo depois ela descobriu duas coisas bem interessantes: 1° que o Guto é o garoto mais popular da escola, e capitão do time de basquete (o que já não era pra ser novidade) e 2° que dali a duas semanas teria um baile, o baile de inverno da escola.

Claro que ambas as notícias não animaram tanto Virgínia, visto que ela era invisível. Mas quem sabe ela não poderia ir com Guto? Era uma possibilidade que tinha como probabilidade de 1 em 1000, mas ainda era uma possibilidade.

Então o dia se passou e ela não conheceu mais ninguém. Também, se já era difícil conhecer alguém estando em bom estado físico, machucada foi que ela não conheceu ninguém mesmo. Aquela escola era cheia de deveres, não dava tempo para conversar. Mas sua família positivista (bando de iludidos) achava que seria diferente. Ela também tinha achado, mas das duas opções que foram ditas anteriormente, a que ela continua antissocial foi a que prevaleceu.

- Eaí filha? Como foi o primeiro dia de aula? - sua mãe, que já havia pegado o irmão na escola, perguntava sem ver o galo da testa de Virgínia, pois mexia no celular quando ela entrou.

- Foi ótimo. - respondeu Virgínia sem o menor ânimo, e sua mãe seguiu para casa sem nem sequer olhar para a filha, percebendo só no almoço, quando estavam sentados à mesa, o machucado da testa dela.

No início achavam que ela havia sido agredida. Ficaram indignados. De certo modo ela foi, mas foi um acidente e Virgínia explicou direitinho.

Depois de dormir a tarde inteira, ela resolveu sair para a frente da casa e sentar-se para ver o pôr do sol.

"Será que alguém me achou legal? E aquelas garotas, será que serão minhas amigas? Não acho que elas gostam de pessoas como eu. O Guto..."

- Ai! - gritou de repente quando foi acertada por uma bola de basquete.

- Desculpa, desculpa, desculpa! - Guto apareceu correndo todo suado pelo quintal dela.

Virgínia ficou surpresa, tanto pela bolada como com a presença do Guto.

- Parece que eu tenho um alvo na testa. - ela lamentou. - Mas tranquilo, pelo menos foi a bola que me acertou, não você. - brincou bem sem jeito enquanto passava a mão na cabeça e ele segurando a bola, parou na frente dela para sorrindo.

- Desculpa mesmo... E o outro machucado, como tá?

- Já sumiu. Olha. - ela virou o rosto e mostrou o lugar.

- Que bom. Ainda bem. Levei uma bronca daquelas da diretora.

- Sinto muito.

- É, mas a culpa foi minha. Eu sei que é proibido ficar jogando nos corredores. - começou a analisar aonde ela estava sentada. - Então você mora aqui? - e ela assentiu. - Isso quer dizer que somos vizinhos!

- Se você mora na casa ao lado, acho que sim. - ela sorriu intimidada e deu de ombros.

Ela não costumava falar com garotos, principalmente com garotos bonitos e populares como Guto. Mas sem dúvidas ela havia se surpreendido com ele. Ele era muito diferente dos atletas da sua antiga escola.

Enquanto ele contava várias histórias sobre o bairro, escola e tudo o que ele achava interessante, ela pensava em tudo o que ela não esperava de alguém popular. Ele era engraçado, humilde e falava muito.

- ... Aí sem querer eu entrei no campo e o treinador achou que eu iria fazer o teste, então eu fiz e passei, e sabe o mais engraçado? - contava ele empolgado e ela assentia mostrando interesse na história. - Eu só sou o capitão porquê todos os outros são piores do que eu!

Ela riu apesar de não conseguir acreditar. Em um dos corredores da escola havia um armário de vidro cheio de troféus do time.

- Não acredito que você não é bom, porque parece que vocês sempre ganham os jogos!

- Isso é por conta da sorte, você precisa ver os times adversário que nós pegamos, um pior que o outro! - riu contando.

- Eu gosto de basquete também, mas nunca fiz testes nem nada do tipo.

- Sério?! Não acredito.

- Sério. Não estou brincando Guto, aposto que sou melhor que você!

Ele deu uma gargalhada, mas não de deboche, por diversão mesmo. Ela levantou e saiu o acompanhando até a quadra do quintal dele.

- Vamos ver então. - começaram a jogar.

Claro que ela não mentiu sobre saber jogar, era muito boa mesmo e fez mais pontos que ele.

- Você tem que fazer teste para o time feminino. - ele sugeriu.

- Não, é que eu não sou uma pessoa muito sociável sabe?! - explicou sentando no chão da quadra junto com ele.

- Não acho isso. Olha a gente! Ficamos amigos, você falou comigo e tudo, eu não acho que seja antissocial.

Ela nunca havia ouvido algo do tipo e isso a fez ficar mais feliz que nunca.

- Você não viu a quantidade de amigos que eu tinha na outra escola. - ela riu lamentando mas feliz por ter conhecido alguém.

- Como é se mudar? - perguntou curioso.

- Para mim não faz muita diferença. Já mudei tantas vezes que nem me importo mais. - deu de ombros.

