- Para acompanhar na viagem. - expliquei - A Pérola do Mar está em posse dos irmãos mais novos do rei Aibek, que fugiram dias antes da nossa batalha. Eles estão escondidos perto das ilhas dos sereianos e não confiarão em nós. Teremos que enviar um elfo para que o príncipe e a princesa não tentem lutar e entreguem a pedra por vontade própria, afinal uma das condições do rei Aibek para nos dar a pedra é que seus irmãos não sejam feridos.
Ainda me era estranho chamar o tal jovem elfo de rei, ele devia ter a minha idade, talvez até um pouco mais velho, porém eu ainda tinha em minha cabeça a imagem do rei que meu pai havia descrito como um homem velho de cabelos brancos, o antigo rei, pai de Aibek.
- E qual é a diferença? - perguntou Ulrick - Se encontrarmos eles podemos simplesmente pegar a pedra a força e seguir em frente. São apenas crianças, não são? Podemos mandar soldados atrás deles para pegarmos a pedra e o que acontecer com eles pouco nos importa. De qualquer modo serão dois elfos a menos.
Soltei um suspiro. Eu já sabia que a reação dele poderia ser essa. Ulrick era um general muito competente, mas sua mente já havia se acostumado à guerra e para ele os elfos não passavam de inimigos.
- Eu dei minha palavra e por isso importa. Quero que os guardas tragam os príncipes de volta em segurança junto com a pedra. Estamos entendidos?
Pela expressão de UIrick estava óbvio que ele não concordava, mas ele não iria contestar, era submisso demais para isso...
- Como quiser majestade. - ele respondeu um tempo depois.
- Ótimo. - respondi - Pegaremos uma carruagem real dos elfos emprestada para a viagem, assim como algumas provisões. O rei Aibek já escolheu um de seus guardas para ir, ele se chama Robrihn e já está pronto para partir. Quero que você escolha os outros três e que deixe bem claro para eles qual será a missão.
- Sim majestade. - Ulrick respondeu com um aceno de cabeça.
Acenei de volta e saí da sala.
...
Eu estava um pouco nervosa, pois precisava que tudo saísse como o planejado. As chances de meus guardas encontrarem o príncipe e a princesa e também a pedra eram pequenas demais para o meu gosto, afinal o rei Aibek poderia ter mentido, ou seus irmãos poderiam ter ido para outro lugar diferente do planejado, até onde eu sabia as duas crianças poderiam até já ter morrido nas garras de algum monstro qualquer no meio da floresta. Havia sido burrice enviar duas crianças numa viagem dessas só para proteger a pedra, mesmo que elas tivessem magia. E ainda havia a possibilidade de as crianças tentarem fugir e meus guardas acabarem por machucá-las. Por isso mesmo eu estava analisando a possibilidade de enviar meu dragão para observá-los de perto durante a viagem, mesmo que isso me deixasse um pouco desconfortável.
Andei de um lado para o outro para tentar me acalmar e também para tentar me aquecer daquele maldito frio que fazia ali.
Meu corpo era acostumado às temperaturas altas e os elfos viviam na parte mais gelada do continente, o que, para mim, fazia com que o castelo parecesse feito de puro gelo e nem mesmo as peles que eu havia trazido pareciam o suficiente para me esquentar, até porque eu nem mesmo gostava de usá-las, pois eram incômodas demais e pesavam. Sempre preferi meu corpo com o mínimo de roupa possível, pois isso me deixava mais leve e mais ágil, e mesmo as minhas armaduras tinham que ser leves, afinal a velocidade e a agilidade eram fatores muito importantes numa batalha e também com a minha habilidade de fogo, me vestir demais era sinônimo de ter muitas roupas queimadas.
Me cansei de não fazer nada e resolvi andar pelo castelo, talvez encontrar algo de útil, afinal os elfos ainda não eram confiáveis então qualquer informação que eu pudesse descobrir sobre eles me ajudaria, e informações sobre a pedra me ajudariam ainda mais.
O castelo dos elfos era modesto, com paredes lisas, como se fossem feitas em granito na cor creme bem clara, quase brancas.
