Capítulo 6 Primeiras impressões

O veículo percorreu a longa alameda e parou em frente a enorme porta de entrada do Castelo. Mohamed se aproximou e encaminhou os quatro jovens para o interior do Palácio.

O luxo e a riqueza do lugar deixou todos boquiabertos. A decoração do lugar era toda em cores claras entre o branco, pérola, amarelo e dourado, grandes tapetes coloridos cobriam o piso de mármore e nas paredes podiam ver diversas quadros, verdadeiras obras de arte, assinados por grandes nomes da pintura. Um quadro em especial chamou a atenção de Karin que se postou diante dele. Encarando a pintura que retratava uma bela mulher, trajando um vestido fluído na cor azul, os olhos do rapaz se turvaram. Os outros três jovens pararam ao lado de Karin e também observaram o quadro.

Mohamed percebendo que os jovens não estavam mais o seguindo e apreciavam o quadro se aproximou deles.

- Alteza, terá todo tempo do mundo para apreciar as obras de arte do castelo, mas no momento, Sua Majestade e o velho Sultão os aguardam, podemos continuar?

- Quem é ela? Indagou Karin com a voz levemente embargada.

- O quadro retrata sua Majestade Miriã, a última Rainha de Dankin e vossa genitora.

- Minha mãe...

A mulher no quadro era linda. Karin mal podia acreditar que aquela beleza que parecia flutuar nos jardins do Palácio era sua pobre mãe. Talvez a gravidez dele tenha sido muito sofrida, talvez a separação do amado marido a tenha debilitado fisicamente, talvez a saudade do País que ela considerava como seu no coração tenha tirado seu brilho e envelhecido prematuramente, mas definitivamente, nas poucas fotos que tinha de sua mãe que foram tiradas durante sua gravidez, exceto pelos lindos olhos azuis, ela não se parecia em nada com a mulher retratada naquele quadro. Balançando levemente a cabeça, tentando sair daquele estado de topor, Karin deu um passo atrás e se dirigiu a Mohamed.

- Podemos continuar. Meu irmão e meu Pai não devem esperar.

- Perfeitamente Alteza.

Mohamed retomou a caminhada pelo longo corredor e os jovens o seguiram. Enquanto Heloísa e Youssef que estavam alguns passos atrás cochichando.

- Youssef minha casa inteira cabe dentro daquela sala!!!

- Pelo tanto que a gente já andou nesse corredor, eu já teria ido da minha cada na padaria. Lôlô o Sheik, Majestade, sei lá mais o que, tá louco por você, que tal viver aqui para sempre e ser o próximo quadro na parede?

- Tá louco! De onde você tirou que o Sheik tá louco por mim? Não se esforce para ser mais idiota do que você já é normalmente! Tô fazendo força até para respirar normalmente. Não sei como vou passar os próximos quinze dias aqui, quem dirá o resto da vida. É muito luxo, muita riqueza...é muito opressor!

Enquanto os dois falavam e observavam as obras de arte ao redor, se deram conta que Mohamed havia parado em frente uma porta e dado duas batidas suaves. Imediatamente a porta se abriu e eles foram conduzidos ao interior de uma grande sala, onde as obras de arte tinham dado lugar a grandes estantes cheias de livros, que cobriam todas as paredes, execeto uma ao fundo, que era ocupada por uma porta de vidro, por onde se podia avistar parte do jardim. Uma mesa de madeira maciça ocupava o fundo da sala em frente às portas balcão. Um homem, aparentemente idoso, estava sentado na cadeira de espaldar alto e detalhes dourados que compunha o jogo com mesa e Hassan estava postado em pé ao seu lado. Heloísa observou que as mãos do velho, espalmadas sobre a mesa, tremiam levemente de maneira quase imperceptível. Anotou o detalhe mentalmente para, quem sabe, descobrir o motivo mais tarde e usar no seu jogo contra Hassan, que naquele momento não parecia exatamente nervoso, mas um pouco apreensivo. Naquele momento, Hassan se incumbiu das apresentações.

- Pai...Karin e seus amigos Heloísa, Youssef e Jonathan que aceitaram gentilmente o nosso convite para conhecer o Reino.

Heloísa achou que seria bom para ela se o velho da cadeira a tivesse em alta conta e com isso em mente, colocou no rosto sua máscara de menina doce, se aproximou alguns passos da mesa e fazendo uma pequena reverência ao velho falou em tom meigo.