- Espero que não se mude mais então, você é a primeira vizinha legal que tive e joga basquete. Os outros eram velhotes traficantes.

Ela então olhou pra ele e riu. Ele realmente se considerava amigo dela e até era mais conversador que sua antiga amiga. Sem dúvidas, ter um amigo como Guto era tudo de bom.

****

As semanas e meses que se sucederam foram os dias que Virgínia mais viveu em sua vida. Vários momentos foram marcantes para os dois.

Momento marcante 1 - Uma companhia para a escola.

Na noite anterior, Guto convidou Virgínia para lhe acompanhar de bike para a escola. Ela não estava acostumada a andar de bike, quem dirá ir para a escola, que levava 15 minutos. Quem amou a ideia foram seus pais. Então ela o encontrou na frente da casa, onde ele a esperava todo arrumado.

- Tá pronta, Virgínia? - disse ele sorrindo e ela um pouco desengonçada implorou que não pedalasse em alta velocidade, pois o seu histórico de quedas era enorme. Ele quase não acreditou, mas pedalou emparelhado a ela.

- Você não pedala tão ruim, Virgínia!

Ela ria sem parar com a proximidade que ele colocara a bike dele perto da dela. - Você é doido Guto.

- Te convido a todos os dias vir comigo para a escola de bicicleta. Você aceita? - ele quase se ajoelhou, fazendo Virgínia tomar um leve susto.

Esse pedido era inconvenientemente tudo o que ela sempre sonhara receber. Isso provava que alguém gostava da sua companhia.

- Mas é claro que aceito. - ela sorriu com o vento balançando seus cabelos.

Foi aí que Virgínia se deu conta que são as coisas bobas que fazem a vida ser maravilhosa.

Momento marcante 2 - A sorveteria.

Quem não ama sorvete? É uma delícia, se tomado junto as pessoas que você gosta melhor ainda. No caso de Virgínia, essas pessoas eram sua família. Até que um dia de domingo, sentada em frente à sua casa, apareceu Guto e sua irmã de cinco anos, Sophia. Eles estavam saindo para tomar sorvete e passaram para convidar Virgínia, que se surpreendeu.

Seria perfeito, mas quem foi que resolveu ir junto aos três? Seu irmãozinho pestinha, Arthur. Reza a lenda e é quase comprovado cientificamente, que todo Arthur é um pestinha.

- Me leva, Vê! - ele saltou arrastando o braço dela. Virgínia deu um olhar com 360° de calor fuzilante sem que Guto percebesse.

- Leva ele, Vê. - Guto também pediu solidário e automaticamente ela sorriu. Alguém que não eram seus pais e seu irmão estava a chamando de forma carinhosa.

Então esqueceu completamente a raiva que provavelmente Arthur fará e depois de pegar sua bolsa e dinheiro, acompanhou Guto a pé até a sorveteria.

Enquanto Arthur e Sophia brincavam no pula-pula, eles conversavam.

- Então você ama chocolate, né?! - ele perguntou retoricamente e ela sorriu acrescentando.

- E unicórnios.

- Sempre, né! - admitiu conformado. - Vocês todas amam unicórnios.

- Sim, mas no meu caso é uma paixão platônica que percorre cada centímetro e detalhe do meu quarto. - explicou sorrindo.

- Então o que vou te dar no dia do seu aniversário, se aparentemente você tem tudo? - ficou pensativo e os olhos dela brilham.

Ele já planejava dar presentes de aniversário a ela! Teve anos onde seus pais esqueceram seu aniversário, o que fez ela odiar essa data, mas agora ela já estava mudando de ideia.

Sem dúvidas, Virgínia era negligenciada pois seus pais.

- Existe muitas coisas. Mas não precisaria ser exatamente algo com unicórnios. - explicou.

- Então algo de chocolate. - ele brincou e ela riu. - Que dia é seu níver?

- 26 de agosto. E o seu?

- 17 de maio. Sou mais velho que você. - falou convicto.

- Nossa, sim, muito velho, idoso. Já tá bom de encaminhar a aposentadoria. - ela ironizou brincando e eles riram.

Momento marcante 3 - o parque de diversões.

Tenho que admitir que morro de medo dos brinquedos do parque, aqueles altos. Acho que só andaria no carrinho bate-bate. Nunca tenho coragem de andar naqueles brinquedos.

A Virgínia compartilha desse meu medo.

- Vamos, vai ser divertido! - Guto tentava convencê-la enquanto andavam pelo parque de diversões, que estava repleto de gente.

- Mas é alto Guto! E se eu cair? - tremia só de pensar.

- Eu não vou deixar. - ele sorriu de um jeito confiável e ela se convenceu, mesmo com muito medo e subiu na roda gigante com ele.

Toda a galera da escola estava lá e metade estava na roda gigante também. Logo que sentou o frio na barriga bateu e poucos centímetros que a roda girou e se afastou do chão ela se desesperou.

Guto vendo isso segurou sua mão firmemente e ela ao vê-lo sorrindo em sua direção se acalmou um pouco.

- Relaxa. Eu disse que não vou te deixar cair. - reafirmou convicto e ela sorriu.

- Valeu. - ela se encostou no banco e tentou curtir a vista.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022