Havia poucos moveis e poucos ornamentos. Cada coisa parecia estar exatamente onde precisava estar.
Encontrei um escritório, onde havia apenas uma mesa branca com cadeira também branca, uma estante repleta de livros e mais um punhado de livros, mapas e cadernos espalhados sobre a mesa. Parecia o lugar perfeito para encontrar informações.
Comecei a vasculhar entre os papeis tentando encontrar alguma coisa qualquer que chamasse a minha atenção.
Observei que os mapas eram do local onde a batalha havia acontecido e os livros pareciam falar justamente daquilo que eu queria saber.
Me sentei e peguei um dos livros nas mãos, folheando-o, mas não consegui entendê-lo, pois estava escrito na língua secreta dos elfos, uma língua que eles haviam criado apenas para e escrita, com símbolos esquisitos que só eles usavam.
Me senti frustrada e peguei outro livro, que possuía uma grande lua crescente desenhada em sua capa. Havia mais alguns desenhos dentro do livro, desenhos das fases da lua, de pessoas com suas mentes ligadas através de fios e de pedras, As Pedras! Infelizmente ele também estava ilegível.
Foi nesse momento que reparei em um caderno interessante, com uma capa em couro marrom sem nenhum adorno, com apenas um tipo de linha em volta para mantê-lo fechado.
Abri o tal caderno e fiquei feliz ao reconhecer as letras dentro dele, porém o texto continuava sendo incompreensível, pois falava de coisas que eu não entendia muito bem, como absorção de energia, transmutação, mente compartilhada e controle mental. Era um tipo de estudo completo desses assuntos, com uso de palavras muito técnicas e que me deixaram até mesmo um pouco assustada. Se os elfos possuíam esse tipo de magia, então eram ainda mais poderosos do que eu imaginava.
Eu poderia usar aquelas informações, mas primeiro eu teria que entendê-las e para isso eu precisaria da ajuda de alguém que provavelmente não iria querer me ajudar.
Fiquei mais um tempo analisando a possibilidade e vasculhando os vários papeis que ali estavam. Tudo aquilo poderia ser muito útil para a minha missão e era tentador demais para que eu simplesmente os ignorasse.
Me levantei e fui em direção às celas do castelo, no subsolo. Eu precisava tentar...
Encontrei o rei Aibek sentado ao chão de sua cela, com os joelhos encolhidos contra o corpo e a cabeça apoiada sobre eles, com os olhos fechados.
- Confortável? - eu perguntei.
Os olhos dele se abriram e encontraram os meus, me fazendo desviar o olhar mais uma vez, sempre incomodada com aquela íris acinzentada e congelante que ele possuía.
Eu sabia que as algemas impediam o uso de seus poderes, mas isso não diminuía o receio que eu sentia quando estava perto dele, principalmente depois de ter lido aquele caderno.
- Quero fazer mais um acordo com você. - eu falei sem rodeios - Quero sua ajuda com algo.
Aibek inclinou a cabeça para o lado e me encarou esperando uma explicação melhor.
Hesitei por um momento, quase me arrependendo de ter ido até ali.
- Eu encontrei alguns livros em um escritório aqui do seu castelo. - expliquei - Você me ajudaria a entender o que está escrito neles?
- Já que é uma negociação... O que eu ganho com isso? - ele perguntou.
- Posso te tirar dessa cela. - eu respondi - Poderia ficar mais confortável em um quarto, não acha?
- No meu quarto? - ele perguntou.
- O seu quarto está sendo usado por mim agora. - eu respondi simplesmente.
Ele sorriu.
- Tudo bem, me contento com um quarto qualquer. Uma cama continua sendo uma cama. Mas... O que mais eu ganho?
- Isso já não é o suficiente? Eu já prometi que não vou machucar seus irmãos e que vou embora assim que conseguir a pedra... O que mais você quer?
Ele levantou os pulsos e arqueou as sobrancelhas.
Ri e balancei a cabeça.
- Você acha que eu sou idiota? - perguntei.
Ele ergueu os ombros.
Soltei um suspiro.
- Eu não vou tirar essas algemas. - respondi decidida - Vou apenas te oferecer um quarto. Vai querer ou não?