- Majestade!! É um imenso prazer visitar o seu Reino e poder conhecer sua cultura! A viagem foi de última hora e não tive tempo de pesquisar sobre seus hábitos e, por isso sinta-se a vontade para me repreender severamente caso eu cometa algum deslize.

Os olhos do velho Sultão, que até aquele momento estavam grudados em Karin se voltaram para Heloísa e a mediram de cima até em baixo e depois se fixou nos olhos verde dela.

Hassan assistiu a cena de Heloísa e quase gargalhou. Do que aquela garota estava falando dando ao seu Pai autorização para repreende-la severamente"? O rosto dela estampava aquele ar angelical novamente e a voz doce e contida não lembrava em nada a Heloísa que ele conheceu no bar, com um olhar frio e arrogante, bebendo e falando palavrões como um estivador do porto. Youssef e Jonathan seguiram o exemplo de Heloísa e cumprimentaram o velho com uma pequena reverência, mas se mantiveram calados. O velho Sultão se levantou e se dirigiu a Heloísa com um grande sorriso no rosto.

- Que linda criança...Heloísa não é? Que lindos são estes olhos verdes, sempre gostei dos olhos claros. Minhas duas Rainhas tinham olhos azuis e deixaram essa herança genética aos meus filhos, olhando para você fico pensando se não deveria ter tido uma Rainha de olhos verdes! Linda Criança, sinta-se como se estivesse em sua casa, com algumas pequenas regras de diferença! Os amigos de Karin são muito bem-vindos e caso algo não esteja de seu agrado pode repreender Hassan severamente. Pode me chamar de Tio Kalil...sei que é costume no seu País chamar os pais do amigos de Tio.

Em seguida Kalil se dirigiu a Mohamed.

- Mohamed, entregue Heloísa aos cuidados de Clara e Joana na ala das mulheres do Palácio e leve os dois jovens rapazes aos seus aposentos, na ala de visitantes.

Voltando-se novamente para Heloísa e segurando sua mão o velho Sultão disse:

- Não se preocupe com nada, Clara e Joana falam sua língua e foram aias da Rainha Miriã enquanto ela viveu no Palácio. Elas vão cuidar bem de você linda criança.

Hassan se moveu desconfortávelmente nas próprias pernas! Era seu velho Pai, mas o tratamento dispensado a Heloísa por ele estava além da gentileza esperada. A cara de anjo realmente conquistou o velho Sultão e Hassan sentiu um leve incômodo no peito. Queria que o velho soltasse logo a mão de Heloísa e parasse de a chamar de linda criança.

Em seguida o velho se dirigiu a Karin de forma bastante humilde para um Sultão.

- Karin...filho...sei que está cansado pela longa jornada até aqui, mas poderia ficar e conversar com seu velho pai por alguns minutos?

- Sem problemas Senhor. A viagem até aqui foi bastante confortável e não me sinto cansado.

Logo em seguida os três jovens acompanharam Mohamed para fora do aposento e caminharam de volta pelo longo corredor. Heloísa foi encaminhada por Mohamed para um lado do castelo enquanto Jonathan e Youssef foram escoltados por outros guardas para lado contrário.

Mohamed e Heloísa chegaram a Ala das mulheres do Palácio. Duas mulheres se aproximaram deles e olhando por cima do ombro delas, Heloísa viu no final do corredor um ambiente ocupado por uma piscina de onde podia se ver o vapor saindo e algumas mulheres cobertas pela água conversando alegremente.

Apontando o dedo para o local e passando entre as duas aias, Heloísa foi se encaminhando para lá e falando ao mesmo tempo.

- O que é ali Mohamed? Que legal, tem uma piscina enorme de água quente e umas minas!! Mais tarde vou colocar um biquíni e vou lá dar uns tchibum!

- Madame, ali é o Harém do Sultão. Não creio que seja de bom tom a Senhorita ir até lá, mas se for não vai precisar de um biquíni. Com relação ao tchibum não sei do que se trata.

Heloísa estacou no lugar e voltou-se para Mohamed e as Aias com os olhos arregalados. Aquilo só podia ser brincadeira! Como ela poderia enlouquecer o Sheik se ele tinha um Harém a disposição dele.

- Um Harém? O Sheik tem um harém???

A Aia de cabelos negros se adiantou e segurando as mãos de Heloísa a trouxe de volta para a porta do quarto.

