Capítulo 5 A Porta Secreta

Dash ficou observando Anya enquanto terminava de anotar suas conclusões.

Havia recebido previamente uma lista de locais de entrada de emergência ao mundo supra humano, uma delas se encontrava ali, naquela biblioteca. Ele esperaria ela se distrair e entraria na porta secreta, conheceria os responsáveis pela região e claro, já enviaria informações sobre sua busca e como estava sua vida pessoal e sua identidade.

Ouvindo sons de passos e sentindo um cheiro peculiar, Dash levantou a cabeça e olhou em direção ao balcão onde Anya estava. Um homem alto e forte, pele pálida, cabelos longos e negros, amarrados na nuca com um laço frouxo, se aproximava. Um vampiro. Era a primeira vez em duzentos anos que Dash via um. Ainda mais durante o dia, já que eles tinham hábitos noturnos. Eles andavam a luz do sol normalmente e viviam entre as pessoas antes da descoberta, apenas tinham preferências noturnas por causa da enorme velocidade que costumavam ter, e a falta de habilidades para controlar essa velocidade, quando jovens, aumentava a chance de aparecer ou desaparecer "magicamente" ao lado de alguém, quando corriam ou se teletransportavam para outro local, assustando as pessoas, coisa que na escuridão ficaria mais difícil de ver. Pelo jeito que ele andava, com movimentos controlados e até displicentes, era um vampiro antigo, com mais de oitocentos anos e estava se aproximando de Anya.

Atento à conversa, sua super audição se ampliou e focou em Anya.

- Boa tarde, encomendei um livro, vim retirá-lo. Meu nome é Alaric Zaro's

- Boa tarde senhor Alaric Zaro's. Seu livro está pronto. - Ela colocou a sacola em cima do balcão e apontou para a tela IA. - Iremos somente fazer a verificação de sua identidade, por favor.

Ele fez a identificação e ela mostrou a sacola para ele. - Pode verificar se está da forma que o senhor gostaria?

- Claro. - Ele respondeu e puxou o volume de dentro da sacola, sua satisfação em tocar no livro era aparentemente imensa pela forma que ele alisou a lombada e o cuidado que teve com a capa.

- É uma réplica inestimável. Muito bom trabalho o de vocês. Parece ser o original em todos os detalhes.

- Obrigada senhor, fico feliz que tenha gostado.

- Foi uma excelente compra senhorita Anya. Muito obrigado. Irei me acomodar na biblioteca para aproveitar e ler um pouco.

- Ah sim, fique a vontade senhor Zaro's.

Ele caminhou pela biblioteca, passou por Dash, o olhou e deu um sorrisinho e uma leve levantada de sobrancelhas, como em reconhecimento, Dash fez um sinal com a cabeça e olhou o vampiro sumindo por um dos corredores de livros.

Ouviu os passos de Anya e voltou sua atenção total à ela. Ela voltou a se sentar e continuou com o trabalho de encadernação. Muito quieta, seu coração acelerava e ela sempre segurava a respiração quando ele se movia e sua cadeira fazia barulho. Isso mostrava, que ela estava com a atenção voltada a ele, apesar da serenidade e precisão nos movimentos ao dobrar as folhas cuidadosamente e prendê-las uma a uma junto às outras.

Ele sabia que a necessidade dela, como sua companheira, iria aumentar com o tempo, mas ele queria que ela percebesse que se sentia atraída por ele, antes de que sua necessidade fosse totalmente desencadeada. Seria bem ruim se ela, quando soubesse o que ele era, o rejeitasse. Seria como a morte para ele. Nenhum lobisomem estava preparado para isso, já havia visto um dos seus definhar até morrer, quando a alcateia e a família da companheira a forçou a ficar com ele. Primeiro ele a submeteu a permanecer, mesmo sem nunca tê-la tocado, quando tentava, sempre aparecia com ferimentos horríveis, até que ele desistiu, a libertou, ela foi embora e ele foi morrendo aos poucos. E ela era uma loba, imagina uma humana. Ele não queria nem pensar nisso. Tinha que conquistá-la com carinho, amor e paciência. Ela era muito arredia, ele percebia qua apesar de sentir atração por ele havia o cheiro do medo. Mas não era somente dele que ela tinha medo, antes quando o vampiro e os outros dois rapazes se aproximaram dela mais cedo, ela também sentiu medo. Ele achava que alguém, algum homem, a havia ferido em algum momento da vida dela. Teria que averiguar isso, pediria a ajuda de seu amigo, Fiodor. Queria investigar qualquer coisa que envolvesse o nome dela. Enviou uma mensagem para Fiodor e pediu que entrasse em contato com ele. E já que teria que encontrar a porta para seu mundo, que estava em algum lugar ali, aproveitaria e falaria pessoalmente com alguns contatos importantes para sua permanência no mundo dos humanos, além de Fiodor.

