No terceiro dia fui falar com ele.
-Ainda vivo? - perguntei ao vê-lo praticamente caído no chão e de olhos fechados.
O tal príncipe elfo não parecia mais tão principesco naquele momento. Estava um pouco sujo, com olhar cansado e com os cabelos bagunçados.
Seus olhos se abriram e encontraram os meus por um instante, mas eu desviei o olhar, ainda um pouco traumatizada pelo que havia acontecido durante a batalha.
- Está um pouco mais falante hoje, eu espero... - provoquei esperando alguma reação. - Vai me dizer onde está o rei e onde está a Pérola do Mar?
- Eu sou o rei. - ele disse numa voz baixa e grave - E não vou lhe dizer nada sobre a Pedra da Lua.
Lembrei-me então de que os elfos chamavam a Pérola do Mar por outro nome, mas para mim o nome não fazia a menor diferença, o importante era que eu a encontrasse.
- Ah... Você fala! - exclamei irônica - Quase pensei que fosse mudo. O que aconteceu com o seu pai?
Ele não respondeu. Deduzi que o antigo rei havia morrido, mas era estranho que eu não havia sido informada disso. Talvez ninguém soubesse ainda, ou talvez ele estivesse tentando me enganar.
- Onde está a pedra? - perguntei de novo.
Mais silêncio.
Eu não queria, mas teria que apelar para o plano B e se isso não funcionasse... Digamos que eu tinha uma estratégia mais extrema que gostaria de não usar.
Labaredas de fogo se formaram em minhas mãos e eu o encarei.
- Creio que se você não falar por bem eu terei que força-lo. - ameacei - Você já está bastante fraco e desidratado... Quer mesmo que eu faça isso?
Mais uma vez ele se manteve em silencio e sustentou o meu olhar, me deixando desconfortável.
Parecia que ele não se importava em morrer. Talvez ele até quisesse isso, não havia como saber.
- Certo... - apaguei o fogo e resmunguei em voz baixa e então me virei para o meu guarda que estava mais a frente no corredor. - Mande trazerem a menina.
O olhar do príncipe/rei transpareceu medo por um instante e depois ele voltou a me encarar com a expressão vazia.
Meu guarda saiu e depois de alguns minutos trouxe uma garota, uma criança de cabelos negros e olhos brancos.
- Não encontrei a sua irmã. - expliquei - Alias, não encontramos ninguém da sua família. Mas acredito que esta garota pode servir ao nosso proposito.
Esperei que ele demonstrasse alguma fraqueza, qualquer coisa, mas ele permaneceu imóvel.
Peguei a criança pelo braço, trazendo-a para perto de mim e segurei firme em seu pulso. A pequena menina começou a soluçar e eu tive pena dela, mesmo sendo uma elfa. Mantive a expressão neutra e fiz uma pequena chama com a minha mão livre.
- Você ainda não vai dizer nada? - perguntei segurando a mão da menina perigosamente perto do fogo, fazendo-a chorar e se debater.
Mantive a mão bem firme em volta de seu pulso e aproximei a chama um pouco mais.
O elfo trincou os dentes enquanto a menina chorava ainda mais, implorando para que eu a soltasse. Bem que eu queria.
Aproximei mais o fogo, começando a queimar a mão da garota que gritava de dor e esperneava, tornando ainda mais difícil segurá-la.
Eu queria parar, mas o maldito elfo apenas me encarava com os dentes trincados.
- Pare! - ele gritou de repente.
Soltei a garota e ela caiu no chão chorando e segurando a própria mão machucada.
Respirei fundo ao perceber que havia prendido a respiração todo aquele tempo.
- Vai falar agora? - perguntei tentando manter a pose.
- Por que quer tanto essa pedra afinal? - ele questionou.
Fiquei tensa. Eu não poderia dizer. Ele provavelmente me acharia boba e fraca.
- Não é da sua conta. -respondi - Apenas me diga onde ela está.
- Vou te dizer quando você me responder. - ele retrucou.
Ri.
- Acha mesmo que está em posição de negociar?
- Se você realmente quer a pedra, então eu estou sim. - ele respondeu - Me diga o que fará com ela e eu te digo onde encontrá-la. Não quero que machuque a garota, mas eu tenho preocupações muito maiores do que apenas ela.
- Como o que? - eu quis saber.
- O reino inteiro? - ele disse quase como se fosse uma pergunta - Minha família...
- E você acha que vão ficar felizes com você se souberem que me deixou machucar essa pobre garotinha?
- Não preciso que fiquem felizes comigo. - ele disse numa voz fria - Só preciso que fiquem bem.
Ponderei por um momento e analisei a situação.
- Tudo bem. - respondi por fim e me voltei ao guarda mais uma vez - Leve a garota daqui e mande tratarem do ferimento dela.
O guarda acenou com a cabeça e pegou a menina pelo braço de maneira um pouco mais bruta do que eu gostaria.
Voltei a minha atenção para o elfo.
- Você quer saber qual é o meu interesse na pedra? Pois bem... Eu a quero porque vou usá-la para trazer minha mãe de volta.
Ele franziu o cenho.
- Trazer de volta... Dos mortos? - ele perguntou.
- Exato. - respondi.
Ele balançou a cabeça.
- Isso não é possível...
- Pouco me importo se você acha isso possível ou não. - interrompi - Apenas me diga onde ela está.
O elfo soltou um suspiro.
- Tudo bem. Vou precisar de um mapa.