- Madame, eu sou Joana. Claro que Sua Majestade tem um Harém. Como não teria? Sua Majestade é um Sultão e não um Sheik como Madade disse. O velho Sultão é um Sheik, mas o Jovem Sultão ainda não é. Vamos entrar...nós vamos cuidar do banho de Madame. Mohamed pode ir, deixe Madame sob os nossos cuidados.

Mohamed começou a se afastar mas como se tivesse se lembrando de algo, disse algo em árabe que fez com que Joana arregalasse os olhos e Clara desse um pequeno sorriso envergonhado.

Joana praticamente arrastou Heloísa para dentro do quarto e a colocou sentada em uma poltrona estofada e ricamente ornamentada.

- Madame aguarde apenas um minuto que vamos preparar seu banho.

- O que Mohamed disse a vocês?

Clara que até aquele momento não havia aberto a boca começou a falar.

- Ele apenas nos alertou para preparamos o seu banho de acordo com o gosto de sua....

- Clara...você não deve falar sobre coisas que lhe foram confiadas.

Clara era aparentemente mais jovem que Joana e parecia respeitar a mulher mais velha e rapidamente tentou desviar a atenção de Heloísa do assunto.

- Não foi nada demais Madame, apenas que deveríamos preparar o seu banho ao seu gosto. Gostaria de um banho com leite de cabra e essências do deserto?

- Não...não! Só me mostrem onde é o chuveiro!

Heloísa não se convenceu com a conversa de Clara, mas resolveu deixar o assunto morrer até que estivesse sozinha com a mulher já que ela não iria abrir a boca com Joana por perto.

- O banho deve relaxar Madame, um chuveiro não é o suficiente.

Joana que havia entrado no banheiro da suíte retornou e segurando as mãos de Heloísa a colocou de pé e começou a despir suas roupas.

- Ei...espera aí. Eu posso fazer isso sozinha!

- Madame, se o Sultão descobrir que não estamos cumprindo nossa obrigação ele vai nos castigar. Por favor...nos deixe fazer nosso trabalho.

Heloísa desistiu de lutar e se deixou despir e colocada na banheira, onde Clara começou a lavar o seu corpo e seus cabelos.

- Isso é mesmo necessário? Eu posso me lavar sozinha!

- Sim Madame, é necessário!

- Joana, estou com bastante fome, você poderia ir buscar algo para eu comer?

- Claro Madame! Do que gostaria? Um café da manhã tipicamente brasileiro.

- Sim, seria ótimo.

Na verdade ela só queria que rigida Joana saísse para que ela pudesse conversar com a suave Clara e saber o que Mohamed tinha falado e também terminar seu banho sozinha, mas para seu desgosto Joana retirou um celular do bolso e rapidamente escreveu uma mensagem.

- A cozinha já foi avisada e assim que Madame terminar o banho, poderá tomar seu café da manhã.

Heloísa revirou os olhos. Droga!! As coisas não estavam saindo conforme seu planejamento. O Sheik, que nem era Sheik tinha uma droga de Harém, seus amigos não estavam por perto, e ela sequer conseguia convencer as duas mulheres a deixarem ela tomar seu banho sozinha. Desse jeito como ela conseguiria enlouquecer Hassan se já estava tendo dificuldades para lidar com as duas Aias? Revirando novamente os olhos Heloísa relaxou na banheira e deixou as mulheres tomarem conta do banho. Uma batida na porta anunciou que o seu café da manhã havia chegado. Joana enrolou os cabelos de Heloísa com uma toalha e lhe vestiu um roupão felpudo.

Sob o olhar estupefato das duas mulheres, Heloísa comeu quase tudo que foi servido. Enquanto comia suas pestanas começaram a pesar e ela só queria tirar um cochilo.

- Bom...a comida estava deliciosa e eu comi tanto que me deu sono. Vou tirar um cochilo, vocês podem ir.

- Madame não deve dormir com os cabelos molhados e sem roupas.

Clara e Joana secaram seus longos cabelos e lhe vestiram uma camisola de seda branca e transparente. Heloísa queria pedir sua mala e pegar sua própria roupa de dormir, mas estava com tanto sono que mal conseguia manter os olhos abertos, enquanto as Aias a cuidavam. Ela simplesmente se jogou na cama opulenta que ocupava o meio do quarto e dormiu.

Seu sono foi agitado por sonhos do Sheik em seu Harém. A primeira impressão de Heloísa é que parecia estar em um conto de fadas, mas por causa de Hassan, o conto de fadas poderia virar um filme de terror!