Pensando nisso, resolveu que iria até a porta secreta localizada ali ao finalizar seus estudos. Continuou atento aos movimentos de Alya enquanto estudava. Ela estava sentada em uma mesa de escritório, dentro da área do balcão de atendimento, de costas para ele, a parte de dentro do balcão era toda feita em vidro transparente com alguns detalhes em madeira e arabescos dourados. Extremamente bonito. Mas o mais importante era que ele a via. Absorta, talentosa e precisa no trabalho de encadernação do livro que ele havia pedido a ela. Olhando seu perfil, quando ela virava levemente o rosto, ele notava os cílios longos, a sobrancelha arqueada, a forma arredondada do lábio inferior e a curva do superior e como ela sem saber mordia de leve o cantinho da boca fazendo ele desejar fazer o mesmo. Passou o restante do tempo entre observar Anya e escrever. As dezesseis horas, uma funcionária chegou, conversou com Anya e se sentou na mesa ao lado para começar seu turno de trabalho. Quando Anya se levantou e saiu do balcão em direção aos fundos da biblioteca, Dash viu a oportunidade de procurar a porta secreta. Arrumou suas coisas na mala e foi em direção ao do local indicado no mapa que recebeu. Andando pelas estantes de prateleiras gigantescas que iam do chão até o o teto, abarrotado de livros, ele chegou em frente à uma parede de pedras, com desenhos feitos com múltiplas cores representando uma clareira com um unicórnio ao meio, iluminado por uma luz solar. Era lindo e ele apertou o chifre e a pata esquerda do unicórnio. A parede se abriu e deslizou silenciosamente para dentro e ele recebeu em seu rosto uma brisa leve e aquecida que vinha de dentro da escuridão. Entrou e a porta fechou com um clique conforme ele a via deslizar. Quando se virou e olhou o que antes era apenas escuridão se iluminou ao clique da porta se fechando e ele viu escadas e mais escadas, umas se entrelaçando a outra, dentro de aum fosso profundo onde entre uma escada e outra se viam diversas portas e entradas de túneis. O local estava repleto de pessoas, supra humanos subindo e descendo as escadas, entrando e saindo das portas. Parecia um formigueiro em sua plena atividade. Em frente de uma das escadas, na plataforma em que ele estava, ele viu uma porta com uma sala aberta onde algumas pessoas estavam em seus balcões e ele julgou que fosse para atendimento. Se encaminhou até lá e cumprimentou o rapaz que ali estava.

- Olá, eu sou Dash Kavanaugh. Alfa dos Kavanaugh, gostaria de me reportar. Encontrei minha companheira.

- Olá senhor Kavanaugh. Sou Waldorf, um especialista em imigração e migração da área dos lagos, estávamos à sua espera, iríamos te enviar uma mensagem. O tenente Kodari aqui - ele apontou para o rapaz louro de orelhas pontudas ao lado dele. - Ele irá te informar algumas coisas importantes.

- Boa noite senhor Kavanaugh, Kodari. - estendeu a mão cumprimentando Dash que deu a sua. - Temos um problema, alguns de um dos clãs de caça aos humanos estão na cidade. Estamos em alerta pois ficamos sabendo que eles vão tentar descobrir o que está acontecendo para que enviassem tantos supra para cá. Achamos que sabem que você e mais alguns vieram procurar por suas companheiras e temos medo de que eles ataquem e matem suas humanas. Temos um infiltrado lá, estamos tentando tirar o máximo de informações dele.

- Matar minha companheira? - ele rosnou, a voz retumbando no ambiente. - Não vai acontecer. Quero ser informado de tudo. De todos os menores detalhes. Quem são, onde estão, ou onde foram vistos, qualquer coisa. Protegerei minha companheira pessoalmente. Um vampiro está na biblioteca, Alaric Zaro's. Conhecem ele, é seguro?

- Sim, é dos nossos. É um reforço, pode contar com ele. Vamos te colocar em contato com o grupo que está na cidade. Temos que trabalhar juntos para protegê-las. - Falou o tenente Kodari.

- OK, fico satisfeito.

- Fora isso senhor Dash este é um ponto de encontro para nosso grupo, todas as vezes que receber um chamado será aqui, na sala mil duzentos e trinta, do andar acima deste. Terá que comparecer. - informou Waldorf.

- Sim, eu já sabia sobre isso. Eu concordei. É primordial para o sucesso da nossa missão.

- Ok senhor, vamos apenas ficar de olhos abertos, e farejar o máximo possível.

- Estarei atento. Essas informações mudaram as coisas.

- Sim senhor, sentimos muito. - disse o tenente Kodari.

Dash se despediu deles e foi em direção a porta por onde entrou. Quando abriu deu de cara com Anya que o olhava boquiaberta com os olhos arregalados. Droga. Agora, o que ele faria?