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Parte 4

Vinha muito ali para visitar a família. Agora só um dos irmãos ainda morava com os pais.

As lembranças voltaram e se recordou de quando era criança e desejava muito poder ter uma vida mais solta, mais confortável. O salário do pai era bom, mas não o suficiente para bancar a vida que ele queria e saírem do pequeno apartamento nos arredores de Londres.

O bairro não era ruim, porém não era dos melhores também e quando começou a estudar em uma escola particular com uma bolsa que a mãe conseguiu, ele passou a ver a diferença entre os alunos.

Sempre tinha facilidade de fazer amigos e logo estava frequentando as casas dos ricos e pegou gosto por coisas boas.

No começo pensou em ser bailarino porque amava dançar, mas o pai foi contra porque dizia que era coisa de meninas e um rapaz que dançava era visto como homossexual. Como se isso fosse problema ou errado.

Porém a pressão foi grande em casa e também nos estúdios de dança. Conseguiu alguns testes, mas nenhum deles para papel principal.

Começou a praticar futebol na escola e estava até indo bem, tinha talento para o esporte e prometia, mas acabou machucando o joelho em uma partida e o treinador teve a mesma opinião que o médico que o operou, deveria desistir porque o joelho não voltaria a ser como antes. Para um jogador profissional era sim importante.

Tentou aulas de teatro e acabou desistindo porque só lhe davam papéis de italiano por causa de sua aparência e mesmo fazendo teste para outros personagens nunca conseguia emplacar.

Precisando de dinheiro para pagar seus gastos ele começou a trabalhar como assistente em uma rede de televisão local e começou a aprender como funcionavam as coisas. Ficou ligado nas conversas sobre negócios interessantes, quando os mais velhos conversavam por perto.

Um dia em casa ele começou uma brincadeira com os irmãos, imitando um comediante que fazia muito sucesso em Londres e o pai gravou tudo sem ele saber.

Acabou em uma conversa mostrando a gravação aos amigos em uma hora de folga e um dos diretores do canal passou e os viu rindo e parou para saber do que se tratava. Gostou e o colocou como coadjuvante e assistente do apresentador da manhã.

A partir daí sua carreira decolou e quando tiveram que substituir o antigo apresentador por aposentadoria ele foi o nome escolhido. Já tinha fama e sucesso. As pessoas já o conheciam e gostavam dele por seu jeito diferente e aparência.

Agora era o contrário. Tudo em sua aparência agradava aos produtores e mais ainda ao público. Começou uma escalada de sucesso que atraía muitas mulheres. Lyane focou nele e partiu pra cima em sua ideia ambiciosa de sair da vida comum que levava, o que não era errado. Ele também havia feito o mesmo.

O erro dela foi usar a confiança dos outros e enganar para ter o que queria. Não percebera isso antes porque estava encantado com sua aparência e não prestava atenção que a maioria das coisas que fazia ou dizia, eram apenas para que ele acreditasse que seu interesse era nele e não em seu status social.

Foi péssimo só notar isso depois de casados. Mas o prejuízo foi menor do que seria se não tivesse se acordado. Ao menos pôde se livrar dela com apenas um ano de casados.

Ainda dava raiva de lembrar que tivera de deixar um apartamento de luxo para ela. Foi até menos do que ela havia pedido, mas conseguira provar três de seus casos e o juiz ficou ao seu lado, permitindo apenas que ficasse com o apartamento onde moravam. No mesmo dia ele saiu e tirou tudo que era dele. Não queria mais nem um minuto perto dela.

Ficou preocupado com a segurança de sua saúde e fez uma bateria de exames, inclusive de AIDS. E repetia a cada seis meses com pavor de ter pegado algo por causa do comportamento dela. Só agora estava tranquilo com relação a isso.

Aos poucos foi voltando ao normal e mudou algumas coisas em sua vida, na esperança de seguir novos caminhos e esquecer a parte ruim de seu passado.

Comprou uma casa fora de Londres e se forçou a gostar de viver longe do agito do grande centro. Cortou o cabelo que era comprido e comprou sua primeira Ferrari deixando de lado as motos. Foi ficando mais organizado e o dinheiro foi aumentando, engordando sua conta.

Um dia estava chegando na casa de Paul e Amanda estava saindo. Quando o viu disse logo:

- Pronto, o playboy se assumiu de vez! - riu - Ele agora anda de Ferrari. Milagre que não seja vermelha - gesticulou para o alto.

Ele travou e não conseguiu dar uma resposta adequada.

- Você também dirige uma.

Ele parecia um imbecil falando.

- Verdade! - sorriu e abriu a porta da Ferrari branca - Mas eu sou chique e tenho classe - disse de modo superior, erguendo a sobrancelha - Você é só um moleque mal criado.

Ela se afastou e o deixou plantado com cara de tolo ao lado do amigo que não parava de rir.

Quase todos os encontros com ela começavam ou terminavam assim. Eram raras as vezes que eles passavam momentos sem ter um perrengue ou briga. E ele gostava muito desses dias de trégua.

Finalmente viu ao longe a casa branquinha de telhado vermelho e sorriu.

Ali ele tinha certeza de que era amado de verdade e era tudo o que ele queria.

Autora Ninha Cardoso.