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Capítulo 6 O conto

Capítulo 7 Você não mudou nada

Capítulo 8 Noite fria


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Enquanto caminhavam, Oliver tentou organizar seus pensamentos, sua cabeça estava uma bagunça. Lembranças de sua mãe insistiam em vir a tona fazendo aquilo que se encontrava em seu peito se apertar. Ele se lembrava exatamente de como ela era. Os cabelos negros, o sorriso doce, e principalmente como seus olhos se transformavam em uma linha fina quando ela sorria.
Ele se lembrava de tudo.
Lembrava do seu típico cheiro de terra, resultado de passar o dia inteiro no jardim. Lembrava até de reclamar disso.
Ela não era uma pessoa de muitas ambições na vida.
só queria poder chegar em casa no fim do dia e se sentir satisfeita consigo mesma. Sentir que estava fazendo a coisa certa.
Oliver, seu único filho, era o seu maior orgulho. Ela não cansava de se gabar que o garoto era inteligente, bonito, de que iria pra uma boa faculdade e se casaria com uma boa pessoa. Seu maior sonho era vê-lo feliz.
Mas infelizmente ela não pode presenciar isso.
Sobre tal pensamento o coração de Oliver se apertou.
Desde a sua trágica ida ele vinha tentando seguir frente, um passo de cada vez.
Ele prometeu pra si mesmo que iria continuar, ele iria ser forte.
Tudo isso para no fim ele acabar se encontrando no fundo de um abismo. Quanto mais ele se esforçava pra subir, mais era empurrado para baixo. Tudo em vão.
Depois de tantas tentativas fracassadas ele já estava decidido de que acabaria com todo esse sofrimento de uma vez por todas. Só não contava com a súbita aparição de Lian.
Oliver olhou para o garoto ao seu lado que firmemente segurava sua mão. Ele a segurava com tanta força como se estivesse com medo de que se a soltasse o menor iria dar meia volta e correr em direção ao mar.
O que talvez era era meio verdade.
Ele não sabia o real motivo para o outro o estar ajudando, era a primeira vez que alguém o estendia a mão depois de muito tempo sem ter outras intenções. Ele podia confiar nele? Ele não iria o machucar como muitos outros fizeram?
Logo após a morte de sua mãe, Oliver não lidou muito bem com os sentimentos e tentou se aproximar de outros garotos na tentativa de afastar a dor, no final acabava sempre acordando com um espaço vazio ao lado de sua cama. Ele se sentia sujo e indigno de ser amado, dormindo com tantas pessoas que nem conhecia.
Logo, Não demorou muito para que conhecesse os anti depressivos.
quando achava que não podia piorar, a vida vinha e lhe fazia uma linda surpresa.
Que ótimo.
Eles andaram lado a lado durante um bom tempo até que parassem em frente a uma pequena cafeteria.
Puxando Oliver pela mão, eles adentraram o local.
Assim que seus pés ultrapassaram o batente da porta ele foi atingido por um forte cheiro de café e chá verde. Olhando ao redor, ele pode notar algumas pessoas que estudavam ali, alguns gringos conversando animadamente E uma garota que parecia imersa em um livro. ele sempre admirou pessoas que liam, achava incrível o fato de que alguém pudesse se perder e passar horas e horas construindo um mundo só seu em sua cabeça...
Ele queria poder imaginar um mundo também, um mundo onde sua mãe ainda estava viva e o aplaudia orgulhosamente enquanto ele pousava para uma foto segurando em mãos, um diploma.
Seus olhos marejaram subitamente com o pensamento.
- Você está bem?
Oliver, "..."
Essa era a primeira frase que saia de sua boca desde o episódio anterior, sua voz era carregada de um tom de preocupação.
- Sente-se aqui - Indicou um lugar a sua frente, assim ele poderia ficar de olho em cada movimento.
- Certo.
Ele apenas concordou, sentia que mesmo negando o outro não iria deixá-lo ir tão facilmente.
Afinal, No momento ele não era um dos melhores exemplos de estabilidade emocional.
- O que você vai querer?
- Qualquer coisa.
Ele só queria poder sair correndo dali e se enfiar em um buraco, tem essa opção?
- Qualquer coisa não tem.
Oliver, - "..."
Lian o fitava com um sorriso desafiador no rosto.
Sem saber pra onde ir, Ele rapidamente correu os olhos pelo cardápio e escolheu o que mais lhe agradava.
- chocolate quente.
- Um chocolate quente e um café, por favor. - Disse se virando para a atendente que o retribuiu com um sorriso doce.
Oliver o observou por um momento, ele era de fato muito bonito. Seus cabelos caiam em ondas ao longo de sua nuca, seus olhos eram de um tom de castanho claro que exalavam uma sensação de conforto e tranquilidade. Tudo era perfeitamente alinhado em seu corpo.
- Foi difícil escolher? Digo, o pedido.
Oliver ainda o estava encarando como um bobo.
Rapidamente mudou sua postura e desviou o olhar.
- Na verdade não.
Onde ele queria chegar com isso?
Lian segurou suas mãos e o olhou no fundo de seus olhos
- Para tudo na vida se tem escolhas, você só tem que escolher aquilo que te faz mais feliz. Hoje foi apenas um chocolate quente. Nem sempre vai ser assim tão fácil, mas o que você precisa saber é que não existe um só caminho.
Puta merda.
Ele já tinha pensado nisso tudo antes mesmo de me arrastar pra cá?
- Você entende? - disse em um tom sério, suas mãos ainda firmes.
Oliver, - Entendo.
Ele queria realmente o entender. Aprender com ele, se o que ele dizia era verdade, então ele deveria ter tido outras escolhas.
Não demorou muito para que os pedidos chegassem.
- Você mora com alguém?
- Não.
- Você tem algum parente pra quem possa pedir ajuda?
- Não.
- Você não quer me contar como foi parar lá?
- Não.
- Você só vai responder "não"?
Ele não queria parecer grosso, só não adiantaria nada encher a cabeça dele com seus problemas. ele parecia ser uma pessoa tão boa que Oliver não se perdoaria se o enchesse de histórias sombrias a respeito de seu passado.
Por que era a isso que sua vida se resumia.
Eles "conversaram" durante um tempo, mesmo que Oliver não fosse a melhor pessoa nesse quesito. Lian por outro lado sempre se mantinha calmo e ouvia com atenção cada palavra que saia de sua boca.
Quando finalmente saíram da cafeteira, o céu já se encontrava estrelado.
Quando foi a última vez que ele parou pra observar as estrelas? Ele fazia isso frequentemente com sua mãe. Era divertido porque ela sempre errava os nomes e esse era o seu maior momento de se gabar e dizer com precisão o nome de cada uma.
Eles eram tão felizes...
Sem perceber ele já estava sorrindo, Lian notou mas preferiu não dizer nada.
Essa era a primeira vez que ele via uma expressão feliz em seu rosto. Uma expressão que não fosse de dor desespero ou angústia.
Sobre aquele céu se encontravam apenas duas almas já cansadas.
Eles não tinham a mínima pressa de ir embora.
Oliver não sabe dizer exatamente por quanto tempo eles permaneceram alí sentados na porta da cafeteira. ele só gostava de ter Lian ao seu lado, seu silêncio era reconfortante.
Ele queria poder fazer esse momento durar para sempre. pela primeira vez ele não se sentia triste em relação a sua mãe, mas sim orgulhoso pela pessoa incrível que ela foi, de agora em diante ele seria melhor.
Por ela.