Capítulo 4 Apenas Um Sorriso

Anya estava tendo um dia incomum.

Era o dia que seria sua folga, mas Diana, a outra funcionária da biblioteca havia ficado doente. Fora internada e sua suplente estava de férias na região das ilhas do trópico de capricórnio. Sua superior havia lhe pedido se poderia cumprir mais dois dias que seriam compensados na próxima semana e Anya aceitou. Afinal quem não gostaria de fazer pequenos passeios por outras bibliotecas antigas por quatro dias?

Mas logo que chegou encontrou um banheiro com problemas e teve que chamar um profissional responsável por isso. Problema resolvido, sentou-se em sua mesa e a digitalizadora deu problema bem quando foi imprimir um pedido de impressão de um livro para um professor de faculdade, que já estava pago há dois dias. A entrega seria prevista para daqui uma hora e ela tinha oitocentas páginas para imprimir. Então, ele chegou, o rapaz dos olhos díspares e ela chegou a se assustar com sua presença, foi uma total surpresa para ela reencontrá-lo e agora com mais esse problema. Pediu que Jason viesse trocar a mesa, foi desagradável como sempre que precisava dos serviços dele mas foi embora sem mais flerte desagradáveis. Pensava em ir a rapidamente a papelaria do outro lado da rua pois mesmo com as duas mesas digitalizadoras seria praticamente impossível terminar a tempo a impressão. Provável que faltasse umas cem páginas.

Teria que pedir que imprimissem a metade para garantir, por isso dividiu o arquivo em dois e esperou que o senhor Kavanaugh fosse para os fundos como era o comum que os estudantes, professores e visitantes fizessem para ler sem distrações mas ele resolveu sentar bem frente, próximo da sua mesa, onde ela podia vê-lo todo o tempo e onde ele poderia vê-la também. Atendê-lo foi uma experiência, como quando o encontrou pela primeira vez, uma surpresa de como sua pele se sentia ao tocar a dele. Passou todos esses dias tentando entender o que fora aquilo, pesquisou por todos os lugares, inclusive da deepweb e não encontrou nada a não ser bobagens sobre atração da vida ou alma gêmea e Anya era cética sobre pseudo ciência ou signos e religião. Não que fosse desrespeitosa já que religiões não eram mais praticadas por terem se tornado mais um meio de enriquecimento dos seus líderes que faziam as pessoas deixar de cuidar de sua saúde, incentivasse preconceitos absurdos e que faziam que pessoas matassem umas às outras, então quando essas práticas foram criminalizada e as igrejas e templos pararam de enriquecer, deixaram de ser lucrativas e foram se extinguindo por si só. As pessoas hoje em dia se juntavam em praças para ajudar as outras sem nenhum templo e as igrejas góticas ou prédios que era usados para templos foram automaticamente transformados em algo como local de estudos de arquitetura ou outras lojas.

Então ela não tinha nada para basear seus pensamentos e relegou eles ao fundo de sua mente... ou ao menos tentou, sem sucesso. Estava curiosa e resolveu inquirir Dash, pois ele havia inquirido se ela sentiu também. Mas o tempo havia passado, ela procurou por ele nos locais que pensou que ele iria, achou seu perfil em algumas páginas de redes sociais mas ficou com vergonha de perguntar, então sua coragem foi minando e ela pensou que nunca mais iria vê-lo. Mas queria, havia torcido por isso e agora, ela se perguntava se teria coragem de ir até ele, se não tinha coragem nem de olhar para trás. Estava estática vendo a máquina trabalhar, precisava levantar e avisá-lo que sairia apena por alguns minutos. Forçou-se corajosamente a se levantar, deu a volta no balcão e se aproximou dele. Ele estava debruçado nos livros e ao mesmo tempo em seu painel, virou rapidamente a cabeça ao vê-la caminhando até ele. Levantou.

- Anya.

- Eu, olá novamente senhor Kavanaugh, eu terei que me ausentar por alguns momentos, será bem rápido. Por favor se puder esperar que eu volte, caso tenha alguma dúvida. Estamos com a equipe desfalcada e não temos ninguém para ficar aqui enquanto faço algo importante.

- Ah, não se preocupe, pode fazer o que necessita. Se precisar de ajuda, só me avisar. Estou a seu dispor.

Ela o olhou com alívio.

- Obrigada. Volto logo.

Anya saiu rapidamente do grande salão da biblioteca e atravessou a rua.

Ele ficou apenas olhando para ela em pé, do mesmo jeito. Ela correu e entrou na papelaria, pediu a impressão, pagou e pediu que entregassem na biblioteca. Logo estava voltando para o prédio antigo em que trabalhava. Agradeceu Dash Kavanaugh com a cabeça e voltou ao trabalho, colocando as páginas em ordem para apenas encadernar e colocar a capa que já havia sido preparada e estava a espera das páginas. Ela olhou novamente em direção a Dash.

Ele se levantou e andou em direção ao balcão de atendimento. Os batimentos de Anya foram a mil por hora. Ele parou em frente a ela.

- Você poderia me dizer onde fica o livro de engenharia genética de Shauzieng, ele não consta na lista. Não sei se houve algum problema no sistema ou se ele está sendo usado.

- O livro de Shauzieng está sendo usado, então fica temporariamente fora da lista, mas se quiser você pode colocar seu nome na lista de espera, já que ele é muito requisitado ou adquirir um exemplar que pode ser impresso aqui mesmo, é o que estou fazendo no momento. Estou imprimindo exatamente este livro. O dono virá buscar daqui vinte minutos.

- Então eu quero fazer isso. Quando você terminar o seu trabalho com esta encadernação, me avise. Não quero te atrapalhar.

- Não me atrapalha. Eu irei terminar logo e já irei até sua mesa.

Ele olhou longamente nos olhos dela e ela enrubesceu. Sorriu para ela e ela se sentiu incendiar. Ficou ainda mais enrubescida e se sentou.

- Obrigado.

Ele saiu e voltou a mesa de estudo deixando ela trêmula e acalorada.

- O que é isso, o que está acontecendo comigo? - Ela sussurrou para si mesma. - Preciso apenas focar no trabalho. Isso.

Ela voltou a dobrar precisamente as páginas e logo que retirou as últimas páginas impressas, o rapaz da papelaria chegou para entregar o restante das páginas para ela. Todas já estavam dobradas e prontas para a encadernação, ela apenas passou para ver se estava tudo certo e terminou a encadernação. Embalou e colocou na sacola deixando pronto com o papel pedido de impressão. Notificou o comprador e esperou que ele viesse buscar. Caminhou até a mesa de Dash e o chamou.

- Pode me acompanhar por favor?

Ele se levantou e a seguiu. Preencheu o pedido de impressão e encadernação e entregou a tela para que ele autorizasse. Marcou para o dia seguinte a entrega e começou já a enviar o arquivo para impressão.

- Pronto senhor Kavanaugh, está imprimindo. A retirada é amanhã a partir das oito da manhã, qual o horário que o senhor prefere?

- Me chame de Dash, não há necessidade de me chamar de senhor. Eu acho um pouco estranho.

- Como quiser... Dash.

- Muito bom. Que hora você estará tranquila aqui? Eu não quero te deixar muito atarefada, então quando terminar a encadernação e estiver tudo pronto, me envie a notificação que virei. Combinado?

- Combinado.

- Obrigado Anya. - Outro sorriso devastador e pior ainda, depois de dizer seu nome. O som do seu nome na boca dele foi eletrizante para ela.