César - Está com fome?
Ana Victória - Sim e muita.
Ele me deu um pedaço de carne de caça defumada pois assim ficava conservada por mais tempo e os caçadores e pistoleiros sempre carregavam comida assim, aquilo me embrulhou o estômago só de olhar e ele percebeu.
César - Que tipo de pistoleira quer ser, se nem ao menos consegue comer carne de caça?
Ana Victória - Claro que consigo, me dá isso aqui.
Enfiei tudo de uma vez na boca, quanto mais eu mastigava mais parecia render. Acabei vomitando tudo e ele rindo muito da minha fraqueza.
César - Beba, você é fraca demais para essa vida mocinha!
Ele me deu o cantil e bebi tudo de uma vez só tetando me livrar daquele sabor horrível.
César - Se arrume, precisamos partir agora mesmo.
Ana Victória - Está muito cedo, ainda nem descansamos...
César - Se quer seguir em uma missão comigo a regra número um é nunca questionar minhas decisões!
Ele montou no cavalo e achei que eu iria junto com ele, mas não.
Ana Victória - E a regra número dois é essa?
César - Você vai andando!
Não questionei nada, apenas peguei minha bolsa e segui andando atrás do cavalo dele, cansada com os pés em carne viva. Nunca em toda a minha vida eu havia caminhado tanto, o sol naquele dia estava particularmente escaldante César parou um instante e me deu água.
César - Beba, mas não tudo. Temos que poupar recursos de agora em diante.
Tomei um gole de água daquele cantil.
...
Ana precisava entender que naquele lugar tudo era difícil e distante. Percorrer uns quilômetros a pé era apenas o começo daquela jornada e confesso que dentro de mim eu torcia para que ela mudasse de ideia e desistisse, ficasse em segurança.
...
César - Aqui parece um bom lugar para ficarmos, por pelo menos essa noite.
Ele desceu do cavalo, paramos e eu me sentei retirando os sapatos e vendo o estrago que meus pés haviam sofrido, estavam cheios de bolhas enormes.
César - Vem me ajude a pegar lenha, não podemos ficar sem fogo essa região tem animais perigosos.
Ana Victória - Espera só um instante, meus pés estão me matando.
Eu não conseguia entender como ele era insensível ou simplesmente achava que todo mundo tinha a mesma disposição que ele.
César - Como eu disse, você não serve para essa vida de caçadora! É toda certinha, tem mãos macias...
Ana Victória - Eu caminhei o dia inteiro, enquanto você descansava o próprio traseiro em cima do cavalo e me via andar.
César - Deixa de tanto lamurio, deve aprender a caminhar longas distâncias e sem reclamar ou então é melhor desistirmos de tudo.
Juntei as forças que tinha e calcei de novo os sapatos com os pés cheios de bolhas, peguei toda a lenha que achei e joguei aos pés dele.
César - Nada mal!
Minha visão ficou turva senti tudo apagar de repente.
...
Acho que a lição foi um pouco demais, antes que Ana caísse eu a peguei e deitei no chão. Ela estava quente e com a pele avermelhada, molhei uma flanela e passei sobre seu rosto que estava tão quente. Ana estava desacordada depois daquela caminhada e como era bela...me perdia em seus traços tão jovem e pura.
...
Senti ele descer a mão até meu decote e enfiou a flanela úmida dentro dele, agarrei em sua mão e arregalei os olhos devolvendo a ele um bom susto.
César - Se...se...sente melhor?
Ana Victória - Sim, só estou um pouco tonta e enjoada.
César - Fique deitada, não queremos que caia em cima da fogueira.
Ele ficou constrangido por ter sido flagrado por mim naquele toque mais íntimo.
César - Está com fome?
Ana Victória - Sim...
César - Só tenho aquela carne...
Ana Victória - A fome passou!
Aquela seria mais uma noite fria, naquele lugar o clima era extremo....dias escaldantes e noites de congelar a espinha.
César - Você fica de vigia primeiro e depois é meu turno.
Ana Victória - Está bem.
Ele se deitou e fiquei acordada e em alerta como uma boa e aldaz vigilante.
...
Como eu imaginava ela pegou no sono, estava cansada e era justificável depois de tudo o que passou. Era difícil aceitar que alguém como ela, um anjo de garota estava nessa vida de fora da lei caçando um homem por uma vingança que eu sei que jamais conseguirá se cumprir.
A noite estava gelada e ela gemia e tremia de frio se encolhendo por cima do pouco feno que eu havia juntado.